Inicialmente marcada para a quinta-feira, a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados foi antecipada em um dia. A decisão foi tomada pelo presidente interino da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA), atendendo a um pedido feito pelo Palácio do Planalto. A mudança, conforme o jornal Folha de S. Paulo, foi sinalizada por Maranhão neste domingo em conversas com líderes da base aliada, que pressionavam pela alteração na data. O receio seria de que pudesse haver falta de quórum e, com isso, a votação só ocorreria na volta do recesso, em agosto.
O governo interino de Michel Temer havia pedido, ainda na semana passada, que a base aliada na Câmara tentasse convencer Maranhão a mudar a data. Em reunião entre lideranças do PMDB, PEN, PTB, PSC, PP, PTN, PR, PRB, PV, PHS, SD, Pros e PSL, chegou a ser defendida a fixação da eleição para esta terça-feira. Representantes do PT, PSDB, PSB, DEM, PDT e Rede, entretanto, abandonaram o encontro por entender que a votação na terça-feira seria uma forma de ajudar Eduardo Cunha, pois inviabilizaria a reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), marcada para votar o parecer de recurso do deputado contra a aprovação, na Comissão de Ética, de seu pedido de cassação.
Leia mais:
Janot pede que Eduardo Cunha devolva R$ 299 milhões de supostos desvios
Após anunciar renúncia, Cunha usa WhatsApp para orientar bancada
"Plano A é controle de despesas, B é privatização, e C, aumento de imposto", diz Henrique Meirelles
Além do debate em torno da data, a eleição também chama atenção pela quantidade de candidatos dispostos a ocupar o mandato tampão até fevereiro de 2017. Até o momento, seis candidatos já registraram as candidaturas e outras duas foram anunciadas, mas ainda não oficializadas. Mas a expectativa é que o número aumente consideravelmente a partir de segunda-feira, o que pode levar a um recorde de candidaturas.
Maior bancada da Câmara dos deputados, o PMDB, com 66 deputados, saiu na liderança no quesito número de candidaturas, com dois nomes, até o momento, disputando o cargo oficialmente: Marcelo Castro (PI) e Fábio Ramalho (MG). Além destes, há a expectativa do registro de candidatura de mais alguns correligionários de Temer. Nos bastidores, ventilam-se os nomes dos deputados Baleia Rossi (SP), Osmar Serraglio (PR), Carlos Marun (MS) e Sérgio Souza (PR) como possíveis candidatos do partido.
Ao lado de Castro e Ramalho, oficialmente já registraram candidaturas os deputados Fausto Pinato (PP-SP), Carlos Gaguim (PTN-TO), Carlos Manato (SD-ES) e Heráclito Fortes (PSB-PI). Já os deputados Beto Mansur (PRB-SP), primeiro-secretário da Câmara, e Cristiane Brasil (PTB-RJ), filha do delator do mensalão Roberto Jefferson, anunciaram a intenção de concorrer, mas ainda não formalizaram as candidaturas.
Também são aguardadas as candidaturas dos deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Rogério Rosso (PSD-DF). Há ainda a possibilidade de uma candidatura do PSol. Maia tentar costurar o apoio a sua candidatura fora do chamado centrão, tentando aglutinar o PSDB, PPS e PSB. Maia tenta ainda o apoio de partidos da oposição, como o PT e o PCdoB. Já Rosso, apesar de negar que está na disputa, busca se viabilizar como o candidato de consenso do Planalto.
A renúncia de Eduardo Cunha, na quinta-feira passada, colocou mais lenha no ambiente político brasileiro. Alguns parlamentares acusaram uma manobra de Cunha, visando colocar um aliado no comando da Casa. A medida foi encarada como uma espécie de cartada final para escapar da cassação do mandato.
Na intenção de consolidar o governo, em uma eventual confirmação do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, para Temer é fundamental que um aliado de confiança ocupe o posto. Cauteloso, o Planalto tem monitorado com discrição as movimentações para a sucessão de Cunha.
Contudo, aliados do presidente interino já encaram a situação como uma espécie de sinal amarelo, uma vez que a quantidade de candidaturas aponta para uma dispersão entre os aliados de Temer. Em várias ocasiões, integrantes do governo declararam que Temer não vai se envolver na disputa, com receio de que uma candidatura oficial venha a levar um racha na base do governo.
*Com informações da Agência Brasil