O cumprimento cordial trocado entre Sebastião Melo (MDB) e Maria do Rosário (PT), assim que os microfones da Rádio Gaúcha fecharam ao fim do primeiro debate entre os candidatos classificados ao segundo turno da eleição de Porto Alegre, contrasta com a hora e meia em que os dois passaram se alfinetando. Sob a apresentação da jornalista Andressa Xavier, ambos se provocaram, trocaram farpas e também falaram sobre o futuro da capital gaúcha. Debateram de maneira acalorada, mas sem alterar os timbres de voz. Trocaram ideias sobre gestão da cidade, saúde, economia, limpeza da cidade, acesso ao saneamento básico, assistência social e transporte público.
A apresentação inicial de cada candidato fez uma ponte do primeiro turno mirando o resultado do segundo, agendado para 27 de outubro. Com a necessidade de praticamente dobrar a sua votação em relação à fase anterior, Maria do Rosário tentou sensibilizar o eleitorado de Juliana Brizola (PDT) e os mais de 30% de porto-alegrenses que não compareceram às urnas.
— Quero reconhecer a campanha da Juliana Brizola e do Dr. Thiago. Estou avaliando com carinho e falando com a população que não votou. Essas pessoas somadas não querem a continuidade. Minha fala é de presente e de futuro — reforçou.
O tema da renovação foi retomado pela candidata ao final do programa, quando fez sua despedida.
Após beirar a vitória no primeiro turno, Melo também iniciou sua participação visando a parte do eleitorado que não conseguiu atingir no primeiro turno. Agradeceu ao apoio do governador Eduardo Leite e a Felipe Camozzato, quarto colocada no pleito de domingo (6).
— Sou a favor do segundo turno. Quero agradecer aos quase 50% dos eleitores que votaram na nossa coligação. Agradecer ao PSDB e ao Novo. (Tenho) o jeito de fazer, como fazer e de onde vem o dinheiro. Bom debate para todos nós — frisou, adotando o mesmo discurso no encerramento da atração.
Embora o formato do debate favorecesse a troca de ideias, com os participantes gerindo o seu tempo com o auxílio de cronômetro, o teor ideológico emergiu com mais força dessa vez, com críticas aos governos Lula, apoiado por Maria do Rosário, e Bolsonaro, defendido por Melo.
Cada candidato propôs um assunto em cada um dos três blocos e, em um segundo momento, responderam a perguntas de jornalistas do Grupo RBS. Apesar de ataques e provocações, nenhum dos candidatos interrompeu o outro em nenhum momento.
Municiada com uma pasta com diversos documentos e um caderno, Rosário equilibrou suas participações entre falas diretas ao eleitor e críticas com provocações a Melo. Em mais de um momento, criticou a estratégia do atual prefeito de utilizar o chapéu de palha como um dos símbolos de sua campanha.
Amparado por algumas fichas, Melo também procurou dialogar diretamente com o eleitor, principalmente a partir do segundo bloco, quando as respostas foram mais incisivas, mas manteve o embate com Maria do Rosário, que trajava terno vermelho e camisa branca.
— O senhor está muito agressivo. Não parece o cara do chapéu de palha — disparou, enquanto Melo abria um sorriso irônico do outro lado do estúdio.
Melo rebateu analisando a postura adotada pela adversária.
— Antes era Maria sem Rosário. Agora, ela é Maria do Rosário como ela é, de ataques, de radicalismo. A senhora não anda pela cidade, está em Brasília mesmo — retrucou Melo, que vestia camisa azul claro.
Em muitos momentos, os pontos antagônicos dos projetos de governo dos dois candidatos ficaram nítidos, com cada um sublinhando sua visão de futuro para Porto Alegre, enfatizando transporte público e saúde.
Melo ressaltou que, nos últimos três anos, a passagem de ônibus não foi aumentada. Rosário enfatizou o sucateamento da frota e a privatização da Carris.
— Sou o primeiro a reconhecer que tem muita coisa a fazer. O transporte avançou. São 400 ônibus novos. Também avançamos na saúde pública. É um desafio. A cidade avançou muito e vamos avançar ainda mais — disse Melo.
— Temos propostas coerentes e vinculadas aos ministérios da Saúde e da Educação. O Melo não tem cuidado como um todo (em relação ao município) e fala de uma cidade de fantasia — retrucou a petista.
No intervalo entre os dois primeiros blocos, Rosário deixou o estúdio, enquanto Melo ficou sob orientação de sua assessora. Na volta, o embate versou sobre saneamento básico, sobretudo a situação do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), e da poda de árvores. O primeiro aspecto apresentou visões bem antagônicas.
— Fizemos muito, mas tem muito a fazer. Vou priorizar uma parceira para o Dmae. O Dmae público não está respondendo com velocidade – propôs o emedebista.
Rosário foi incisiva na resposta e criticou o que o atual governo, na sua visão, fez com o departamento.
– O Dmae público é um compromisso que carrego. É uma questão de gestão. Viva o Dmae! O Melo sucateia para privatizar – enfatizou.
Após o encontro ter atingido a sua temperatura máxima nesse bloco, o intervalo foi descontraído. Depois de o atual prefeito provocar que a concorrente estatizaria até uma famosa lancheria da cidade, os dois se perguntaram sobre quem frequenta o local ou não. Andressa brincou que entrevistará ambos no estabelecimento antes do fim da campanha. Todos riram e comentaram que o assunto aguçou a fome.
Por fim, a revitalização do Centro Histórico ganhou protagonismo.
— Quantos negócios fecharam no Centro Histórico? O senhor é responsável por um alagamento no Centro Histórico. Vamos estimular os negócios, com turismo, gastronomia e criar um projeto cênico que constitua a rota gastronômica no 4º Distrito e um museu a céu aberto — disse Rosário.
Mais do que poderá ser feito nos próximos quatro anos, Melo elencou ações que realizou durante a sua gestão. E fez uma promessa:
— Estamos derrubando o Esqueletão. Colocamos 12 milhões para reabrir o Mercado Público. O Viaduto Otávio Rocha ficará pronto no fim do ano, Usina do Gasômetro, Praça da Matriz e nove ruas do Centro. É importante para revitalizar a alma da cidade. Vou baixar o IPTU do centro.
Assim que os microfones se fecharam, os dois estenderam a mão para um cumprimento firme, mas cordial, assim como o debate que protagonizaram.
