A candidatura de Olívio Dutra ao Senado e a recusa do PSB à aliança com o PT podem resultar numa inédita união dos petistas com o PSOL nas eleições majoritárias no Estado. As conversas entre as direções dos dois partidos evoluíram nos últimos dias, com a disposição do PSOL de retirar as candidaturas de Pedro Ruas ao Palácio Piratini e de Roberto Robaina ao Senado. Na nova composição, Ruas seria o vice de Edegar Pretto, com Robaina assumindo a primeira suplência de Olívio.
Esse foi o teor das articulações mantidas na quarta-feira (27), durante encontro de dirigentes das duas legendas. Fechados numa sala da Assembleia Legislativa, eles avançaram na costura de um acordo envolvendo não só a composição das chapas, mas também o revezamento no mandato de senador e pontos específicos de um programa de governo conjunto.
PT e PSOL conversam sobre uma aliança desde o início do ano, mas as negociações haviam esfriado nos últimos meses. A cada encontro, o PSOL deixava claro que não aceitava a presença do PSB numa eventual coalizão de esquerda. Como o PT continuava dialogando com os socialistas, o PSOL se retirou das discussões e, no domingo (24), chancelou em convenção as candidaturas de Ruas e Robaina.
Durante a convenção, a presidente do PSOL, Luciana Genro, recebeu um telefonema do presidente estadual do PT, Paulo Pimenta. Como estava conduzindo os trabalhos, Luciana não atendeu o celular, retornando a ligação ao final do evento. Comunicado de que o PSOL recém havia oficializado as candidaturas majoritárias, Pimenta lamentou, dizendo que havia uma proposta a fazer, mas que o término da convenção inviabilizara tal acerto.
Na segunda-feira (25), o PT anunciou o nome de Olívio ao Senado. A entrada na disputa de um político popular, capaz de mobilizar o eleitorado de esquerda, levou Luciana a telefonar de novo para Pimenta, pedindo uma nova reunião.
Nas últimas semanas, havia se acentuado uma pressão dos movimentos sindicais sobre o PSOL, pedindo uma união dos partidos de esquerda. O temor maior – que também assombrava Luciana – era de que a dispersão de votos entre PT e PSOL favorecesse a eleição de Hamilton Mourão (Republicanos) ao Senado e a chegada de Onyx Lorenzoni (PL) ao segundo turno da disputa pelo Piratini.
Ainda na quarta-feira, a nota oficial emitida pelo PSB, na qual o partido “reafirma a não coligação com o Partido dos Trabalhadores no Estado” facilitou ainda mais a conversa. O PSOL chegou abrindo mão da candidatura ao Senado, desde que Robaina ocupasse a primeira suplência de Olívio, e pedindo a incorporação no programa de governo de temas caros ao partido, como a revisão das isenções fiscais e da dívida com a União.
— Quando o PT lança Olívio, surge um novo momento nessa relação de forças da esquerda. É inegável o tamanho que essa candidatura tem e como a união das nossas forças nos dá maiores condições de vitória — afirma Robaina.
Oficialmente, por enquanto, há uma discussão somente em torno da eleição ao Senado. Todavia, é indisfarçável nos dois partidos a disposição para que o acordo envolva também a chapa ao governo do Estado. Nos bastidores, Ruas admite que não seria obstáculo à aliança e há quem enxergue nele até mesmo uma torcida forte pelo acerto. Boa parte da direção do PSOL também argumenta que não faz sentido o acordo se resumir ao Senado.
Dirigentes dos dois partidos citam que pesquisas qualitativas encomendadas pelo PT mostrariam uma forte adesão à dupla Pretto-Ruas. Durante visita ao Estado, em junho, o candidato petista à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, já havia pedido em reunião no hotel Plaza São Rafael que os dirigentes das duas legendas se unissem numa chapa única.
Na reunião de quarta-feira, o PT se comprometeu em dar uma resposta até sexta-feira (29). Discreto, Pimenta evita comentar os termos da negociação e não fecha nenhuma porta, inclusive ao PSB – o que retiraria o PSOL de qualquer acerto.
— Eu converso com todo mundo. Vamos aguardar. Também estamos conversando entre nós, temos muitas reuniões ainda. Até amanhã tem tempo — salientou Pimenta.