Causou incômodo no PT gaúcho a revelação de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou seus candidatos preferenciais para a eleição de 2026 no Rio Grande do Sul. Conforme revelado por Zero Hora, Lula deseja ter o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta, concorrendo ao Senado e o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto, disputando mais uma vez o governo do Estado.
A decisão provocou uma áspera discussão nas hostes petistas desde a noite de quinta-feira (31), sobretudo acerca da precipitação do debate eleitoral. Embora os dois nomes já despontassem como favoritos internamente, houve reações por conta da ausência de uma discussão prévia dentro da legenda antes de as candidaturas serem tratadas publicamente.
Preocupados com a repercussão, Pretto e Pimenta minimizaram o teor da decisão de Lula. Principal liderança do PT do Estado e considerado o gaúcho mais próximo do presidente, Pimenta distribuiu uma nota interna na qual classifica a discussão como extemporânea.
“Os desafios do PT exigirão amplo diálogo interno para definições. Dialogo com todo mundo, incluindo o campo mais amplo da esquerda, além do PT. Não acho adequado esse debate nesse momento”, escreveu o ministro.
Pretto fez uma publicação nas redes sociais, afirmando estar focado na administração da Conab. Sobre a eleição de 2026, afirmou que deverá ser discutida “nas instâncias partidárias, com a participação de todos, no tempo e na forma adequados”.
Presidente estadual do PT, Juçara Vieira, diz que o lançamento de nomes com tanta antecedência e pela imprensa atrapalha a formação de alianças, principal objetivo do partido para 2026. Juçara reconhece que Pimenta e Pretto têm forte respaldo interno, mas que “não se pode queimar etapas”.
— Há um reconhecimento a essas duas lideranças, mas podem surgir outras candidaturas. Nossa maior preocupação é passar uma sinalização de que vamos discutir só no partido. Precisamos conversar internamente, depois ouvir nossa federação (PT/PCdoB/PV) e depois os outros partidos do campo democrático — salienta Juçara.
A prioridade do PT para 2026 é ampliar a coligação que deu suporte à Maria do Rosário na disputa pela prefeitura de Porto Alegre. O objetivo primordial, além de manter unidos os seis partidos de esquerda (PT/PSOL/PCdoB/PV/Rede/PSB), é atrair o PDT. Dirigentes petistas temem que o lançamento prematuro de dois nomes para a próxima eleição mantenha o PDT afastado e ainda cause problemas com o PSB, duas legendas que não estiveram na campanha de Pretto ao Palácio Piratini em 2022.
— O presidente Lula é nossa maior liderança, mas temos uma dinâmica democrática interna que tem um rito, uma agenda e um calendário — afirma a presidente do PT de Porto Alegre, Laura Sito.
O movimento de Lula reafirma um desejo do presidente de influenciar pessoalmente na montagem de palanques Brasil afora para 2026. Em conversas reservadas, Lula manifesta descontentamento com as candidaturas do PT no RS, em especial a de Pretto em 2022 e a de Rosário neste ano.
Há dois anos, Lula pediu pessoalmente ao ex-governador Tarso Genro que disputasse o Palácio Piratini. Enquanto aguardava resposta, soube pela imprensa que o candidato seria Pretto, a quem atribui o baixo crescimento de sua votação no segundo turno no Estado.
No primeiro turno, Lula teve 42% de votos no RS. Olívio Dutra, concorrendo ao Senado, teve 38%, e Pretto, 26%. Sem um petista no segundo turno, Lula fez 43% dos votos, crescimento de apenas um ponto percentual, enquanto Jair Bolsonaro passou de 48% para 56%, abrindo 400 mil votos de vantagem no Estado.
Para a próxima eleição, Lula prioriza o Senado, território onde projeta o maior enfrentamento com o bolsonarismo. Nesse contexto, a escolha por Pimenta leva em consideração pesquisas qualitativas, a densidade eleitoral (é o deputado federal mais votado da esquerda no RS) e sua liderança no PT gaúcho. Na disputa da segunda cadeira ao Senado, Lula não descarta nem mesmo o apoio informal ao governador Eduardo Leite (PSDB).
Para a candidatura ao Piratini, o entendimento é de que agora Pretto é o nome natural e qualquer outra opção pode tumultuar as relações internas. Todavia, algumas correntes do partido enxergaram na exposição pública — Pretto e Pimenta celebraram a preferência de Lula publicando uma foto sorrindo e de mãos dadas em suas contas no Instagram — uma intromissão indevida e precoce na autonomia partidária. Em círculos restritos, começa a surgir a intenção de lançar uma pré-candidatura para confrontar Pretto.
O próximo embate, porém, será pelo controle do diretório estadual, cuja eleição ocorre em maio. Como nenhuma tendência tem maioria absoluta, será preciso uma repartição de poder.
— Ainda é muito cedo para discutir 2026, recém terminamos uma eleição municipal. O foco agora é a renovação da direção, com organização partidária e atualização programática — defende o deputado Pepe Vargas, ex-presidente do partido e expoente da corrente Democracia Socialista.