O presidente Jair Bolsonaro confirmou nesta sexta-feira (9) que pretende transferir o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), hoje vinculado ao Ministério da Economia, para o Banco Central.
— O que nós pretendemos é tirar o Coaf do jogo político — afirmou Bolsonaro. — Vincular ao Banco Central, aí acaba (o jogo político) — ressaltou.
A declaração foi dada ao lado do ministro da Justiça, Sergio Moro, no Palácio do Alvorada. O encontro entre os dois não estava previsto na agenda oficial do presidente. Segundo o presidente, "o Coaf, porventura caso vá para o Banco Central, vai fazer o seu trabalho sem qualquer suspeição de favorecimento político".
Bolsonaro afirmou ainda que a permanência do presidente do Coaf, Roberto Leonel, não está garantida se a mudança para o BC se confirmar. E indicou que o órgão pode mudar de nome.
— Se vai ser o Banco Central, quem vai decidir é o Roberto Campos (presidente do BC). Agora, o que parece que ele pretende é ter um quadro efetivo do Coaf, que mudaria de nome inclusive — afirmou o presidente.
A mudança para o BC já havia sido indicada pelo ministro Paulo Guedes. A ideia, segundo ele, seria dar celeridade ao projeto que dá autonomia ao Banco Central e, com isso, garantir uma "blindagem política ao Coaf". A aliados ele tem dito que o órgão é atualmente alvo de uma "guerra entre instituições".
De um lado, vê uma pressão popular pela investigação da classe política e representantes dos demais Poderes. De outro, uma reação das instituições, manifestada por decisões recentes do Supremo Tribunal Federal (STF) e por parlamentares da "velha política" que se queixam de perseguição.
Como mostrou a Folha, o ministro da Economia vem sendo pressionado pelo Palácio do Planalto, com anuência de Jair Bolsonaro, a demitir o presidente do Coaf, Roberto Leonel, aliado de Moro.
Segundo auxiliares, Bolsonaro está incomodado com o comportamento do comando do Coaf em relação à decisão do presidente do STF, ministro Dias Toffoli, de suspender investigações criminais pelo país que usem dados detalhados de órgãos de controle -como Coaf, Receita Federal e Banco Central- sem autorização judicial.
Toffoli atendeu a um pedido da defesa do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente, alvo de investigação realizada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.
Na noite de quarta (7), após reunião com o chefe do Coaf, Guedes disse que "cabeça pode rolar", mas que ele buscava uma solução institucional para o órgão. Na ocasião, sem dar detalhes, o ministro disse que poderia ser feito um ajuste de estrutura. Ele afirmou estar dialogando com outros Poderes e que esperava apresentar uma solução para o caso até a próxima semana.
Na entrevista desta sexta, Bolsonaro disse que as mudanças em curso no Coaf não representam um desgaste para Moro.