Embaixador do Brasil em Washington entre 2004 e 2007, Roberto Abdenur se recupera de uma cirurgia, mas atendeu ao pedido da coluna para avaliar a possibilidade de indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para o posto. Para situar, é bom lembrar que Abdenur se afastou do Itamaraty por divergências com o então chanceler do governo Lula, Celso Amorim. Saiu criticando a "miopia de um grupo de esquerdistas". Agora, sob o impacto da informação de que o filho do presidente Jair Bolsonaro pode ser seu sucessor, afirmou:
– Eduardo Bolsonaro não tem o mínimo preparo e visão para defender os interesses maiores do Brasil nos Estados Unidos e na Europa.
Abdenur, que já representou o Brasil também no Equador, na China, na Áustria e na Alemanha, sempre atuou com grande ênfase na área econômica, uma de suas áreas de especialidade. Também costuma ser extremamente diplomático em seus comentários. Agora, diz ter recebido a especulação sobre a indicação do filho de Bolsonaro "com extrema preocupação":
– Eduardo Bolsonaro se caracteriza desde sempre pela aproximação preferencial com governos e forças políticas de extrema direita, hoje inclusive na Europa. Seu mentor, o chanceler (Ernesto) Araújo, no seu discurso de posse, exaltou as relações com Estados Unidos, Israel, Hungria e Polônia. Foi incapaz de dizer uma única coisa sobre as grandes democracias europeias com as quais o Brasil tem mais interesse e relacionamentos incomensuravelmente maiores.
Para chamar atenção para o risco de ter um embaixador despreparado, Abdenur lembra que o Brasil passou há pouco por dificuldades gravíssimas com Angela Merkel, chanceler (lá, o nome do cargo indica o chefe do Poder Executivo), da Alemanha, e Emmanuel Macron, da França, que ameaçaram inviabilizar o acordo Mercosul-União Europeia depois de negociações de 20 anos. Afirmou, porém, que, para sua surpresa, Bolsonaro "reagiu com moderação e atitude construtiva, o que viabilizou o acordo".