O partido à frente da Presidência da República teve desempenhos divergentes em nível nacional e no Rio Grande do Sul em sua primeira eleição municipal desde o retorno ao comando do país.
O PT registrou crescimento no total de vereadores eleitos e de prefeituras conquistadas no primeiro turno de 2024 em comparação a quatro anos atrás na soma de todas as regiões, mas manteve, entre os eleitores gaúchos, o processo de declínio iniciado em 2016 — ano marcado pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Apesar da melhora dos números totais nos municípios brasileiros, a legenda ainda tenta recuperar a administração de uma capital.
O resultado apurado no domingo (6) mostrou um salto de 39% nas cidades onde a sigla venceu em comparação ao primeiro turno da eleição anterior: passou de 178 para 248 prefeituras. O desempenho reverte uma tendência de queda que vinha sendo observada desde o ano do impeachment de Dilma. Até ali, o partido só crescia no país. Havia saltado de 176 prefeitos eleitos no ano 2000 para pouco mais de 600 em 2012 (veja detalhes no infográfico mais abaixo). A partir de 2016, passou a minguar nas urnas — até estancar a perda de eleitores agora.
A quantidade de vereadores empossados seguiu uma curva semelhante nos mesmos períodos: pulou de 2,4 mil para 5,1 mil entre 2000 e 2012 e também passou a decair até retornar ao patamar de 2,6 mil legisladores eleitos em 2020. Nesta eleição, interrompeu esse recuo e emplacou 17% a mais de filiados nas Câmaras.
O cientista político e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Peres afirma que o período de bonança petista foi interrompido na década passada por uma combinação de denúncias de corrupção e protestos populares que foram seguidos pela saída de Dilma e pela prisão de Luiz Inácio Lula da Silva em 2018. Para o especialista, os períodos de expansão nos municípios têm se seguido à conquista do poder nacional.
— Talvez, se tivesse concorrido, Lula poderia ter vencido (em 2018) e, quem sabe, interrompido esse retrocesso no número de prefeitos e vereadores. Essa é uma hipótese contrafactual plausível, pois a chegada de Lula agora em 2022 parece ter exercido efeito positivo nesse aspecto, já que o PT voltou a crescer, embora não no Rio Grande do Sul. Temos, assim, indícios de que, no caso do PT, é crucial a conquista da presidência da República para que o partido cresça nas disputas municipais. Teremos de aguardar as próximas eleições municipais para confirmar essa possibilidade — analisa Peres.
Apesar dos sinais de recuperação, a sigla ainda tenta recuperar o espaço perdido na gestão das capitais. Chegou a governar nove metrópoles a partir de 2004, mas desde 2020 não assume o controle nas principais cidades do Brasil. Estará presente no segundo turno em quatro desses municípios: Porto Alegre, Natal, Fortaleza e Cuiabá. Em todos eles, os candidatos petistas avançaram em segundo lugar.
No RS, declínio se mantém
O Rio Grande do Sul, que garantiu algumas das vitórias mais emblemáticas da sigla em décadas passadas, como a eleição de Olívio Dutra para prefeito de Porto Alegre em 1988, hoje é um dos territórios mais hostis aos petistas no âmbito municipal, em comparação a outros Estados. Entre os gaúchos, a tendência de declínio iniciada em 2016 se manteve: a quantidade de prefeituras conquistadas diminuiu de 23 para 19 (já foram 72), e o contingente de vereadores encolheu em mais 10%.
— Talvez isso indique uma maior consolidação dos partidos de centro direita, direita e extrema direita no Estado, sem descartar, como fator associado, a maior dificuldade do PT estadual para recrutar novas lideranças que empolguem o eleitorado e para ajustar seu discurso e posicionamento num contexto de maior radicalização à direita da polarização política. O PT tem dificuldades para lidar com temas da segurança pública e, em contextos conservadores, fica mais vulnerável quando defende mais enfaticamente temas ligados às pautas identitárias. Mas, por enquanto, são apenas hipóteses. Teremos de investigar isso mais a fundo — complementa Peres.