Política

Movimentação financeira

Coaf aponta que Flávio Bolsonaro pagou R$ 1 milhão em título bancário sem identificar o favorecido

Trecho de relatório foi obtido com exclusividade pelo Jornal Nacional

GZH

Ernesto Rodrigues / Estadão Conteúdo
Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) deixou na tarde deste sábado o Palácio da Alvorada após reunião com Jair Bolsonaro

O deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), filho do presidente Jair Bolsonaro, fez um pagamento de R$ 1.016.839 em um título bancário da Caixa Econômica Federal sem identificar o favorecido. A informação foi divulgada pelo Jornal Nacional, da Globo, neste sábado (19). O título também não tem data nem detalhes do pagamento. 

Neste sábado, Flávio encontrou seu pai, o presidente Jair Bolsonaro, no Palácio da Alvorada. Na sexta-feira (18), a Globo divulgou que Flávio Bolsonaro recebeu R$ 96 mil em depósitos durante um mês, em cinco dias separados. Em um mês, foram realizados 48 depósitos no valor de R$ 2 mil. No dia 9 de junho de 2017, ele recebeu R$ 20 mil em cinco minutos.

No total, foram R$ 96 mil depositados em cinco dias:

  • 9 de junho de 2017: 10 depósitos no intervalo de cinco minutos, entre 11h02min e 11h07min;
  • 15 de junho de 2017: mais cinco depósitos, feitos em dois minutos, das 16h58min às 17h;
  • 27 de junho de 2017: outros 10 depósitos (total de R$ 20 mil), em três minutos, das 12h21min às 12h24min;
  • 28 de junho de 2017: mais oito depósitos, em quatro minutos, entre 10h52min e 10h56min;
  • 13 de julho de 2017: 15 depósitos, em seis minutos.

Também na sexta, em entrevista gravada ao Jornal da Record, Flávio afirmou que quanto mais seu ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz "demora" para esclarecer acusações, mais ele o prejudica. O senador eleito também acusou o Ministério Público (MP) do Rio de investigá-lo ocultamente desde meados de 2018. Segundo ele, o MP se utilizou de "vários atos ilegais, sem a devida autorização judicial", para investigá-lo. 

Investigação de lavagem de dinheiro

A investigação sobre a movimentação financeira de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL), foi iniciada há seis meses e tem como foco de apuração a suspeita de prática de lavagem de dinheiro ou "ocultação de bens, direitos e valores" no gabinete do deputado estadual - atualmente senador eleito - na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). 

O jornal O Estado de S. Paulo teve acesso aos autos do procedimento de investigação criminal, que está sob sigilo.  

A base deste e de outros 21 procedimentos criminais abertos no Legislativo fluminense é um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que apontou movimentação atípica de funcionários e ex-funcionários da Alerj.

O documento foi produzido por técnicos do Coaf há um ano, em janeiro de 2018, e anexado aos autos da Operação Furna da Onça - que, em novembro do ano passado, prendeu dez deputados estaduais do Rio suspeitos de receberem propina. O relatório mostrou que Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão de janeiro de 2016 a janeiro de 2017, como revelou o jornal O Estado de S. Paulo.

Os autos do procedimento para investigar as movimentações suspeitas de Queiroz e outros assessores do gabinete são assinados pelo promotor que cuida do caso, Bruno Gaspar, do Grupo de Atribuição Originária Criminal da Procuradoria-Geral de Justiça. Queiroz recebeu depósitos de outros servidores do parlamentar, sempre próximos às datas de pagamentos na Alerj. No início do documento, o MP anexou páginas com textos sobre a trajetória política. 

 No dia 14 de dezembro, o promotor do caso pediu que fossem requisitadas informações do Coaf sobre movimentações financeiras de Flávio de 2007 até os dias atuais. O pedido abrange movimentações de Queiroz e de mais sete funcionários e ex-funcionários do gabinete no mesmo período. A iniciativa serviu para que a defesa de Flávio pedisse ao Supremo a ilegalidade do processo. O argumento foi de que Flávio tem foro privilegiado, já que ele havia sido eleito senador pelo Rio na época.

Os arquivos do MP também comprovam que a investigação sobre o relatório do Coaf começaram antes da exoneração da filha de Queiroz, Nathalia, citada no documento, do gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro, em 15 de outubro. No mesmo dia, o seu pai também foi exonerado do gabinete de Flávio Bolsonaro, na Alerj.

A família de Queiroz faltou a todos depoimentos no MP para esclarecer as questões apontadas pelo Coaf. Eles alegaram que o ex-assessor passa por um tratamento contra um câncer. Os assessores de Flávio citados no relatório também foram convidados a depor no órgão.

Investigado

Na sexta-feira (19), o MP afirmou que Flávio Bolsonaro não consta como investigado na portaria que instaurou o procedimento de apuração criminal. No entanto, disse que isso não impede que o senador eleito ainda possa se tornar alvo da investigação. Até a segunda-feira passada, ele sustentava que não era investigado, argumento também usado por ele para faltar ao depoimento marcado no MP para o último dia 10.

Porém, sua defesa posteriormente passou a tratá-lo como investigado, inclusive no pedido ao Supremo. Com esse argumento, a reclamação afirma que o MP fez movimentações que deveriam ter passado pela Corte, por envolver um senador eleito. "Até o dia 7 de janeiro, não sabia que estava sendo investigado. Descobri que o MP estava me investigando ocultamente desde meados do ano passado e que meu sigilo foi quebrado de forma ilegal, sem a devida autorização judicial", disse Flávio Bolsonaro em entrevista ao Jornal da Record veiculada ontem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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