Foi com ataques ao governo Michel Temer, ao mercado e à imprensa que Luiz Inácio Lula da Silva fez seu discurso em Porto Alegre antes da decisão que poderá definir seu futuro político. Em um caminhão de som usado como palanque em frente ao Mercado Público da Capital, o ex-presidente disparou críticas, mas evitou falar sobre o julgamento que ocorrerá hoje, a apenas dois quilômetros do local em que foi recebido por militantes e líderes petistas.
O ato foi o último de um dia marcado por manifestações na Capital na véspera de o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) analisar o recurso contra a sentença do juiz Sergio Moro que condenou o ex-presidente por corrupção passiva e lavagem de dinheiro a nove anos e seis meses de prisão. Um mercado com "yuppies", uma "elite perversa" e uma "imprensa mentirosa" foram os principais alvos do petista.
Antecedido por correligionários e por integrantes de PSOL, PC do B, PSB e até do PMDB, Lula começou seu discurso às 19h43min desta terça-feira (23), avisando que não iria comentar sobre a sentença determinada pelo juiz da Operação Lava-Jato em Curitiba (PR). Disse que sua inocência já foi comprovada por seus advogados. Ainda assim, destacou:
– Acredito que aqueles que vão votar deverão se ater aos autos do processo e não às convicções políticas de cada um – pontuou, sem citar nominalmente nenhum magistrado ou instituição.
O discurso, em tom de campanha, foi centrado nas ações realizadas durante os 14 anos em que o PT esteve no poder, período interrompido pelo impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. Sobre o risco de se tornar inelegível a partir de uma condenação em segunda instância, Lula atacou.
– A direita não tem candidato. E quando eles aceitam qualquer coisa menos Lula, pensei: "Sou bom mesmo" – afirmou o petista a respeito de seus adversários.
Sobre as frequentes menções da atual equipe econômica do governo de Michel Temer ao mercado financeiro, o petista reagiu. Disse acreditar na existência de um "complexo de vira-lata" no país e criticou o distanciamento das relações do Brasil com nações latino-americanas.
– A elite fala grosso com a Bolívia e fala pianinho com os Estados Unidos – comparou.
A respeito das críticas de que o partido causou prejuízos ao interferir na política de preços da Petrobras durante o governo de Dilma Rousseff, situação apontada como um dos problemas para o equilíbrio financeiro da estatal, o ex-presidente defendeu a soberania nos valores cobrados pelo litro dos combustíveis:
– Quem toma decisões com o preço da gasolina é um governo que tem vergonha na cara. Esse país não vai deixar de ser dono do seu nariz porque alguém não gosta de nós.
No final de sua manifestação, que durou 36 minutos, Lula disse uma variação de frase repetida em discursos a militantes desde que as primeiras investigações contra ele foram iniciadas:
– Duvido que neste país tenha um magistrado mais honesto do que eu.
Ao se despedir dos manifestantes, afirmou que estava atrasado para o voo que o levaria a São Paulo, onde participará hoje de ato político. Ao ser saudado por companheiros que o acompanhavam no discurso, reafirmou sua intenção de participar das eleições de outubro.
– Estou com 72 anos, mas com tesão de 20 para continuar lutando. Qualquer que seja o resultado, continuarei lutando – declarou aos manifestantes.
Antes de deixar o palanque, Lula disse que em fevereiro voltará ao Rio Grande do Sul para fazer uma "caravana", a exemplo do que ocorreu em 2017 nas regiões Sudeste e Nordeste.
– Só uma coisa vai me tirar do que estou fazendo: é o dia que não estiver mais aqui – declarou, citando que iniciará seu percurso por São Borja, "terra do trabalhismo" e que pretende dividir um banco de praça na fronteira entre Brasil e Uruguai, em Santana do Livramento, com o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica.
_____________________
Julgamento de Lula
Condenado em primeira instância pelo juiz Sergio Moro a nove anos e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva terá sua apelação julgada pelo TRF4, em Porto Alegre, nesta quarta-feira (24). A condenação é referente à denúncia na 13ª Vara Federal de Curitiba por supostamente ter recebido propina da construtora OAS em troca de favorecimentos à empreiteira em contratos na Petrobras. O suborno, no total de R$ 3,7 milhões, teria sido pago com a aquisição e reforma de um triplex no Guarujá (SP) e com o custeio do armazenamento de seu acervo presidencial.
Os advogados pedem a absolvição do petista, alegando que a condução do processo por Moro foi "parcial e facciosa". Já o MPF recorreu da decisão de Moro por entender que o ex-presidente deve ser punido por três atos de corrupção em concurso material — instrumento jurídico pelo qual as penas são somadas —, e não apenas por um crime de corrupção e um de lavagem de dinheiro como entendeu o juiz na sentença.
O ex-presidente será julgado pela 8ª Turma do TRF4, formada pelos desembargadores João Pedro Gebran Neto, relator do processo, Leandro Paulsen, presidente da Turma e revisor, e Victor Luiz dos Santos Laus. Estão previstas manifestações favoráveis e contrárias ao ex-presidente em Porto Alegre, e foi montado um esquema de segurança especial. Seja qual for o resultado do julgamento — condenação ou absolvição —, o processo não se encerra nesta quarta-feira, já que cabem recursos ao próprio TRF4.
Tour 360°
Arraste a imagem para explorar todos os ângulos e clique nas setas para navegar pelos diferentes ambientes. Se estiver usando um celular ou tablet, clique aqui para ter uma melhor experiência.
Está com problemas para visualizar? Clique aqui.