Os dois dias seguintes à prisão das quatro pessoas acusadas de hackear os celulares da cúpula da República, de integrantes da força-tarefa da Lava-Jato e de jornalistas foram pródigos em novidades, mas faltam muitas peças para montar o quebra-cabeça.
O autor confesso da invasão, Walter Delgatti Neto, disse à Polícia Federal que foi ele quem repassou ao jornalista Glenn Greenwald as mensagens que vêm sendo publicadas desde 9 de junho pelo site The Intercept Brasil. Em seu depoimento, Delgatti garantiu que repassou o pacote de forma anônima, voluntária e sem cobrança financeira.
Qual é a credibilidade de um homem com longo histórico de estelionato? A Polícia Federal ainda está juntando as peças. Nem todas se encaixam, porque é preciso cruzar dados, datas, perícias e depoimentos, coisa que não se faz da noite para o dia. A prudência recomenda não se precipitar nas conclusões.
As informações preliminares são de que parte do material apreendido na casa dos suspeitos bate com o que o Intercept vem divulgando. Outra parte é novidade e envolveria a invasão dos telefones do presidente Jair Bolsonaro, do senador Davi Alcolumbre, do deputado Rodrigo Maia e de ministros dos tribunais superiores.
O ministro Sergio Moro, um dos alvos dos hackers, avisou aos interessados que vai destruir esse material. Até um leigo concluiria que não cabe ao ministro da Justiça, que não é mais juiz, apagar provas de um crime. Ao contrário, deve guardá-las a sete chaves, até para subsidiar o processo contra os hackers. Esse entendimento é também o do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal:
– Cabe ao Judiciário decidir isso, e não à Polícia Federal.
Em tempo: em nota, a Polícia Federal garantiu que não vai destruir material apreendido com supostos hackers e que cabe à Justiça definir o destino das provas.