Descontentes com a demora da procuradora-geral da República Raquel Dodge em atender as demandas da força-tarefa da Operação Lava-Jato, procuradores fizeram críticas a ela em supostos chats privados revelados pelo site El País Brasil nesta sexta-feira (9). Em um deles, o coordenador da força-tarefa, Deltan Dallagnol, falou que um dos caminhos era "pressionar usando imprensa em off", "de modo mais agressivo", de acordo com as mensagens.
A irritação dos procuradores tinha relação com a delação do empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS. O acordo de delação premiada de Léo Pinheiro envolve autoridades com foro privilegiado, e por isso precisaria passar pelo aval de Dodge. O acordo foi assinado em dezembro de 2018, mas Dodge ainda não o enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Em junho de 2018, antes da assinatura do acordo, uma das supostas trocas de mensagens mostra o procurador Atahyde Costa perguntando aos seus colegas, no grupo "OAS-Curitiba-Acordo": "Russia acabou de perguntar se evoluiu LP". O codinome de Moro nos chats dos procuradores é "russo".
Então, os chats mostram os procuradores falando sobre as datas em que Raquel Dodge sairia de férias (entre 3 e 17 de julho de 2018) e a procuradora da República Jerusa Vieceli falando que "Brasilia precisa resolver nossas pendências". No dia seguinte, mensagens atribuídas ao coordenador da força-tarefa Deltan Dallagnol afirmam:
"Temos opções a) pressionar usando imprensa em off - vi que saiu algo, mas foram advogados - podemos pressionar de modo mais agressivo pela imprensa, subindo nível de críticas b) fazer, interpretando regra de foro para excluir mandatos anteriores e o que fugir disso mandamos para ela (teríamos que falar com JF - se concordar, OK; do contrário, podemos até fazer sem concordância, ele remeterá para o STF e voltamos a A, mas sabemos que não teremos boa vontade) c) dar deadline pra resposta dela ou d) aguardar (sem reclamar rsrsrs). Eu voto tudo menos D kkk. Se for para esperar, melhor adorar o A (pressionar a imprensa) logo, senão ela sai de férias e nada..."
Além disso, procuradores teriam reclamado em diálogos da postura de Raquel Dodge em relação à força-tarefa. Em março deste ano, ela foi ao STF pedir a anulação do acordo firmado de procuradores com autoridades norte-americanas, que criaria uma fundação de R$ 2,5 bilhões com dinheiro que fora antes desviado da Petrobras."O barraco tem nome e sobrenome: Raquel Dodge", teria dito o procurador Januário Paludo sobre o tema, criticando a decisão de Dodge de minar a fundação.
À reportagem do El País Brasil, a assessoria de imprensa da PGR afirmou que "não se manifesta acerca de material de origem ilícita" ou sobre acordos de delação, "que possuem caráter sigiloso".
A força-tarefa da Lava Jato também afirmou ao site El País Brasil que não faria comentários. Em outras ocasiões, disse que "não reconhece as mensagens que têm sido atribuídas a seus integrantes nas últimas semanas. O material é oriundo de crime cibernético e tem sido usado, editado ou fora de contexto, para embasar acusações e distorções que não correspondem à realidade".