Apoiadores de primeira hora de Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral, os caminhoneiros não demonstram a mesma unidade às vésperas da manifestação em defesa do governo, marcada para este domingo, em todo o país. No Rio Grande do Sul, os líderes de duas principais entidades sindicais do setor afirmam que a categoria está dividida e que a participação dependerá de "decisões individuais". Também não há consenso sobre a possibilidade de nova paralisação.
Ao longo da semana, mensagens disseminadas pelo WhatsApp chamaram atenção pelo tom agressivo. Em uma delas, um texto apócrifo intimou os motoristas a cruzarem os braços na próxima quarta-feira, dia 29, "em apoio à governabilidade do presidente Bolsonaro" – e, de quebra, exigiu a "renúncia imediata" de ministros do Supremo Tribunal Federal e um plebiscito para definir novo presidente da Câmara dos Deputados, entre outros pontos polêmicos.
Em outro recado, gravado em áudio e distribuído no WhatsApp, José Raymundo Miranda, representante da Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB) em Minas Gerais, sugeriu cerco ao Congresso.
— O ideal é todos os caminhoneiros partirem para Brasília, fazerem um cerco. Quero ver se eles conseguem guinchar um monte de carro desses. Fechar aquele Congresso, rodear e sitiar aquele povo ali dentro — declarou Miranda.
Procurado pelo jornal Folha de S.Paulo para falar sobre o assunto, ele recuou e descartou a hipótese, mas previu "tumulto do Oiapoque ao Chuí" neste domingo. Na mesma linha, surgiram mensagens instando condutores de cargas a paralisarem as atividades para pressionar pela redução do preço do diesel.
No Rio Grande do Sul, muitas dúvidas
Por aqui, apesar do furor no WhatsApp (são dezenas de mensagens circulando em diferentes grupos, com objetivos difusos), a avaliação do presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos do Rio Grande do Sul (Fecam), André Costa, é de que o alcance da adesão só será conhecido no dia da mobilização. Ele diz que não tem "bola de cristal" e que não há nada definido.
— A federação não está se envolvendo nisso, porque a atividade sindical não deve se misturar à atuação político-partidária. Quem se envolve são as pessoas físicas. O que sabemos é que tem uma parcela dos caminhoneiros apoiando Bolsonaro, mas também tem gente contra — sintetiza Costa, que prefere não se posicionar sobre os atos.
À frente do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos de Ijuí, Carlos Alberto Litti Dahmer também não se arrisca a projetar o nível de engajamento à causa bolsonarista. O representante sindical diz que, pessoalmente, discorda dos protestos e que, por isso, não pretende aderir. Ele aponta uma divisão no movimento.
— Cada um está tomando a decisão segundo a sua consciência. Como categoria, não tem definição nenhuma. Eu não vou participar, porque não aprovo a pauta que está colocada. No meu entendimento, a reforma da Previdência não é boa para os caminhoneiros nem para o país. Fechar o Congresso, acabar com o STF, tudo isso é muito retrógrado, mas essa é uma posição individual. O movimento está bem dividido — conclui o sindicalista.