Após se reunir com o chanceler Ernesto Araújo, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou nesta sexta-feira (12) que recebeu o apoio do ministro das Relações Exteriores para assumir a embaixada do Brasil em Washington, nos Estados Unidos (EUA).
Ao responder sobre suas qualificações para assumir um dos mais importantes postos na diplomacia brasileira, o parlamentar disse que fez intercâmbio no país e "fritou hambúrguer no frio do Maine."
— É difícil falar de si próprio. Mas não sou um filho de deputado (presidente) que está do nada vindo a ser alçado a essa condição. Existe um trabalho sendo feito, sou presidente da Comissão de Relações Exteriores (da Câmara), tenho uma vivência pelo mundo — declarou Eduardo, na saída do Palácio do Itamaraty.
— Já fiz intercâmbio, já fritei hambúrguer lá nos EUA, no frio do Maine, Estado que faz divisa com o Canadá. No frio do Colorado, numa montanha lá, aprimorei meu inglês. Vi como é o trato receptivo do norte-americano para com os brasileiros. Então acho que é um trabalho que pode ser desenvolvido. Certamente precisaria contar com a ajuda dos colegas do Itamaraty, dos diplomatas, porque vai ser um desafio grande. Mas tem tudo para dar certo — concluiu.
O parlamentar afirmou ainda que a sua indicação para o posto ainda é uma possibilidade e que até este domingo (14) deve se reunir com seu pai, o presidente Jair Bolsonaro, para definir a questão. Ele afirmou entender que, caso seja indicado, só precisaria renunciar ao mandato depois da sabatina no Senado e da sua confirmação no Plenário da Casa.
Eduardo reafirmou que sua ida aos EUA colocaria a relação do país com o Brasil em "um outro patamar", por tratar-se de um embaixador que seria filho do presidente da República. E descartou que sua nomeação possa se enquadrar nas regras que vedam o nepotismo.
— Ele (Ernesto Araújo) expressou apoio ao meu nome por ocasião de possível indicação para a embaixada dos EUA. Acredito que agora falta só conversar com o presidente Jair Bolsonaro e reafirmar se é essa a vontade dele, se ele mantém o que tem dito. Esta tudo na esfera da cogitação e tudo encaminhado — concluiu.
Polêmica
Em café da manhã com a imprensa nesta sexta-feira, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, reconheceu que a indicação de Eduardo Bolsonaro causou polêmica.
O general ponderou que o anúncio feito pelo presidente Jair Bolsonaro talvez pudesse ser feito na próxima semana, após a conclusão da votação dos destaques da reforma da Previdência. Para ele, o anúncio deu margem para críticas de deputados oposicionistas.
— Deu polêmica, eu reconheço, saiu na imprensa. Agora, vamos aguardar — disse. — Poderia ter anunciado semana que vem? Talvez, durante o recesso parlamentar — avaliou.
O ministro ressaltou que a indicação ainda não foi oficializada e lembrou que, em outros episódios de política externa, o presidente fez um anúncio, mas a iniciativa não se concretizou — como no caso da transferência da embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.
— É um processo que, se vai ser confirmado, tem de ver — disse. — Ele não disse da embaixada em Jerusalém? Ela está onde? Em Tel Aviv. O presidente tem esses momentos — completou.
O ministro ressaltou que, mais do que filho do presidente, Eduardo é político e um "jovem preparado". Além disso, lembrou que o ex-presidente Itamar Franco foi nomeado pelo seu sucessor, Fernando Henrique Cardoso, para as embaixadas de Portugal e Itália.
Ramos também afirmou que o ex-deputado federal Tilden Santiago (PT-MG) foi nomeado para a embaixada de Cuba pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com ele, segundo informações levantadas pelo Palácio do Planalto, não há ilegalidade na indicação de Eduardo.
— Quem era o braço direito do presidente norte-americano John Kennedy? Era o irmão dele, o Robert Kennedy — disse o ministro, lembrando que ele foi indicado para assumir o posto de procurador-geral na época.
O anúncio de Bolsonaro causou desconforto tanto entre o corpo diplomático quanto entre a cúpula militar, para os quais o gesto do presidente desgasta a imagem do governo, sobretudo o discurso de que pretendia fazer "nova política".
No Palácio do Planalto, a avaliação foi de que Bolsonaro quis, na verdade, lançar uma espécie de "balão de ensaio" para testar o impacto de uma indicação do filho, como fez Donald Trump quando disse que pensou em nomear sua filha Ivanka Trump como presidente do Banco Mundial.