Em sua passagem por Porto Alegre nesta quarta-feira (1º), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez um apelo para que os partidos de esquerda disputem unidos as eleições para o governo do Rio Grande do Sul. Durante ato público que reuniu mais de 5 mil pessoas na casa de shows Pepsi On Stage, na zona norte da Capital, Lula deixou claro que não quer ver seu palanque dividido no Estado.
— Por favor, sentem na mesa. Tomem até um aperitivo, se quiserem. Mas tentem encontrar uma solução para que a gente não chegue ao Rio Grande do Sul e não tenha ao nosso lado o candidato a governador, a vice e ao Senado. Fica uma coisa meio trouxa — disse o ex-presidente.
No discurso, o pré-candidato do PT à presidência da República afirmou que a esquerda “não governa Porto Alegre há uma década” e que, nas duas vezes em que governou o Estado, o PT fez “ muita força para construir a unidade para a eleição e para a governança''.
— Queria fazer o apelo de um irmão, de um companheiro. Não custa nada sentarem mais uma vez na mesa — insistiu o ex-presidente.
No palco do evento, estavam dois pré-candidatos a governador: Edegar Pretto, do PT, e Pedro Ruas, do PSOL. O pré-candidato do PSB, Beto Albuquerque, não compareceu, e o partido também não enviou representantes ao evento.
Ao saudar as siglas aliadas, Lula também deixou de mencionar o PSB, que é o partido de Geraldo Alckmin, futuro candidato a vice na chapa de Lula, que acompanhou sua agenda em Porto Alegre.
O ato estava previsto para as 18h, mas a chegada de Lula foi anunciada apenas 34 minutos depois. Ao atingir 5,5 mil pessoas presentes, o Pepsi on Stage ficou lotado e os portões foram fechados perto das 17h45min. Uma parte do público teve que acompanhar o evento do lado de fora.
Lula surgiu no palco às 19h03min, ao lado da esposa, Janja, e Alckmin. Junto da ex-presidente Dilma Rousseff, os três foram até a passarela instalada à frente do palco para saudar os militantes.
O petista falou por mais de 40 minutos, relembrou conquistas de seu governo e prometeu combater a fome no país é melhorar as condições de vida da população:
— Quem se importou de ver pobre entrando na universidade, andando de avião, entrando no shopping, pode se preparar, porque vai ter muito mais.
No palanque, estavam representantes de partidos que o apoia, os ex-governadores Olívio Dutra e Tarso Genro, o senador Paulo Paim, a presidente do PT nacional, Gleisi Hoffmann, e o pré-candidato petista ao governo do Paraná, Roberto Requião, além de deputados, vereadores e representantes de movimentos sociais.
Foram chamados a discursar representantes do PV, do Solidariedade, do PCdoB, do PSOL e do PT. A mestre de cerimônia chegou a anunciar o presidente estadual do PSB, Mário Bruck, e um representante da Rede Sustentabilidade, que não estavam presentes.
Outro momento de constrangimento ocorreu quando foi anunciada a interpretação do Hino Riograndense pelo cantor Bagre Fagundes. Parte do público começou a protestar com os dizeres “hino racista”, em referência ao verso que diz: “Povo que não tem virtude acaba por ser escravo”.
Bagre cantou apenas o primeiro trecho do hino, deixando de fora a estrofe polêmica, sendo aplaudido pela militância. Em seguida, emendou o Hino da Independência, cântico identificado com o ex-governador Leonel Brizola (PDT).
Sintoma de um palanque dividido
A ausência do PSB do ato com Lula demonstra a divisão do palanque de Lula e Alckmin no Rio Grande do Sul. O pré-candidato do partido, Beto Albuquerque, negocia aliança com o PDT e, com isso, apoiar Ciro Gomes na corrida ao Planalto.
Pela manhã, Lula se reuniu com representantes de partidos políticos que apoiam sua pré-candidatura ao Planalto - desta vez, o presidente estadual do PSB esteve presente. Após ouvir discursos dos dirigentes partidários, o ex-presidente pediu que os partidos dialogassem para firmar um palanque único no Rio Grande do Sul e que tentassem chegar a um acordo nas próximas duas semanas.
— Todos terão de ter algum grau de humildade. Temos nossa pré-candidatura, que é muito importante para nós, mas estamos dispostos a conversar — disse Pedro Ruas.
Em seu discurso ao ato do Pepsi On Stage, o presidente estadual do PT, Paulo Pimenta, disse que o partido está disposto a “ sentar na mesa e construir a unidade” com as demais siglas de esquerda.
Após o fim do discurso de Lula, Pretto e Ruas foram até a frente do palco de mãos dadas, indicando a disposição para uma parceria eleitoral.
Afago aos tucanos
Um dia depois de dizer que “o PSDB acabou”, o ex-presidente Lula afagou os tucanos na passagem por Porto Alegre, nesta quarta. Durante um evento com profissionais da educação e líderes estudantis, à tarde, Lula disse que o Brasil era "feliz" quando a polarização política era entre petistas e tucanos.
— Como era feliz este país quando a polarização era entre a Dilma e o Alckmin, a Dilma e o Serra, eu e o Serra, eu e Alckmin, eu e o Fernando Henrique Cardoso — declarou o petista.
E continuou:
— A transição que nós fizemos com o Fernando Henrique Cardoso foi a mais civilizada que este país conheceu. Você disputava uma eleição, mas você não estava em guerra. O seu adversário não era seu inimigo.
Nas redes sociais, os tucanos rebateram a declaração de Lula, afirmando que “o PT quase acabou com o Brasil”.
No Pepsi on Stage, Tarso Genro teceu elogios ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, presidente de honra do PSDB. Segundo Tarso, FHC “estabilizou a transição e defendeu a democracia”.
Neste ano, petistas tentam aproximação para eventual aliança com os tucanos. O ex-senador Aloysio Nunes já anunciou apoio a Lula no primeiro turno.
Rival do PT nas eleições presidenciais passadas, o PSDB é o antigo partido de Alckmin. O ex-tucano foi um dos fundadores da legenda, na qual permaneceu 33 anos antes de migrar para o PSB em 2022.
O ex-governador de São Paulo acompanhou Lula em todos os compromissos do dia, incluindo o evento na Zona Norte de Porto Alegre. Em pronunciamento de menos de cinco minutos, ele prometeu “suar a camisa” para que Lula volte à presidência.
— Para salvar a democracia, o Brasil precisa da volta do presidente Lula — bradou.
Com o fim do discurso do ex-presidente, o ato foi encerrado às 21h40min, com uma chuva de papéis picados verde e amarelos e ao som do jingle da pré-campanha.
Situação de tranquilidade no entorno do evento
Na tarde desta quarta-feira (1º), uma multidão de apoiadores aguardava, no entorno do Pepsi On Stage, o ex-presidente Lula. Apesar de toda movimentação, o evento transcorreu com tranquilidade do lado de fora da casa de shows.
O policiamento no bairro Anchieta, na Zona Norte, foi reforçado durante a tarde. Agentes da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) montaram um esquema de controle do fluxo de veículos pela Avenida Severo Dulius, que teve um dos sentidos parcialmente bloqueado.
A longa fila de militantes se estendeu ao longo da fachada do Pepsi e seguiu aumentando desde as 15h, quando os portões já estavam abertos. Caravanas chegavam de ônibus, de trem e a pé.
Com o movimento, diversas bancas foram montadas em frente ao local, comercializando, além de alimentos, bandeiras, balões, adesivos e faixas com a temática de Lula.