Ministro aposentado Superior Tribunal de Justiça (STJ), Gilson Dipp chamou de "autoritarismo" o ato do ministro da Justiça Sergio Moro de avisar autoridades vítimas de hackers que suas mensagens capturadas seriam destruídas.
—Isso aí é um autoritarismo em nome da proteção de autoridades. O Ministério da Justiça está atuando como investigador, como acusador e como próprio juiz ao mandar destruir provas, se é que isso é verdade. Eu não estou acreditando ainda — disse Dipp.
Moro fez telefonemas na tarde desta quinta-feira (25) para avisar autoridades vítimas de hackers que as mensagens capturadas pelo grupo preso pela Polícia Federal (PF) serão destruídas. Mais tarde, a PF afirmou, por meio de nota, que a caberá à Justiça, "em momento oportuno, definir o destino do material" apreendido na terça-feira (23) com suspeitos de agirem como hackers.
Entre os que receberam ligações do ministro está o presidente do STJ, João Otávio Noronha, que disse ter sido informado pelo próprio chefe da Justiça. A comunicação foi confirmada pela assessoria de Moro.
Dipp diz que a destruição do material só pode ocorrer após determinação judicial e defendeu a abertura de um inquérito para apurar o caso antes que isso seja feito.
Para ele, Moro dizer a autoridades que vai se desfazer do material coletado pelos hackers "chega a ser ingenuidade". Dipp vê no descarte do material um prejuízo para as investigações e para a defesa dos acusados.
— Estamos vivendo num país surreal. Antes o STF acusava e julgava, agora eu estou vendo que o Ministério da Justiça está fazendo isso também. As instituições brasileiras estão altamente vulneráveis e por atos arbitrários, seja quem for os que praticam. É estarrecedor — afirmou.
Sem citar exemplos, Dipp chamou a declaração de Moro de "nuvem de fumaça" e "autoproteção" para encobrir acontecimentos que "talvez não se queiram que venham à tona". O ministro da Justiça está entre as autoridades que foram alvo da ação de hackers.
Dipp foi um dos grandes incentivadores da carreira de Moro e criador das varas especializadas em lavagem de dinheiro. Antes de assumir a Justiça, o ministro atuou como juiz titular da 13ª vara federal de Curitiba na Lava Jato.
Foi ele quem indicou o ministro para trabalhar como juiz auxiliar da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), no julgamento do mensalão, em 2012.