O último debate entre os candidatos a governador do RS, Onyx Lorenzoni (PL) e Eduardo Leite (PSDB), teve tensão, troca de acusações e discussão de propostas. O cenário do embate da noite desta quinta-feira (27), na RBS TV, foi reflexo da disputa acirrada até aqui.
Onyx iniciou o embate buscando reparar eventuais danos sofridos em outro debate, realizado pela Rádio Guaíba/Correio do Povo nesta semana, em que ele foi questionado insistentemente por Leite sobre sua alternativa para o Regime de Recuperação Fiscal (RRF), mas não respondeu objetivamente. Os vídeos repercutiram nacionalmente e viralizaram.
— Ele (Leite) falou do RRF. Todo mundo ficou incomodado porque ele fez uns memes, ele e a equipe dele. Isso não é brincadeira. O Rio Grande do Sul é coisa séria. Se achou que eu deveria ser mais contundente (se dirigindo ao telespectador), vou ser agora — afirmou Onyx.
Leite afirma que o adversário não apresenta alternativa ao acordo com a União e não ajudou a melhorar os termos da negociação. O debate seguiu no primeiro bloco com discussão complexa sobre o RRF.
No final, a temperatura subiu. Leite lembrou que seu adversário não se vacinou contra a covid-19, enquanto o candidato do PL criticou políticas de restrição à circulação na pandemia determinadas pelo Palácio Piratini.
— Ele (Onyx) acabou de dizer que a melhor vacina é pegar a doença. Isso me machuca. Morreram mais de 40 mil gaúchos. Mais de 600 mil brasileiros. É a tese da mortalidade de rebanho. Isso é uma desumanidade, uma crueldade — declarou Leite.
Nos instantes finais do primeiro bloco, o candidato do PL acusou o tucano de faltar com a verdade. Ambos acusaram um ao outro de mentir várias vezes ao longo do programa. Foi a senha para outro debate acalorado.
— O senhor me acusou de falsidade. O senhor é réu confesso. Quem assinou acordo para se livrar do crime de falsidade ideológica eleitoral foi o senhor. É o caixa 2, aquele dinheiro que vem em mala e pacote — disparou Leite.
Onyx rebateu dizendo que disponibilizaria em suas redes sociais informações sobre um processo que estaria correndo contra o ex-governador no campo da improbidade e se defendeu.
— Eu cometi um erro. Mas como lidei? Pedi perdão ao Deus que eu sirvo. Depois, me entendi com os gaúchos e a Justiça. Errar, qualquer um pode errar. Eu tenho uma tatuagem na minha pele para eu nunca mais esquecer o erro cometido. Eu poderia, como outros políticos fazem, varrer para debaixo do tapete — disse Onyx.
Ambos também discutiram formas de melhorar a saúde no RS. Onyx defendeu a construção de clínicas de especialidades. Leite rebateu que o valor seria mais bem gasto em convênios com hospitais.
"Dá um Google"
O formato do debate, em que os candidatos tiveram de administrar os seus tempos para fazer perguntas, respostas, réplicas e tréplicas, facilitou os enfrentamentos diretos. Sem engessamento, eles puderam caminhar pelo estúdio, não tendo de ficar presos ao púlpito. Outra ação recorrente dos candidatos foi citar a frase “dá um Google”, para o telespectador pesquisar, em casa, assuntos indicados por eles. A repetição da frase pareceu uma estratégia para engajar a participação do eleitor e reforçar argumentos. No primeiro e terceiro blocos, os temas de discussão foram livres, com 15 minutos para cada concorrente. No segundo e quarto, as pautas eram pré-determinadas.
Leite manteve a estratégia de regionalizar o debate, sem tomar partido na disputa presidencial. Ele priorizou a discussão das demandas do Rio Grande do Sul e valorizou as conquistas da sua gestão.
Onyx seguiu a toada de nacionalizar a disputa, buscando vincular ao máximo a sua imagem à do presidente Jair Bolsonaro (PL), destacando sua atuação em cinco ministérios em Brasília.
Leite levou adiante a receita de fazer acenos ao eleitorado de esquerda com a defesa de pautas caras ao segmento, como o tema da cultura, destacado no segundo bloco. Herdar apoios desse campo político é fundamental para o tucano, mas sem se vincular a ponto de perder votos de eleitores que pretendem escolher ele no Estado e que, nacionalmente, têm preferência por Bolsonaro.
Procurando desgastar Leite com o eleitor de centro-direita, Onyx tentou ligar a imagem do seu adversário ao PT.
— Ele (Leite) está aliançado com o Lula — sentenciou Onyx.
A resposta do tucano veio de imediato:
— O senhor está mentindo.
O segundo bloco ainda teve debate sobre saúde pública. O candidato do PSDB insistentemente perguntava quais eram as propostas do seu adversário e como seria feita a execução, como no caso de clínicas de saúde inspiradas em Goiás. Onyx, que foi aconselhado nos bastidores pela esposa, Denise, apontou o caminho da “boa gestão”. Neste aspecto, apresentou sua atuação no governo federal em políticas como o auxílio emergencial.
No terceiro bloco, o debate começou abordando a qualificação da educação. Onyx questionou o tucano sobre os planos para a área, Leite iniciou dizendo que será sua prioridade absoluta. Mas, em seguida, voltou o tema do caixa 2. O candidato à reeleição perguntou insistentemente em quantas campanhas eleitorais Onyx recebeu valores de caixa 2. O candidato do PL não respondeu objetivamente.
— Eu quero falar sobre as escolas do Rio Grande do Sul, que não tem banheiro acessível — disse Onyx, citando ainda problemas de fiação nos colégios estaduais.
Ele também rebateu Leite ao dizer que houve, na gestão do tucano, corrupção e prisão de dirigente da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), empresa pública vinculada ao governo estadual.
No final do terceiro bloco, sem uma resposta de Onyx, Leite afirmou que o seu adversário recebeu caixa 2 em duas eleições, em 2012 e 2014, no montante de R$ 300 mil. O candidato do PL voltou a rebater dizendo que o tucano responde a um processo de improbidade administrativa.
O quarto bloco foi dominado pelo debate sobre a segurança pública e, por fim, as considerações finais. Antes do encerramento, Leite teve ainda direito de resposta concedido, conforme as regras aprovadas pelas candidaturas para o debate, e se manifestou, rebatendo as acusações de que recebe pensão como ex-governador.
O debate encerrou-se por volta da meia-noite. Agora, é tudo na urna.