Durante reunião do Mercosul nesta quarta-feira (17) na Argentina, o presidente Jair Bolsonaro não poupou críticas a ex-embaixadores brasileiros nos Estados Unidos (EUA).
— Se vocês pegarem de 2003 para cá, o que os embaixadores nossos, do Brasil, nos Estados Unidos, fizeram de bom para nós? Nada! — disse o presidente. — Eu, quando fui a Israel, há dois anos, o embaixador lá estava na Palestina. Não estava para servir as relações comerciais entre os nossos países — afirmou.
Na última quinta-feira (11), o presidente anunciou a intenção de indicar seu filho, Eduardo Bolsonaro, para ser embaixador do Brasil em Washington. O pronunciamento gerou dúvidas sobre as qualificações do deputado federal para o cargo e acusações de nepotismo.
Questionado sobre o que estaria faltando para que a indicação fosse formalizada, Bolsonaro disse que não se trata de uma decisão apenas sua. Segundo ele, o andamento agora depende do Senado.
— Por mim, eu decidiria agora, mas eu não posso tomar decisões de forma tão abrupta. Eu já conversei com o (presidente do Senado) Davi Alcolumbre, com outros, alguns (que) estão dando parecer contrário, mas é porque não conhecem a vida do meu filho — defendeu.
O presidente disse que "achava" que já havia sido feito um comunicado para os EUA.
— (Entretanto,) basta um telefonema simples meu para o (presidente americano, Donald) Trump, nem preciso falar isso para ele, eu tenho certeza de que ele dará o sinal positivo — afirmou.
Bolsonaro também voltou a defender o filho para o cargo com o argumento de que a proximidade de Eduardo com a família do presidente norte-americano é algo importante.
— É o que eu digo: imagine se o filho do (presidente da Argentina, Mauricio) Macri fosse embaixador no Brasil, ligando para mim, querendo falar comigo. Quando ele seria atendido? Amanhã? Semana que vem? Ou imediatamente? Claro que imediatamente. Essa é a intenção — explicou.
Quando um jornalista perguntou se Eduardo receberia algum petista na embaixada em Washington, Bolsonaro respondeu:
— Petista? Com bandeirinha do PT no peito? Não, ninguém, embaixada não é lugar de fazer política — defendeu.
Por fim, o presidente explicou o comentário do deputado federal sobre ter qualificações para o cargo por ter fritado hambúrguer no estado americano do Maine.
— Ele fritou hambúrguer sabe por quê? Porque não tinha dinheiro para se bancar lá. Qual era a intenção dele de ficar seis meses nos EUA? Aperfeiçoar o inglês dele. E eu disse: "Fica, mas se você bancar a tua despesa". Por isso ele fritou hambúrguer, entregou pizza, e hoje ele tá com um inglês muito bom — disse.
O caminho até a embaixada
Entre os requisitos para ocupar a vaga, o indicado à embaixada do Brasil nos EUA precisa ter 35 anos completos — idade que Eduardo atingiu um dia antes de Jair Bolsonaro anunciar que cogita o nome de seu filho para o cargo.
Depois, a indicação precisa ser publicada no Diário Oficial da União. Então, o Senado envia o nome para a Comissão de Relações Exteriores — Eduardo é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. Ele passará por sabatina e, depois, a votação é secreta.
Como a tramitação na comissão não tem caráter definitivo, mesmo que o nome não seja aprovado, a indicação será analisada pelo plenário do Senado, onde, em votação também secreta, o nome precisa conquistar maioria simples de votos.
Não é obrigatório que o nome indicado seja de carreira diplomática — ou seja, não é necessário realizar o concurso para a vaga nem ter formação e aperfeiçoamento por meio do Instituto Rio Branco. O cargo é considerado de natureza política e, pela legislação, o presidente tem liberdade para escolher seus embaixadores.
A vaga de embaixador está aberta desde abril. O último nome a ocupar a cadeira foi Sergio Amaral, indicado por Michel Temer e depois destituído do posto.