A filhocracia que se instalou no Brasil em janeiro deste ano está prestes a ganhar mais um capítulo preocupante: o presidente Jair Bolsonaro admitiu que pensa em nomear o filho Eduardo embaixador do Brasil nos Estados Unidos. A se confirmar, será a mais estrondosa demonstração de desapreço aos diplomatas de carreira, que estudam para tratar de relações internacionais.
A grande credencial do deputado Eduardo Bolsonaro para assumir a embaixada do Brasil em Washington é ser filho do presidente. O pai cita outras duas: o rapaz fala inglês e cultiva boa relação com o presidente Donald Trump. A justificativa cairia bem em um roteiro do programa Chico City, com o saudoso Chico Anysio no papel de pai de Cascatinha, vivido pelo ator Castrinho, mas pode ser trágica pela falta de preparo do rebento.
– Meu garoto – orgulhava-se o pai com as “proezas” do filho.
– Meu pai pai – retribuía Cascatinha.
Ser fluente em inglês e em pelo menos mais um idioma (árabe, alemão, espanhol, mandarim, japonês, francês ou russo) é condição para ingresso na carreira diplomática. Para nomeações políticas, basta ser brasileiro, ter no mínimo 35 anos, curso superior e a bênção do presidente da República.
Formado em Direito, Eduardo Bolsonaro é escrivão licenciado da Polícia Federal. Experiência em relações internacionais? Apenas um intercâmbio nos Estados Unidos, quando era estudante, e conversas com próceres do Partido Republicano.
Pelas figuras que passaram pelo posto hoje ocupado pelo diplomata Sérgio Amaral e que já teve embaixadores do porte de Rubens Barbosa, só a cogitação de indicar um filho (ainda que fosse a reencarnação do Barão do Rio Branco) já seria uma afronta ao Itamaraty. Se confirmada, poderá se transformar num erro histórico.
Ainda há tempo de Jair Bolsonaro repensar o projeto de nomear o filho para o mais importante posto da diplomacia brasileira no Exterior. A boa prática recomenda aos governantes não nomear quem não podem demitir em caso de mau desempenho.