A eleição municipal ainda não acabou, restando a disputa do segundo turno nos principais colégios eleitorais do Rio Grande do Sul, mas círculos restritos da cúpula da política gaúcha já divisam 2026. A resposta dos eleitores nas urnas projeta MDB, PT e PL como protagonistas na corrida pelo governo do Estado dentro de dois anos.
A turbulência deve ser maior no MDB. O partido conquistou 125 prefeituras no domingo (nove a menos do que 2020), mas esteve a 1.945 votos de reeleger Sebastião Melo no primeiro turno em Porto Alegre. Ao demonstrar tamanho vigor eleitoral, sobretudo após a crise da enchente, Melo se consolida como expoente da legenda.
Uma vitória robusta no segundo turno, apontam seus aliados, ofereceria a Melo as credenciais para reivindicar a candidatura ao Palácio Piratini. O atual vice-governador, Gabriel Souza, também do MDB, é o nome preferencial da sigla para a sucessão de Eduardo Leite.
Todavia, há no grupo de Gabriel receio de que Melo abrevie um eventual segundo mandato para disputar a indicação do MDB. Liderando grupos distintos dentro do partido, eles estiveram em lados opostos em 2022. Enquanto Gabriel primeiro carregou o MDB para a chapa de Leite, Melo esteve à frente de dissidência que fez campanha para Onyx Lorenzoni (PL). No acordo costurado com o tucano na formalização da aliança à época, ficou acertado que Gabriel seria o candidato da situação em 2026, apoiado por Leite.
Para sacramentar essa posição e conter possíveis defecções internas, Gabriel encaminha o apoio de Leite à reeleição do correligionário. O vice fez questão de agendar reunião do trio nesta terça-feira (8), aparando possíveis arestas da eleição passada.
O objetivo é mostrar que não guarda ressentimento do comportamento do prefeito e enviar um recado eloquente às instâncias partidárias. Para não correr riscos de ser derrotado numa eventual prévia em 2026, Gabriel fez campanha em mais de 60 municípios no primeiro turno e reafirmou o controle sobre o diretório e a executiva estadual, isolando opositores.
Pesa a favor de Gabriel o fato de Melo ter aceitado a indicação do PL para a vaga de vice. Ao aceitar Betina Worm, uma neófita em política e na gestão municipal, Melo tornou mais difícil uma renúncia do que se tivesse mantido o vice atual, Ricardo Gomes, já ambientado à administração da Capital.
Betina foi escolha pessoal do deputado federal Luciano Zucco, hoje a principal liderança no PL no Estado. Campeão de votos em 2018, para a Assembleia Legislativa, e em 2022, para a Câmara, Zucco é o gaúcho mais próximo de Jair Bolsonaro.
Ao atuar como principal interlocutor de Bolsonaro, o parlamentar se cacifou diante dos pares, prestígio que reforçou ajudando na eleição de prefeitos e vereadores. Zucco nunca escondeu a ambição de disputar um cargo no Executivo — já vislumbrava a prefeitura de Porto Alegre em 2020 —, mas os números nas urnas abrem o leque. Embora tenha o nome citado com entusiasmo para o governo do Estado, deve disputar o Senado, onde Bolsonaro pretende formar uma bancada vigorosa capaz de levar a cabo o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal.
Neste caminho, Zucco abre vantagem sobre o ex-ministro Onyx Lorenzoni e o presidente do PL no Estado, Giovani Cherini. Responsável por espraiar o partido pelos confins do RS, Cherini postula concorrer ao Senado em 2026, algo tido como difícil de construir caso Zucco ocupe uma das candidaturas e a outra vaga seja destinada a aliados, como Marcel van Hattem (Novo).
Já Onyx se distanciou de Bolsonaro e das próprias bases ao se impor um autoexílio na Europa após a derrota de 2022. Ele fez campanha pelo Interior nas últimas semanas, mas só volta a fixar residência no Estado em junho de 2025, quando pretende planejar nova candidatura a governador.
No PT, o resultado amargo nas urnas frustrou expectativas, mas não desanimou a cúpula do partido. A estimativa era eleger de 30 a 40 prefeitos, porém foram apenas 19 vitórias no primeiro turno. Mesmo que haja êxito em Pelotas, Santa Maria e Porto Alegre, onde disputa o segundo turno, o escore será um dos piores da história, muito abaixo das 72 conquistas de 2012 e ainda inferior às 23 de 2020.
A despeito da performance, a direção nacional entende que o partido vem recuperando força, com o Rio Grande do Sul sendo o principal sustentáculo da legenda no sul do país. Os dirigentes atribuem os 26% dos votos válidos no primeiro turno à rejeição elevada de Maria do Rosário na Capital e consideram que diversos fatores locais são determinantes em eleições municipais, sem necessariamente configurar crescimento do antipetismo.
Apostas da esquerda
Para 2026, as apostas são o ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta, e o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Edegar Pretto.
Gaúcho mais próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Pimenta aproveitou os quatro meses em que atuou como ministro da Reconstrução para solidificar uma candidatura ao Senado, mas em cada município visitado é recebido pela militância como próximo candidato a governador. A decisão final caberá a Lula na definição da estratégia nacional do PT para a próxima eleição.
O destino de Pimenta terá consequências no de Pretto. Terceiro colocado na disputa do Piratini em 2022, quando ficou de fora do segundo turno por escassos 2.441 mil votos, Pretto se recusou a concorrer à prefeitura da Capital para não arriscar nova derrota. Cotado para um ministério na montagem do governo Lula, acabou ficando com um cargo de menor visibilidade, condição que busca compensar multiplicando agendas pelo interior do Estado com vistas a montagem de um palanque robusto à sucessão de Leite em 2026.