Ossadas retiradas de uma vala clandestina do cemitério Dom Bosco, em Perus, São Paulo, identificaram o corpo do militante político Aluizio Palhano Pedreira Ferreira, que teria sido morto em 1971 nas antigas instalações do DOI-Codi, durante a ditadura militar. O anúncio da identificação foi feito nesta segunda-feira (3) durante Encontro Nacional de Familiares promovido pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), realizado em Brasília, com o apoio do Ministério de Direitos Humanos.
A identificação de Aluizio foi possível graças a uma análise laboratorial cruzando o DNA presente nas ossadas com o da filha do militante. O material genético e as amostras ósseas foram enviadas para a International Commission on Missing Persons, laboratório parceiro do Grupo de Trabalho Perus (GTP) em Haia, Holanda. Em 27 de novembro, foram apontadas as conclusões da análise.
O GTP trabalha pela identificação das ossadas descobertas na vala clandestina do cemitério Dom Bosco. Aluizio é a segunda vítima a ser encontrada: Dimas Casemiro, militante da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), foi identificado em fevereiro deste ano.
Quem era Aluizio Ferreira
De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, Aluizio Ferreira foi um dos principais líderes sindicais do Brasil nos anos 60. Presidiu por dois mandatos o Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro e foi um dos líderes de uma greve geral, em 1961, exigindo reajustes e 13º salário — que, na época, ainda não havia sido instituído no Brasil. Em 1963, Aluizio tornou-se dirigente da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT), então a entidade sindical do país com maior número de instituições filiadas.
Em 1970, Ferreira passou a integrar a organização de luta armada Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), do ex-capitão Carlos Lamarca. Em maio de 1971, de acordo com investigações da Comissão da Verdade, o militante foi preso no DOI-CODI e torturado. A data possível da sua morte é 21 de maio de 1971, de acordo com o Grupo de Trabalho Perus. Quem comandava o DOI-CODI na época da prisão era Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel morto em 2015 e primeiro militar reconhecido como torturador no Brasil.
No cemitério, foram encontradas, nos anos 1990, mais de mil ossadas em valas clandestinas. O Grupo de Trabalho Perus conta com o apoio da Universidade Federal Paulista (Unifesp), o Ministério Público Federal (MPF) e a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), além das secretarias de Direitos Humanos da prefeitura de São Paulo e do governo federal.