O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) fez um balanço, no início da noite desta sexta-feira (9), dos primeiros dias de transição de governo em transmissão ao vivo no Facebook. O capitão da reserva falou, entre outros temas, sobre política externa, conduta de ministros já anunciados, direitos trabalhistas e questões do Enem. A transmissão contava com 883 mil visualizações assim que foi encerrada — uma hora depois, superou a barreira de 1 milhão.
Política externa
O presidente eleito tentou amenizar possíveis impactos em relação à decisão de transferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém. No entendimento do político, Israel tem o poder de decidir qual é sua capital:
— Quem decide a capital de Israel é o Estado de Israel. O Brasil não mudou a capital do Rio para Brasília? Teve algum problema? Quem decidiu isso fomos nós.
Para defender sua tese sobre a soberania de Israel em relação à medida, Bolsonaro citou o diplomata brasileiro Oswaldo Aranha, que anunciou a criação do Estado de Israel na Assembleia Geral da ONU em 1947:
— Quem está contra Israel, está contra Oswaldo Aranha — bradou.
Para o presidente eleito, criar polêmicas em relação a ruídos que a medida pode causar é algo que deve ser evitado.
— Vamos parar com essa frescura! Vamos parar com essa frescura! — afirmou.
China
Bolsonaro também fez questão de afirmar que não tem nenhum problema com a China:
— Alguns da imprensa falaram que eu teria problemas com a China. Não tenho problema nenhum com a China. Recebi na semana passada o embaixador da China. Conversamos bastante.
O militar reformado destacou que suas conversas com representantes de outros países seguem produtivas, e que algumas nações comemoraram que sua vitória nas urnas pode melhorar relações comerciais — mas não especificou quais:
— Vamos buscar o melhor para o nosso Brasil. Alguns países estão muito felizes com a nossa eleição, porque deixarão de fazer comércio com o Brasil por viés ideológico. Nós queremos que os produtos do Brasil sejam colocados lá fora com o melhor preço possível para nós.
Empregos
Bolsonaro afirmou que o Brasil tem muitos direitos, mas não tem emprego. Ele destacou que empresários relataram a ele que menos direitos estão relacionados a mais empregos, enquanto muitos direitos resultam em baixa quantidade de postos de trabalho
Passar de 11% para 22% o desconto previdenciário, isso é um absurdo. É melhor para o trabalhador ficar com aquilo que ele é obrigado a dar para o Estado. Não podemos falar em salvar o Brasil quebrando o trabalhador.
JAIR BOLSONARO
Presidente eleito
— Aqui no Brasil, é o país dos direitos. Tem direito para tudo, mas não tem emprego. O empresariado tem dito para mim: "temos de decidir: todos os direitos e desemprego ou menos direitos e emprego". Não sou eu que estou falando isso. Vão botar na minha conta, mas é uma realidade.
Bolsonaro pontuou, porém, que não vai tirar direitos trabalhistas assegurados pela Constituição. O presidente disse que não vai dar "murro em ponta de faca" em relação a esse tema.
Previdência
Bolsonaro disse que a reforma da Previdência que está sendo discutida em Brasília não é a sua proposta e que estão querendo colocar os problemas dela "na sua conta":
O capitão da reserva destacou que pontos como desconto previdenciário e tempo de contribuição não são propostas suas, mas sim da atual gestão.
— Passar de 11% para 22% o desconto previdenciário, isso é um absurdo. É melhor para o trabalhador ficar com aquilo que ele é obrigado a dar para o Estado. Não podemos falar em salvar o Brasil quebrando o trabalhador.
Segundo o presidente, poucos pontos da reforma da Previdência que está em discussão no Legislativo são de seu interesse:
— O que estou vendo (sobre a proposta atual) é que pouca coisa pode ser aproveitada.
Ministros
Bolsonaro dedicou parte de seu pronunciamento para elogiar os seus futuros ministros. Ele reforçou que confia em Paulo Guedes — que será o "superministro" da Economia — e em suas propostas. O capitão da reserva também enalteceu os trabalhos de seu futuro ministro-chefe da Casa Civil, deputado gaúcho Onyx Lorenzoni. Tereza Cristina (Agricultura), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia) e General Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) também foram lembrados pelo capitão da reserva.
Em relação a Sergio Moro, que ocupará o Ministério da Justiça, que vai ganhar status de superministério, Bolsonaro elogiou a postura do juiz de abandonar 22 anos de magistratura para atuar em sua gestão.
Segundo Bolsonaro, Moro vai ter mais poder como ministro para atuar contra a corrupção:
— Ele pescava com varinha, agora vai pescar com rede de arrastão de 500 metros.
Educação
O presidente eleito enfileirou críticas ao que chama de "ideologia de gênero". Para o capitão da reserva, o tema "não é importante" e sexo não é assunto que deve ser debatido em salas de aula.
— Se um homem quiser ser feliz com outro homem, que vá ser feliz. Se uma mulher quiser ser feliz com outra mulher, que vá ser feliz. Quem ensina sexo é papai e mamãe, e ponto.
Estudantes universitários
O presidente eleito também questionou posturas de parte de estudantes universitários em instituições públicas. O capitão da reserva declarou que, em diretório da Universidade de Brasília (UnB), só havia "maconha, preservativo no chão e cachaça na geladeira, embora não tenha relatado especificamente de qual lugar estava falando.
— Parecia um ninho de rato — emendou.
Enem
O capitão da reserva voltou a criticar questões do Enem sobre o que chama de "ideologia de gênero". Ele fez referência à questão que citou linguagem utilizada por travestis.
— Pelo amor de Deus. Esse tema, a linguagem particular daquelas pessoas. O que nós temos a ver com isso, meu Deus do céu. A gente vai ver a tradução daquelas palavras, é um absurdo. Vai obrigar a molecada se interessar por isso agora para o Enem do ano que vem?
Bolsonaro disse que a população pode ficar tranquila, pois "não vai ter questão dessa forma do ano que vem":
— Vamos tomar conhecimento da prova antes. Não vai ter isso daí. Vão ter perguntas sobre geografia, dissertações sobre história, questões realmente voltadas para o que interessa para o futuro da nossa geração, do nosso Brasil. Não essas questões menores.
Reajuste para ministros do STF
Bolsonaro afirmou que o reajuste nos vencimentos dos ministros do STF não é responsabilidade dele, mas sim do governo atual, que decidirá se sanciona a medida.
— Estão botando na minha conta o reajuste do Judiciário para eu começar o governo com problemas. Mas eu só dei a minha opinião. Achei inoportuno.