Preocupado com a manutenção dos próprios votos antes de ampliar a votação à esquerda e à direita, Eduardo Leite (PSDB) decidiu declarar neutralidade no segundo turno da eleição presidencial. Ao anunciar a intenção de não apoiar Jair Bolsonaro (PL) tampouco Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-governador disse nesta sexta-feira (7) que o Brasil viu a disputa mais polarizada da história e que pretende ser "um governador de todos".
— Diante da responsabilidade que tenho como líder de um projeto político na eleição estadual, não vou abrir meu voto — afirmou.
Leite deu entrevista coletiva na sede do comitê central. Tentando fazer do ato uma demonstração de força e coesão política, o tucano surgiu ao lado do governador Ranolfo Vieira Júnior, do vice, Gabriel Souza (MDB), de parlamentares, secretários estaduais, prefeitos e dirigentes partidários, numa mobilização até então jamais vista na campanha.
Ao microfone, num discurso lido, fez o mais forte pronunciamento da eleição, se contrapondo a Onyx Lorenzoni (PL) como candidato que fez carreira com os próprios méritos, enquanto o adversário teria "se pendurado" em Bolsonaro.
— Meu adversário quer discutir Bolsonaro ou Lula porque não tem ideias, não tem propostas, não conhece o Estado nem tem soluções, e quer um cheque em branco da população, e isso o RS não vai dar, porque aqui é o Rio Grande, não é um curral eleitoral. Foi forjado na luta, não no adesismo. Não vai ser com conversa mole, sem propostas, que nosso povo vai entrar numa canoa furada — disparou.
A decisão de Leite foi tomada após quatro dias de muita pressão. Depois do susto no primeiro turno, quando esperava chegar à frente de todos adversários e foi surpreendido não só pelo segundo lugar, mas também pela escassa margem de 2,4 mil votos para Edegar Pretto (PT), o tucano deu uma freio de arrumação na campanha. As estratégias foram todas revistas, do discurso, agora mais incisivo contra Onyx, à busca pragmática por alianças, ainda que informais.
Para contar com dissidências do PP (que anunciou apoio formal a Onyx), sobretudo de parte dos 147 prefeitos do partido simpáticos a Bolsonaro, Leite evita fazer acenos a Lula. Em contrapartida, para atrair o PDT e boa parte dos eleitores petistas, admite manter o Banrisul estatal.
Por detrás dessa postura há uma detalhada análise dos mapas de votação, nos quais fica evidente que o tucano teve cerca de 1,4 milhão de votos casados com Lula e Bolsonaro, sendo em torno de 400 mil originários de eleitores bolsonaristas e 1 milhão de lulistas.
O novo foco alterou também a estética da campanha, agora centrada nas cores do Rio Grande do Sul. Durante a coletiva, os assentos reservados aos jornalistas tinham bandeiras do Estado e adesivos de Leite em vermelho, amarelo e verde, numa demonstração de que o tucano tentará pautar o segundo turno com discussões locais.
O novo slogan, "O Rio Grande fala mais alto", tenta reproduzir a ideia de união local para escapar da divisão nacional. Para tanto, disse que governou com o PL de Bolsonaro e Onyx e com o PSB de Geraldo Alckmin (vice de Lula), aprovando reformas com o apoio de partidos díspares, como o Novo e o PT.
— O meu lado é o Rio Grande. Não se trata de ficar em cima do muro, mas trabalhar para que não se criem muros. Nem Lula nem Bolsonaro virão aqui resolver nossos problemas — sintetizou.
Após a entrevista coletiva, Leite segue viagem para Pelotas, seu berço eleitoral, onde participa de atos de rua. Ainda à tarde, vai a Cruz Alta, município administrado pelo MDB e sob forte influência do vice, Gabriel Souza. Os roteiros seguem ainda por Ijuí, Santo Ângelo e Santa Cruz do Sul durante o fim de semana.
No percurso, o objetivo é mostrar vigor junto à militância e captar imagens para os programas de TV que serão exibidos a partir da próxima semana. Preocupou a campanha a informação de que Bolsonaro e Onyx estarão em Pelotas na terça-feira (11), realizando comício nos pavilhões da Fenadoce. Como uma parte dos eleitores de Leite também vota em Bolsonaro, há receio de perda de simpatizantes.
No último domingo, Leite já sofreu uma baixa considerável no município, ao obter 50 mil votos a menos do que feito no primeiro turno de 2018. Como o PT aumentou em quase 30 mil a votação em relação à eleição anterior na cidade, especula-se que Onyx pode ter recebido até 20 mil votos que foram de Leite no pleito passado.