O Mercado Público de Porto Alegre abriu nesta quinta-feira (3) em clima de festa. Com um dia ensolarado, comerciantes montavam as bancas e começaram a vestir uma camiseta produzida para marcar o aniversário de 155 anos do espaço, que é o mais antigo do gênero em operação no Brasil.
Neste ano, a celebração vem marcada por um sentimento de força, algo bastante presente na história do mercado, que enfrentou tragédias, como incêndios, e enchentes, como a de 1941 e a de maio deste ano.
Ainda buscando se reerguer por completo após 41 dias fechado e R$ 30 milhões em prejuízos, os mercadeiros querem deixar os momentos difíceis para trás, por isso uma imagem de uma mão com barro foi inserida nas costas da camiseta.
— Significa que todo esse evento da enchente fica para trás. E o bom da camisa é que a gente nem vê mais, agora é só olhar para a frente e fazer com que o Mercado dure por muitos e muitos anos sendo esse símbolo de resiliência para todo o Estado — afirma o presidente da Associação Comercial dos Permissionários do Mercado Público (Ascomepec), Rafael Sartori.
Proprietário da Casa de Carnes Santo Ângelo (banca 8), ele conta, entusiasmado, que nem a temperatura mais baixa desta manhã tira a animação dos preparativos para marcar a data.
— Nosso maior adversário é a chuva, então o frio é muito bem-vindo. Hoje é um dia muito especial para nós, tem gostinho de superação. Talvez seja o aniversário mais marcante destes 155 anos do Mercado. A gente preparou tudo com muito amor e carinho — enfatiza Rafael.
Um dos trabalhadores mais antigos do Mercado, Leonel de Paoli, 78 anos, também estava sorridente. O dono da Banca Bandeira afirma que a loja de artigos religiosos é a mais antiga do espaço, estando presente desde a inauguração.
— A pessoa que nos vendeu explicou que ela foi fundada na abertura do Mercado. Os portugueses que construíram, mas quem trabalhou na obra foram os escravos. E no término, os portugueses deram a banca número 1 para o chefe dos escravos, um tal de Custódio. São histórias que a gente ouve — comenta Leonel.
O lojista explica que começou trabalhando no local em 1962 após servir ao Exército. Depois de duas décadas, comprou a banca em 1985, há quase 40 anos.
— Eu trabalhei 24 anos numa casa só, fui gerente da banca 15. Na época, eram só alimentos secos e molhados, depois os supermercados foram abrindo e foram surgindo outros ramos de negócios no Mercado. Lá passamos por vários segmentos, o último foi uma pecuária — relembra.
Após pedir demissão, o plano de Leonel era abrir outro negócio, mas acabou tendo que se adaptar para realizar o desejo de ter um ponto próprio.
— Ela (a antiga dona) não tinha mais ninguém da família para continuar, aí repassou o ponto para nós com a incumbência de continuar no ramo de religião porque era tradicional. Enquanto ela fosse viva, mas mesmo após ela falecer, a gente seguiu — revela Leonel, que pretendia ficar na agropecuária e até bater concorrência com o antigo patrão.
Mesmo com o negócio já passando para a filha, Leonel diz que precisa vir de manhã para acompanhar a loja.
— Não fico longe do Mercado! — brinca ele, que não abriu mão de permanecer no espaço, mesmo com a família tentando convencer a mudança após a enchente.
Fazendo compras nesta manhã, a governanta Fatima Soeiro Santos estava em dupla comemoração. Ela comentou, sorridente, que estava de aniversário junto com o Mercado Público. Completando 53 anos também nesta quinta-feira, a consumidora disse que costuma vir ao menos uma vez por semana fazer compras para a casa onde trabalha.
— Venho fazer compras para a patroa. Mas estou em Porto Alegre desde 2006 e já vinha no Mercado para passear, encontrar amigos e vir nos barzinhos — conta Fatima, que é de Panambi, e saiu levando queijo minas e peixe.
Programação
Ao meio-dia, na área central do Mercado, próxima ao Bará, será cantado o tradicional "parabéns a você", seguido de bolo. Preparado por jovens atendidos no Centro Social Amavtron, entidade filantrópica que atua na área social, educacional e cultural no bairro Santa Tereza.
Os ingredientes para o doce, que terá 1m50cm e recheio de doce de leite, foram doados pelos patrocinadores. As fatias serão distribuídas à população.
Na parte da tarde, às 15h, será realizada uma missa no segundo andar. Além disso, com patrocínio da Coca-Cola, as bancas estarão decoradas com balões brancos e os permissionários usarão camisetas especiais para o evento.
Até sábado (5), bancas, lojas e restaurantes também terão produtos com preços em promoção para atrair o público.