Enquanto os eleitores de 51 municípios brasileiros aguardam para eleger seus prefeitos no segundo turno, no domingo (27), os principais antagonistas da política nacional já planejam o próximo embate nas urnas. Em 2026, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o antecessor, Jair Bolsonaro, irão esgrimir forças não só na corrida pelo Palácio do Planalto, mas sobretudo na disputa pelas vagas no Senado.
A formação de uma maioria parlamentar na Casa é prioridade para os dois campos ideológicos. Para tentar robustecer as bancadas no principal parlamento do país, Lula e Bolsonaro irão indicar pessoalmente os candidatos em alguns Estados, inclusive abrindo mão de postulantes dos próprios partidos — respectivamente, PT e PL.
A estratégia passou a ganhar forma após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tornar Bolsonaro inelegível em dois processos diferentes. Sem poder concorrer em 2026, o ex-presidente trabalha para montar uma bancada expressiva e pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF), derradeira instância onde seus processos serão julgados.
Além das duas inelegibilidades, Bolsonaro tem pendências criminais, como uma ação penal e três inquéritos tramitando no STF. Mais do que recuperar os direitos políticos, ele tenta evitar ser preso ante uma eventual condenação na Corte.
Como o Senado é responsável por julgar impeachment dos ministros do STF, a formação de uma maioria confortável na Casa daria a Bolsonaro o poder necessário para tentar acuar a Corte ou até mesmo cassar algum dos seus algozes.
O alvo primordial é o ministro Alexandre de Moraes, mas também são considerados inimigos o atual presidente do tribunal, Luís Roberto Barroso, bem como Flávio Dino, ex-ministro de Lula.
A atual bancada bolsonarista tem pelo menos 31 senadores, espalhados por seis partidos, como os ex-ministros Ciro Nogueira (PP) e Damares Alves (Republicanos), além dos gaúchos Luis Carlos Heinze (PP) e Hamilton Mourão (Republicanos).
Na disputa pela presidência do Senado, em 2023, Rogério Marinho (PL) obteve 32 votos, apenas nove a menos dos 41 necessários à vitória.
Em 2026, estarão em jogo 54 dos 81 assentos, dois terços da ocupação do plenário. PT e PL terão, cada um, seis parlamentares encerrando o mandato. A diferença é que o PL tem 14 senadores, enquanto o PT apenas nove.
Na tentativa de frear a ofensiva de direita, Lula busca nomes competitivos no PT e acena com apoio a políticos de centro. Além de fortalecer a defesa do STF, o presidente teme pelo próprio mandato, já que, caso seja reeleito, também pode entrar na mira de um eventual processo de impeachment.
Esse movimento faz com que Lula considere imprescindível ter a palavra final em alguns Estados.
No Rio Grande do Sul, ele quer decidir os nomes das vagas ao Senado e a governador. Segundo aliados, o presidente considera que o PT gaúcho precisa avaliar melhor suas escolhas.
Na eleição passada, Lula pediu ao ex-governador Tarso Genro que disputasse o Palácio Piratini, mas só ficou sabendo pela imprensa que o candidato seria Edegar Pretto, cuja performance não reforçou a candidatura presidencial no Estado.
Abertas as urnas no primeiro turno, Lula teve 42% de votos no RS; Olívio Dutra, 38% ao Senado; e Pretto, 26%. Sem um aliado no segundo turno, Lula fez 43% dos votos, crescimento de apenas um ponto percentual, enquanto Bolsonaro passou de 48% para 56%, ganhando 400 mil votos a mais do que o petista.
Para 2026, o principal nome do PT gaúcho é o ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta. Embora tenha se preparado para concorrer a senador, ele deve disputar o governo para garantir um palanque mais robusto a Lula.
Ao Senado, os estrategistas palacianos não descartam uma candidatura de Paulo Paim (PT) ao quarto mandato consecutivo e um apoio ao governador Eduardo Leite (PSDB) na segunda vaga.
A ação, inédita e complicada diante das divergências entre os dois partidos, é justificada pelo presidente como necessária para evitar a eleição de um aliado de Bolsonaro. Por enquanto, os principais nomes do ex-presidente ao Senado no Estado são Luciano Zucco e Giovani Cherini, ambos do PL, e Marcel van Hattem, do Novo.
No eixo Norte-Nordeste, o objetivo é manter a predominância política reelegendo petistas como Randolfe Rodrigues no Amapá, Humberto Costa em Pernambuco e Rogério Carvalho em Sergipe e dando apoio a Renan Calheiros em Alagoas, Eduardo Braga no Amazonas e Jader Barbalho no Pará, todos do MDB. Na Bahia, reduto petista, há possibilidade de os dois maiores nomes do partido no Estado, Jaques Wagner e Rui Costa, concorrerem.
Wagner tem afirmado que não pretende disputar nova eleição, mas pode ser convencido por Lula. Se isso ocorrer, Costa estuda até mesmo migrar para o Avante, partido que ajudou a inflar nos últimos anos, evitando melindrar aliados com o PT ocupando as duas vagas ao Senado e a cabeça de chapa ao governo com a ida de Jerônimo Rodrigues à reeleição.
O confronto mais disputado será no Sul-Sudeste. Em São Paulo, Lula cogita fazer candidato o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. No Rio, Estado em que hoje os três senadores são bolsonaristas, uma das vagas seria de livre escolha do prefeito Eduardo Paes (PSD) e a outra entregue a Marcelo Freixo (PT).
Uma das ações concebidas por Bolsonaro para a região é eleger os três filhos. Senador em fim de mandato em 2026, Flávio Bolsonaro (PL) é considerado favorito à reeleição pelo Rio de Janeiro. Para compor a bancada familiar, a ideia é lançar Eduardo Bolsonaro (PL) por São Paulo e Carlos Bolsonaro (PL) por Santa Catarina.
Nos demais Estados, despontam expoentes do bolsonarismo, como Nikolas Ferreira em Minas Gerais e Gustavo Gayer em Goiás, os dois do PL. Pretensos candidatos à Presidência, como os governadores do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), de Goiás, Ronaldo Caiado (UB), e de Minas, Romeu Zema (Novo), também são lembrados.
A despeito de tamanha articulação política, a grande batalha de 2026, por óbvio, será pela Presidência da República. Até porque de nada adiantaria a Bolsonaro conseguir cassar ministros do STF se Lula for reeleito e indicar seus sucessores.
> Veja os possíveis candidatos em 10 Estados:
São Paulo
- Petismo: Fernando Haddad (PT)
- Bolsonarismo: Eduardo Bolsonaro (PL)
Rio de Janeiro
- Petismo: Marcelo Freixo (PSB), André Ceciliano (PT) e Lindbergh Farias (PT)
- Bolsonarismo: Flávio Bolsonaro (PL), Cláudio Castro (PL) e Carlos Portinho (PL)
Minas Gerais
- Petismo: Alexandre Silveira (PSD)
- Bolsonarismo: Nikolas Ferreira (PL)
Rio Grande do Sul
- Petismo: Paulo Paim ou Paulo Pimenta (PT)
- Bolsonarismo: Luciano Zucco (PL), Giovani Cherini (PL) e Marcel van Hattem (NOVO)
Santa Catarina
- Petismo: Pedro Uczai (PT)
- Bolsonarismo: Carlos Bolsonaro (PL) e Adriano Silva (NOVO)
Paraná
- Petismo: Gleisi Hoffmann ou Enio Verri (PT)
- Bolsonarismo: Ratinho Jr (PSD)
Espírito Santo
- Petismo: Fabiano Contarato (PT)
- Bolsonarismo: Carlos Manato (PL)
Pernambuco
- Petismo: Humberto Costa (PT) e Marília Arraes (SD)
- Bolsonarismo: Gilson Machado (PL)
Bahia
- Petismo: Jaques Wagner ou Rui Costa (PT)
- Bolsonarismo: João Roma (PL)
Goiás
- Petista: Adriana Accorsi (PT)
- Bolsonarismo: Gustavo Gayer (PL)