Dois candidatos oposicionistas disputam o segundo turno da eleição de Pelotas. Essa talvez seja uma das poucas características compartilhadas por Fernando Marroni (PT) e Marciano Perondi (PL), adversários que querem assumir a gestão da cidade com a quarta maior população do Rio Grande do Sul, mas que é apenas a oitava no ranking da economia.
Concorrendo por uma coligação de esquerda, o candidato do PT venceu o primeiro turno com 39,6% dos votos válidos, enquanto o concorrente pelo PL, que representa a direita, amealhou 31,6%. Quem se sagrar vencedor sucederá o governo do PSDB, à frente da prefeitura há 12 anos e cujo candidato ficou em terceiro lugar.
Tarimbado na vida pública, Marroni tenta voltar ao cargo que ocupou há duas décadas, entre 2001 e 2004. Engenheiro eletricista de profissão, é casado com a vereadora eleita Miriam, pai de duas filhas e avô de dois netos. Desde 1996, disputou cinco eleições para a prefeitura, mas só ganhou uma. Nesse período, se elegeu duas vezes deputado federal e depois deputado estadual.
Proveniente do setor privado, Perondi não tem experiência em gestão pública. Estreante na política e morador de Pelotas há um ano e 10 meses, é advogado e empresário, atuando como sócio de uma incorporadora e proprietário de uma escola particular. Casado com a arquiteta Rafaela, é pai de um casal de filhos.
Fora do turno decisivo, o grupo político que governa Pelotas há mais de uma década se dividiu. No PSDB, o governador Eduardo Leite e a prefeita Paula Mascarenhas declararam voto em Marroni, enquanto o deputado federal Daniel Trzeciak ficou ao lado de Perondi, aparecendo inclusive no horário eleitoral.
O candidato do PL ainda obteve o apoio da maioria dos partidos que integram o governo atual, como o PP, do ex-prefeito Fetter Júnior, e o PSD, que fez a maior bancada da Câmara Municipal. Por sua vez, aderiram a Marroni os ex-candidatos Irajá Rodrigues (MDB) e Reginaldo Bacci (PDT), quarto e quinto colocados no primeiro turno.
Quem assiste aos debates e entrevistas dos dois candidatos percebe a diferença no estilo, nas propostas e nas bandeiras. Marroni propõe fortalecer as empresas locais, estimular agroindústrias e alinhar a prefeitura aos governos estadual e federal para obter recursos. Perondi promete atrair grandes companhias para gerar empregos, fazer parcerias com a iniciativa privada e reduzir a máquina pública.
Se o candidato do PL tenta rememorar problemas na gestão de Marroni na prefeitura e lembra das sucessivas derrotas do petista, o ex-prefeito contesta a declaração de patrimônio do adversário e, sempre que pode, o caracteriza como um forasteiro.
Embora se esforcem para agradar eleitores moderados ou sem identificação ideológica, os concorrentes mimetizam a polarização que marca a política nacional, entre o PL e o PT. Se Marroni usa vídeos do presidente Lula como trunfo em sua propaganda, Perondi recebeu o ex-presidente Jair Bolsonaro em evento de apoio no primeiro turno.
Na reta final, o acirramento da campanha escalou, com ataques mútuos em redes sociais, no WhatsApp e até em cartazes apócrifos colados em postes e muros da cidade.
Estes cartazes, além de ofensas percebidas nas redes sociais, motivaram uma ação de Perondi na Justiça Eleitoral, contra a campanha do rival. Um mandado de busca e apreensão foi cumprido no comitê de Marroni nesta quarta-feira (23). De acordo com a equipe do petista, nenhum material irregular foi encontrado.
Nos últimos dias, agentes externos apareceram em Pelotas para se engajar na eleição. Enquanto o ministro Paulo Pimenta e o prefeito eleito de Bagé, Luiz Fernando Mainardi, encorparam a mobilização por Marroni, o atual prefeito bageense, Divaldo Lara, e a deputada estadual Adriana Lara reforçaram a campanha de Perondi.
A despeito do ambiente tenso que marca a semana decisiva, a cidade irá às urnas ainda sob a comoção pelo acidente que matou sete jovens remadores pelotenses, o treinador e o motorista da van, ocorrido no Paraná. A tragédia provocou o cancelamento das atividades de campanha na última segunda-feira e a suspensão de um debate marcado para a data.
Opostos
O que dizem Marroni e Perondi sobre alguns dos principais temas da eleição:
Diferença de projetos
Fernando Marroni
Nossa principal diferença é o jeito de fazer. Vamos ter uma relação articulada com o governo do Estado e com o governo federal, e o outro lado com certeza não terá, porque os bolsonaristas querem confronto com o presidente Lula e com o governador.
Marciano Perondi
Sou um cara autêntico, que não mente. Venho da iniciativa privada, gero empregos, criei um colégio e tenho uma construtora. Consigo trazer renda pra cá. Vou reduzir os cargos em comissão e as secretarias pela metade, o que meu adversário não vai fazer.
Mudanças na gestão
Fernando Marroni
Precisamos fazer uma reconstrução na nossa cidade, que tem muitos problemas de saneamento, de pavimentação e também na saúde e na educação. E para isso precisamos promover desenvolvimento fortalecendo as empresas locais.
Marciano Perondi
Hoje qualquer setor da prefeitura é muito travado, muito difícil. Nós precisamos enxugar a máquina pública, pra sobrar dinheiro e diminuir impostos. Quanto menor a carga tributária, maior o desenvolvimento econômico.
Retomada do crescimento
Fernando Marroni
Temos um rico patrimônio cultural e não conseguimos fazer disso um produto que gere um emprego diversificado, sendo que o turismo é uma das indústrias que mais geram emprego. Vamos fortalecer a biotecnologia aproveitando a capacidade das universidades, do parque tecnológico e das indústrias ligadas à área da saúde e agregar valor à produção agrícola através das agroindústrias.
Marciano Perondi
Vamos diminuir a burocracia pra atrair investimentos. Estamos negociando a vinda de uma esmagadora de soja e conversando com empresas do polo metalmecânico para desenvolver a indústria do agro, porque muitos implementos podem ser fabricados aqui. Vamos atrair empresas grandes e elaborar projetos para angariar recursos de fundos, com um governo técnico.
Apoio de Leite
Fernando Marroni
Foi muito importante o apoio do governador, tanto o dele como o da prefeita e dos outros partidos. É uma mensagem de união dos democratas da nossa cidade pra que a gente possa avançar e resolver os problemas reais.
Marciano Perondi
Eu acho que isso me ajudou. O Eduardo Leite abominava o PT, falava que nunca votaria no PT, e agora está apoiando, isso gera descrédito. E a Paula faz um péssimo governo. As pessoas não querem mais essa velha política.