O procurador da República e chefe da força-tarefa da Operação Lava-Jato, Deltan Dallagnol, afirmou nesta sexta-feira (26) que um hacker teria simulado um número fixo do Supremo Tribunal Federal (STF) para fazer ligações para seu celular, e então acessar dados do aparelho.
Deltan afirmou ainda que tem consciência de que o telefonema recebido não tem relação com STF e que se tratou de uma máscara aplicada pelo hacker. Na interpretação do procurador, a ação tinha como objetivo "jogar instituições contra instituições".
— Quando foram feitas ligações para hackear membros da força-tarefa (da Lava-Jato), o hacker usou como máscara um número do STF. Um telefone fixo. A gente jogou na internet e descobriu que era do STF. Não sei se era de gabinete específico. Eu lembro que a gente recebeu uma das ligações com um número que correspondia a um número do Supremo — disse Deltan em entrevista ao programa Gaúcha+ na tarde desta sexta.
Ouça a íntegra da entrevista
Ainda segundo o procurador, ele compreendeu que estava sendo hackeado em abril, após perceber que havia sessões ativas em computador do aplicativo Telegram. Ele admite que, com isso, mensagens pessoais dele foram obtidas.
— Eu soube no final de abril deste ano (que meu celular estava hackeado). Soube porque recebi ligações de madrugada e depois do terceiro dia desconfiei, fui olhar as sessões ativas do Telegram, vi que tinham sessões ativas que não eram minhas e derrubei essas sessões. Algumas mensagens foram obtidas, a gente não sabe a extensão. O que a gente questiona é se as mensagens apresentadas são verídicas — destacou.
Palestras
O procurador ainda afirmou que, quando vendeu o seu serviço de palestras para a Neoway ainda não sabia que a empresa estava implicada na Lava-Jato. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o nome da empresa de tecnologia foi mencionado nos documentos da delação já em março de 2016.
De acordo com ele, assim que soube dos fatos, informou a corregedoria e, quando a investigação sobre a companhia chegou a Curitiba, se declarou impedido de participar das investigações.
— Nesse caso específico dessa empresa, fiz a palestre no início de 2018. Metade de 2018, (entre) junho e julho, eu fui informado que havia um acordo de colaboração em negociação da PGR que mencionava essa empresa. Assim que tomei conhecimento informei todos os colegas daqui que eu tinha feito essa palestra remunerada, que não poderia atuar nesse caso, na hipótese de vir para Curitiba. Essa negociação seguiu sem a minha participação, foi fechada, homologada, e, agora no final de maio de 2019, o STF mandou a investigação dessa empresa. E assim que caiu aqui, me declarei suspeito. Me declarei impedido de atuar nesse caso por vislumbrar um potencial conflito de interesses. E ainda por cima comuniquei a corregedoria.
Deltan disse ainda que, antes de aceitar os convites para conceder palestras, sejam elas gratuitas ou cobradas, checa se as empresas e patrocinadores têm envolvimento nas investigações da Lava-Jato.
— Sempre tenho cuidado para evitar situações de conflito de interesse e no único caso em que isso existiu até hoje, antes de vir a público as supostas mensagens, espontaneamente informei todos os colegas, me declarei suspeito, impedido e informei a Corregedoria — reforçou.
Evitando confirmar os valores que ele cobra por palestra, Deltan apontou que a maior parte delas é oferecida gratuitamente e “beneficia a comunidade” por tratar de “coisas boas, combate à corrupção, cidadania, integridade”.
— Vamos lembrar que essa atividade é privada. Essa atividade de prestar aulas e palestras remuneradas é privada — reforçou.
O procurador ainda negou que faça parte do grupo de autoridades para as quais o ministro Sergio Moro telefonou avisando a respeito de provas colhidas durante investigação sobre hackeamentos. A atuação de Moro nesse caso tem sido alvo de fortes críticas por parte de operadores do direito, incluindo o ministro do STF Marco Aurélio Mello, o ex-ministro do STJ Gilson Dipp e o presidente da OAB Felipe Santa Cruz. Questionado se a postura de Moro foi inadequada, Deltan disse que não se manifestará sobre o assunto:
— Não vou me manifestar sobre nada dessa investigação. Não atuo como procurador nem sou uma pessoa de fora. Como sou vítima, não vou me manifestar.