Citado em supostos diálogos de procuradores da Lava-Jato revelados nesta terça-feira (6), o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, afirmou que já está na hora de a Procuradoria tomar providências sobre o caso.
— Eu acho que está na hora de a Procuradoria tomar providências em relação a isso. Tudo indica, à medida que os fatos vão sendo revelados, que nós tínhamos uma organização criminosa para investigar. Portanto, eles (procuradores) partem de ilações absolutamente irresponsáveis — disse o magistrado.
O ministro, no entanto, não deixou claro se era uma cobrança à procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
Segundo reportagem do site El País, com base em mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil, procuradores da Operação Lava-Jato em Curitiba, liderados por Deltan Dallagnol, planejaram coletar dados e informações sobre Gilmar Mendes com o objetivo de pedirem sua suspeição ou até seu impeachment.
Ao chegar para a sessão da Segunda Turma do STF na tarde desta terça, o ministro comentou a reportagem ao ser questionado por jornalistas.
— A mim me parece que isso é revelação de um quadro de desmando completo. Revela a gestão da PGR (Procuradoria-Geral da República), e certamente vamos ter ainda surpresas muito mais desagradáveis. Temos que reconhecer que as organizações Tabajara estavam comandando também esse grupo (de investigadores) — disse.
Desde antes do vazamento das mensagens, Gilmar Mendes tem sido um contumaz crítico da forma de atuação do Ministério Público Federal. O ministro voltou a dizer que o país está diante da maior crise em seu aparato judicial desde a redemocratização, o que tem comprometido o Ministério Público e a Justiça Federal.
Perguntado sobre se as revelações contaminam a gestão da procuradora-geral, Raquel Dodge, o ministro respondeu que não, mas acrescentou:
— Eu acho que há um grave problema de gestão (no Ministério Público Federal), sem dúvida nenhuma, que isso está revelando.
O Supremo recebeu nesta segunda-feira (5), por determinação do ministro Alexandre de Moraes, cópia do inquérito da Polícia Federal que investiga quatro suspeitos de terem hackeado contas de Telegram de autoridades, entre elas o ministro da Justiça, Sergio Moro, e o procurador Deltan Dallagnol.
Questionado por jornalistas, Moraes disse que o próximo passo é ler o inquérito. O ministro recebeu cópia da investigação da PF no âmbito de um inquérito, presidido por ele, aberto pelo STF para apurar fake news, ameaças e ofensas a integrantes da corte.
Na semana passada, a Folha de S.Paulo noticiou que Dodge tem sido pressionada a tomar medidas para afastar Deltan do comando da força-tarefa em Curitiba. Em nota após a publicação da reportagem, a procuradora-geral negou ser alvo de pressão.