Em 1769, em Glasgow, no princípio da Revolução Industrial, James Watt apresentou aos compatriotas o motor elétrico. Eduardo III, então soberano do Reino Unido, foi visitar a fábrica para conhecer a máquina. No caminho, um dos anfitriões da visita disse que o rei seria apresentado a um artigo do qual gostaria muito.
— Qual artigo? — perguntou o rei.
A resposta veio em uma palavra e numa profecia sobre o que aquele invento representaria para a humanidade:
— O poder!
O apego ao poder certamente é um dos grandes motivos que levam dois políticos a se submeterem a uma maratona de desgastes e angústias de uma campanha como a atual. O debate de quinta-feira (27) à noite deu mais uma evidência disso. Foi mais uma vez marcado pela animosidade e pelos ataques.
Eduardo Leite (PSDB) procurou se ancorar em propostas e vai se consolidando como uma das poucas esperanças do PSDB, partido que já foi um dos maiores do país e vem derretendo. Onyx Lorenzoni (PL) tentou manter a imagem que o consagrou como braço direito do presidente Jair Bolsonaro (PL) e que lhe deu a maior votação no primeiro turno.
O debate começou com uma pergunta de Leite, mas foi Onyx quem já foi partindo para o ataque. Logo no início, fez algo que marcaria suas intervenções: estimulou os telespectadores a procurar no Google supostos problemas e denúncias ligados ao ex-governador.
O embate pesado, com troca de farpas, esteve presente, por exemplo, no tema da covid-19. Leite voltou a falar que tomou a vacina contra o vírus. Ao que Onyx respondeu:
— Não tomei (a vacina) e a melhor maneira de matar a doença é pegar o vírus.
Leite puxou pela emoção e rebateu:
— Eu até me ofendo com essa declaração. Quarenta mil gaúchos morreram, foram mais de 600 mil brasileiros.
Dois blocos (o primeiro e o terceiro) favoreceram o debate ao suprimirem a lógica de réplicas e tréplicas, deixando que os candidatos administrassem seus estoques de tempo. O primeiro foi de debate acalorado com ênfase na questão fiscal. O terceiro parecia ser o que discutiria educação, mas Leite se esquivou ao forçar o tema do caixa 2 praticado por Onyx em duas de suas campanhas, mas sem consequência judicial porque o candidato do PL assinou um acordo.
Leite insistiu para que Onyx explicasse as circunstâncias de doações não contabilizadas que recebeu. Onyx repetiu que caixa 2 é caso encerrado e fez insinuações sobre Leite ser réu em processo administrativo ainda na prefeitura de Pelotas, algo negado por Leite. Faltou clareza sobre educação. Resta ao eleitor ir mesmo para o Google.
É inegável que Eduardo Leite, tendo ficado no Palácio Piratini por três anos e meio, tem mais conhecimento dos temas do Estado. Reconheceu que nem tudo está bem e que ainda precisa fazer muito, caso seja eleito para um segundo mandato. Leite evitou fazer promessas que não poderia cumprir se eleito.
Neste sentido, pareceu mais realista. Insistiu bastante que conseguiu colocar as contas do Estado em dia, considerando esse o ponto de partida da melhora da situação. A maior riqueza de detalhes em temas como saúde e segurança, mais propostas e a sinalização de que conhece os problemas acabou conferindo alguma vantagem no debate ao candidato tucano.