Última chance para convencer os eleitores indecisos, subtrair votos dos adversários ou estimular quem se absteve no primeiro turno a ir às urnas, o debate da RBS TV foi pródigo em ataques e carente de propostas. Onyx Lorenzoni (PL) e Eduardo Leite (PSDB) duelaram por quase duas horas e não aprofundaram o que pretendem fazer para melhorar a vida dos gaúchos nos próximos quatro anos. Perdeu-se tempo demais falando do passado, sem discutir o futuro.
O Regime de Recuperação Fiscal (RRF), tema vencido porque o contrato está assinado e o acordo em vigor, dominou o primeiro bloco. Onyx insistiu que foi uma escolha errada de Leite, mas não disse o que vai fazer além de chamar o presidente da República para conversar. Ao criticar a opção de Leite pelo acordo, cuja negociação começou no governo de José Ivo Sartori, Onyx parecia estar falando grego para os eleitores comuns. Falou em “capag” e “anatocismo”, dois termos que só os iniciados compreendem. Capag vem a ser capacidade de pagamento. Anatocismo é juro sobre juro.
No que restou desse bloco Leite puxou o tema da vacina para lembrar que Onyx não se vacinou contra a covid-19. A resposta foi um dos piores momentos do candidato do PL:
— Não me vacinei porque tive covid e aprendi com meu médico que contrair a doença é a melhor forma de imunização.
Além de afrontar as famílias dos que pegaram a doença e, em vez de se imunizar, acabaram morrendo, Onyx deu um péssimo recado aos pais que deixam de vacinar os filhos contra outras doenças, como o sarampo e a poliomielite.
Como o formato previa que os candidatos escolhessem um tema no segundo bloco, Onyx surpreendeu e escolheu cultura, distensionando o clima pela primeira vez, já que os dois tiveram mais concordâncias do que discordâncias. A abordagem, porém, foi reducionista: Onyx anunciou como sua principal ação a destinação de R$ 25 milhões para a reforma de CTGs e parques de rodeios. Leite disse que já estava fazendo isso, listou outras iniciativas de seu governo, mas não foi muito além.
A abordagem do tema saúde foi igualmente limitada: focou-se nas divergências entre as clínicas de especialidades, propostas por Onyx, com a construção de prédios de R$ 20 milhões, e o aproveitamento das estruturas de Santas Casas e hospitais filantrópicos, defendido por Leite como mais rápido, mais barato e mais produtivo.
Os 30 minutos que se seguiram foram praticamente perdidos. Onyx propôs que se discutisse educação, mas Leite puxou o tema do caixa 2, calcanhar de Aquiles do candidato do PL. Onyx partiu para o ataque dizendo que entre eles dois, só Leite era réu, referindo-se a uma ação de improbidade administrativa do tempo em que o ex-governador foi prefeito de Pelotas.
Leite disse que foi absolvido em duas instâncias e seguiu insistindo para que Onyx respondesse “quantas vezes cometeu o erro de usar dinheiro de caixa 2”. Insistiu tanto que ficou cansativo para o espectador. Onyx só respondia que reconheceu o erro e fez um acordo com a Justiça. Leite então disse que foi mais de uma vez e que o candidato devolveu apenas uma parte do dinheiro.
Nas considerações finais, Leite falou primeiro. Onyx aproveitou que tinha a última palavra e atacou o adversário, a quem chamou de traidor e mentiroso. Leite pediu o único direito de resposta de todo o programa e acabou ganhando mais um minuto, o que enfureceu o ex-ministro e seus assessores. A regra assinada pelas duas campanhas era clara: só caberia direito de resposta em caso de ofensa pessoal.
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