O senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), ao falar pela primeira vez sobre as movimentações financeiras atípicas identificadas em suas contas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), disse que o dinheiro dos depósitos fracionados feitos em 2017 é proveniente da venda de um apartamento. Flávio ainda afirmou que o pagamento de R$ 1 milhão de um título bancário da Caixa Econômica Federal, também relatado pelo Coaf, se refere à compra deste mesmo imóvel. A explicação foi dada por ele em entrevista ao programa "Domingo Espetacular", da TV Record, na noite deste domingo (20).
— Tentam de uma forma muito baixa insinuar que a origem desse dinheiro tem a ver com um ex-assessor meu ou terceiros. Não tem. Explico mais uma vez. Sou empresário, o que ganho na minha empresa é muito mais do que como deputado. Não vivo só do salário de deputado — afirmou Flávio.
Na sexta-feira, reportagem do "Jornal Nacional", da TV Globo, mostrou que o Coaf encontrou 48 depósitos no valor de R$ 2 mil entre junho e julho de 2017 nas contas bancárias de Flávio. Não foi identificado quem fez os depósitos, que totalizam R$ 96 mil. O fracionamento deles pode indicar intenção de impedir a identificação da origem dos recursos. O JN também noticiou que consta no relatório do Coaf um pagamento de R$ 1 milhão de um título bancário por Flávio à Caixa.
Neste domingo, a coluna de Lauro Jardim no jornal O Globo informou que o ex-assessor e ex-motorista de Flávio, Fabrício Queiroz, movimentou R$ 7 milhões em três anos. Até então, o que se sabia era que Queiroz havia movimentado R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.
Na entrevista para a Record, Flávio Bolsonaro disse que recebeu parte do pagamento da venda do imóvel em dinheiro e que fez os depósitos fracionados, que somam R$ 96 mil, no caixa eletrônico da Alerj por ser o local onde ele trabalhava. Segundo disse na entrevista, R$ 2 mil é o limite aceito no caixa eletrônico. Flávio negou a prática de reter parte do salário de funcionários de gabinete na Alerj.
— No meu gabinete não. Se eu soubesse de alguém que estivesse cometendo isso, era o primeiro a denunciar a mandar prender porque quem me conhece sabe que não tem sacanagem comigo. Em alguns períodos no mei gabinete cargos ficaram vagos. Se eu tivesse o intuito de ganhar dinheiro com isso eu ia deixar cargo vago? — disse.
Flávio também disse que a demora no posicionamento do seu ex-assessor Fabrício Queiroz é a principal responsável por gerar a situação.
O filho do presidente Jair Bolsonaro passou o domingo (20) em São Paulo. A agenda na capital paulista foi mantida em sigilo. No sábado (19), Flávio passou a manhã reunido com o pai no Palácio da Alvorada . O encontro aconteceu no dia seguinte à divulgação pela imprensa de que recebeu depósitos fracionados em sua conta corrente.
A movimentação identificada pelo Coaf foi encaminhada ao Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro, que apura suspeita de recebimento por parlamentares da Alerj de parte do salário dos funcionários de gabinete de Flávio.
Na quinta-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, suspendeu a investigação a pedido de Flávio. Atual deputado estadual, o parlamentar alegou ter foro privilegiado por ter sido eleito senador. A decisão final sobre a instância onde o inquérito tramitará caberá ao ministro Marco Aurélio, relator da reclamação movida pela defesa de Flávio. Ele já indicou que deve decidir no sentido de o procedimento continuar com o MP local .