
Afiado, mas respeitoso. Assim pode ser definido o primeiro debate do segundo turno, entre Sebastião Melo (MDB) e Maria do Rosário (PT), na Rádio Gaúcha. Sem os coadjuvantes do primeiro turno, os dois tiveram a oportunidade de aprofundar temas essenciais ao futuro da cidade e ressaltar as diferenças entre projetos.
A principal novidade foi a nacionalização do debate. Maria do Rosário fez questão de ressaltar a ligação de Melo com o ex-presidente Jair Bolsonaro, quando o prefeito a acusou de ter defendido o fechamento das escolas na pandemia. A deputada disse que estava defendendo a vida de pais, professores e alunos, enquanto o prefeito queria oferecer cloroquina à população.
De sua parte, cada vez que era cobrado pelas denúncias de corrupção no Departamento Municipal de Água e Esgoto, na Secretaria Municipal de Educação e no Hospital da Restinga, Melo citava os escândalos que envolveram o PT e para os quais ela "passou pano", como mensalão e petrolão. O prefeito reafirmou o que disse no primeiro turno, que ao tomar conhecimento de qualquer denúncia de corrupção encaminhou aos órgãos competentes. Maria do Rosário perdeu a oportunidade de lembrar o esforço da base do governo para abafar a CPI da Smed e de registrar que foi o trabalho da imprensa (mais especificamente do GDI) que escancarou o escândalo e levou ao afastamento da então secretária de Educação, Sônia da Rosa, e os inquéritos da Polícia Civil contra ela e outros envolvidos no esquema.
Faltou aprofundar as propostas e, neste caso, não se pode culpar a falta de tempo. O formato, com a gestão do tempo a cargo dos candidatos, permitia uma profundidade, mas, mesmo assim, faltou clareza em relação aos tempos e à forma como serão cumpridas as promessas de campanha. No primeiro turno era praticamente impossível esse detalhamento em razão do tempo mais exíguo.
Na educação, por exemplo, os dois se comprometeram com a qualificação das escolas e o aumento da oferta de vagas na educação infantil, mas sem aprofundar a forma como isso será feito. Maria do Rosário falou de jornadas pedagógicas, mas não assumiu compromisso com metas. Melo, da mesma forma, reconheceu que os resultados são insatisfatórios, mas preferiu empurrar a responsabilidade para o tempo em que o PT governou e adotou o sistema de ciclos, sem reprovação. Faltou a Maria do Rosário rapidez de raciocínio para lembrar que seu partido está fora do poder em Porto Alegre desde 2004.
A discussão sobre o transporte coletivo foi igualmente rasa. Para além do reconhecimento de que a qualidade deixa a desejar, faltou apontar caminhos. Quando Maria do Rosário defendeu a integração dos ônibus da Região Metropolitana e falou em estender o trensurb até Alvorada, Melo lembrou que o trem ainda não conseguiu chegar ao Mercado Público depois da enchente. Rosário culpou o alagamento, que teria sido causado por omissão da prefeitura na manutenção das bombas.
Mesmo quando o jornalista Antônio Carlos Macedo propôs, no último bloco do debate, que um elencasse os motivos para não votar no adversário, Rosário e Melo foram diplomáticos, sem deixar de apontar os pontos fracos do concorrente.