O presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou, na tarde deste sábado (18), no Twitter, que precisa do apoio da população para governar o Brasil. A manifestação ocorreu um dia após ter compartilhado texto refletindo a respeito das dificuldades de seu mandato. A mensagem diz que o País "é ingovernável" sem os "conchavos".
"Somente com o apoio de todos vocês poderemos mudar de vez o futuro do nosso Brasil", escreveu Bolsonaro.
Pela manhã, o presidente não quis explicar o que quis dizer com a distribuição da mensagem em grupos de WhatsApp na sexta-feira (17). Sugeriu que os jornalistas recorressem ao autor do texto.
— O texto? Pergunta para o autor. Eu apenas passei para meia dúzia de pessoas — disse Bolsonaro, na porta do Palácio da Alvorada.
A mensagem, atribuída por ele a um autor desconhecido, diz que o mandatário estaria impedido de atuar por não concordar com os interesses das corporações. Ao jornal Folha de S. Paulo, o ex-candidato a vereador Paulo Portinho, filiado ao partido Novo, admitiu que o texto era seu e que, sem saber como a mensagem foi parar nos grupos de WhatsApp, sentiu-se assustado com a repercussão.
— Tô torcendo para que acabe hoje à noite, com o próximo tema. Já disseram que eu escrevi a carta de renúncia do Bolsonaro, que sou da CIA, que sou aluno do Olavo (de Carvalho) — afirmou, ao mencionar o escritor que virou guru da ala ideológica do governo Bolsonaro.
Neste sábado, a internet ficou dividida entre o apoio a Bolsonaro e a pressão pelo impeachment do presidente. À tarde, a hashtag mais compartilhada no Twitter nacional era #BolsonaroNossoPresidente. Mas, logo em seguida, estava #Impeachmentbolsonaro.
Às 14h40, o próprio presidente tuitou comentando a repercussão da hashtag favorável a ele e disse a seguidores que precisava do apoio deles para governar. "Tomei conhecimento e agradeço imensamente a todos pela hashtag #BolsonaroNossoPresidente, que chegou a nível mundial no Twitter. Retribuo e ressalto que somente com o apoio de todos vocês poderemos mudar de vez o futuro do nosso Brasil!", escreveu o presidente. Apoiadores de Bolsonaro também foram às redes sociais prestar homenagem ao presidente.
"Até hoje, no Brasil, os grupos políticos lutavam pelo controle da máquina. O governo Bolsonaro quer desligar a máquina e jogar a chave fora. Pois essa maldita máquina só fabricou estagnação, desemprego, corrupção e descaso pelos valores do povo brasileiro", escreveu o chanceler Ernesto Araújo. O chefe do Ministério das Relações Exteriores disse estar fazendo a parte dele "promovendo parcerias que ajudem o povo brasileiro a renovar o seu destino".
O empresário Luciano Hang também escreveu em apoio a Bolsonaro e convocou internautas para uma manifestação em apoio ao presidente. "Precisamos apoiar nosso presidente para mudar o nosso país. O mais difícil fizemos que foi ganhar as eleições agora precisamos fazer as grandes mudanças e a previdência é a mãe de todas. #Dia26NasRuas".
Bolsonaro está encurralado por uma relação desgastada com o Congresso, suspeitas que atingem um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro, e manifestações populares contra seu governo.
O compartilhamento do texto sobre um país ingovernável elevou a tensão dentro do governo, entre aliados e representantes de outros poderes, por gerar interpretações divergentes sobre as intenções do presidente ao endossar a mensagem.
Na sexta-feira (17), ao comentar o texto por meio de seu porta-voz, Bolsonaro afirmou que, "infelizmente, os desafios são inúmeros e a mudança na forma de governar não agrada àqueles grupos que no passado se beneficiavam das relações pouco republicanas. Quero contar com a sociedade para juntos revertermos essa situação e colocarmos o País de volta ao trilho do futuro promissor".
Parte dos auxiliares do presidente no Palácio do Planalto diz que ele se deixa levar por teorias da conspiração espalhadas pelo grupo que segue o escritor Olavo de Carvalho e por influência de seus filhos — o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) já havia exposto conceitos do tipo em rede social.
A mensagem chegou a motivar boatos acerca de eventual renúncia do presidente — alguns aliados viram nela um arcabouço narrativo para uma saída do cargo por culpa de resistências à suposta agenda antiestablishment de Bolsonaro.
Seria, para eles, uma espécie de "cenário Jânio Quadros" no mundo político, segundo o qual Bolsonaro poderia emular o presidente que renunciou em 1961 após oito meses de inação, colocando a culpa em supostas "forças terríveis".
Integrantes do Judiciário e do Legislativo dizem que o presidente recorreu à estratégia do ataque ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal para tentar "sair das cordas" naquele que é considerado o pior momento de seu governo.
Também viram no gesto dele uma tentativa de "jogar para a plateia" e se eximir da responsabilidade de governar, transferindo para os demais poderes a causa dos problemas enfrentados pelo país.