Afetado pela mais grave recessão da história recente do país, o governo de José Ivo Sartori (MDB) terminou, em dezembro de 2018, com quatro anos seguidos de déficit orçamentário (despesas acima das receitas). O maior rombo foi registrado no desfecho dos primeiros 365 dias de gestão, quando o resultado ficou no vermelho em R$ 5,66 bilhões, em valores corrigidos pelo IPCA.
Foi um dos momentos mais difíceis do mandato. Com a economia em frangalhos (o PIB caiu 3,8% no Brasil, pior resultado em 25 anos), as projeções de arrecadação não se confirmaram. Ao mesmo tempo, naquele ano, Sartori começou a honrar os reajustes dos servidores da segurança pública aprovados pelo antecessor, Tarso Genro (PT) – com reflexos até novembro de 2018, em um impacto estimado de R$ 8 bilhões em quatro anos.
Em busca de dinheiro para cumprir as obrigações, o governo aprovou, em setembro de 2015, o aumento de alíquotas de ICMS, mas a mudança só entrou em vigor em janeiro de 2016. O Palácio Piratini só conseguiu pagar a folha de novembro de 2015 por conta de R$ 302 milhões obtidos junto à General Motors (GM), por meio da antecipação de créditos de ICMS.
O segundo ano da administração Sartori apresentou resultado "menos pior" do que o primeiro, com déficit de R$ 153,3 milhões em valores atualizados (veja o quadro abaixo). A redução foi possível não só devido aos reflexos da majoração do ICMS, mas também à adoção de medidas emergenciais ao longo de 2016, que não se repetiriam mais, como a venda da folha dos servidores do Estado para o Banrisul, no valor de R$ 1,25 bilhão, e o acordo judicial firmado com a Ford, com o repasse de R$ 216 milhões ao Estado. O não pagamento das parcelas da dívida entre abril e dezembro daquele ano também contribuiu para o quadro.
À época, em entrevista a GaúchaZH, o então secretário estadual da Fazenda, Giovani Feltes, classificou o número como "ilusório" (referindo-se ao déficit menor do que inicialmente havia sido projetado), por ter sido atingido graças a receitas extraordinárias.
— Cada um faz a interpretação que quer, conforme as suas conveniências. A verdade é que, sem as receitas extraordinárias que conseguimos em 2016, como a venda da folha dos servidores ao Banrisul, o déficit seria de mais de R$ 4 bilhões, exatamente como projetamos. Ninguém aqui quer iludir ninguém. Queimamos todas as possibilidades de obter receitas extras — declarou Feltes, na ocasião.
Em 2017, como previu o secretário, o rombo orçamentário voltou a crescer. Já no primeiro semestre, chegou a R$ 1,55 bilhão, alta de 146,5% em relação ao mesmo período de 2017. A Fazenda atribuiu as dificuldades ao cenário econômico brasileiro, que piorou depois de um início de ano com perspectivas otimistas. A greve dos caminhoneiros contribuiu para isso. Naquele momento, o substituto de Feltes na Fazenda, Luiz Antônio Bins, disse que, se o país não voltasse a crescer, não haveria solução.
Em 2018, a previsão era de que o déficit orçamentário ficasse próximo de R$ 3 bilhões, o que de fato ocorreu. Segundo o Relatório Resumido de Execução Orçamentária publicado no último dia 29 de janeiro de 2019, o rombo ficou em R$ 2,74 bilhões. Além disso, como era previsto, o governador eleito Eduardo Leite (PSDB) herdou uma série de pendências de Sartori, entre elas parte dos salários de dezembro do Executivo para terminar de pagar e todo o 13º.