Não é só o ex-governador Eduardo Leite (PSDB) que enfrenta o dilema de ter optar entre a neutralidade e a adesão a um dos candidatos à Presidência da República, com risco de perder votos em qualquer circunstância. Na mesma situação está o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil). Os dois tiveram votos de eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Lula (PT). Na aliança de Leite havia duas candidatas no primeiro turno — Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil). ACM Neto concorre pelo União.
Na Bahia, durante toda a primeira fase da campanha, o neto de Antônio Carlos Magalhães era dado como favorito para vencer a eleição no primeiro turno. Saíra da prefeitura de Salvador com índices recordes de aprovação e encarnava a continuidade da dinastia Magalhães. Às vésperas do primeiro turno, o candidato do PT, Jerônimo Rodrigues Souza, começou a subir e chegou em primeiro na eleição.
Lula fez 69,73% dos votos válidos na Bahia e Bolsonaro 24,31%. Os outros não chegam a 6%. Pois bem. Jerônimo, o candidato do PT, teve 49,45% dos votos. ACM, 40,8%. Os outros não chegaram a 10%. Pelos índices, deduz-se que ACM teve votos dos dois. Se abrir para Bolsonaro, pode perder votos dos eleitores de Lula. Se abrir para Lula, os bolsonaristas é que podem votar nulo ou branco, embora, neste caso, beneficiem o candidato do PT. A lógica favorece Jerônimo, porque ACM não tem de onde buscar a diferença.
No Rio Grande do Sul, Bolsonaro e seu candidato Onyx Lorenzoni (PL) ficaram em primeiro lugar. O presidente fez 48,89% e Lula, 42,28%. Os outros juntos fizeram 8,83%. Na eleição para governador, Onyx teve 37,5%, Leite fez 26,81% e Edegar Pretto (PT), 26,77%. Aqui estão em jogo esses 1,7 milhão de votos de Edegar. Significa que nem todos os eleitores de Bolsonaro votaram em Onyx e nem todos os de Lula votaram no candidato do PT a governador, mas os que o escolheram terão que decidir entre Leite, Onyx, branco ou nulo.