A visita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Porto Alegre está sendo reveladora do quanto o PT leva a sério as ameaças de morte e de agressão ao candidato que lidera todas as pesquisas de intenção de voto. Nem os militantes mais antigos se recordam de outro momento em que tenha sido necessário montar um esquema tão forte de segurança para proteger um candidato a presidente. É a primeira vez que Lula faz uma visita ao Rio Grande do Sul em que informações elementares e historicamente públicas são omitidas em nome da segurança.
Lula não aceitou convites para entrevistas presenciais, não conversou com os repórteres e só tornou público o endereço da manifestação de noite, na casa de shows Pepsi on Stage. Até o hotel em que o ex-presidente e sua esposa, Rosângela Silva, ficaram hospedados foi mantido em sigilo, por recomendação da Brigada Militar.
— Para evitar tumulto, achamos por bem não revelar endereços — justifica um dos responsáveis pela segurança do ex-presidente.
Os simpatizantes que vieram de diferentes pontos do Estado tiveram de formar fila do lado de fora do evento, aguardando a revista, tão ou mais rigorosa do que nos tempos da Presidência. Os jornalistas passaram pelo detector de metais e tiveram os bolsos e bolsas inspecionados, como nas visitas presidenciais.
O encontro com os pré-candidatos do PT e de partidos aliados foi realizado em um hotel, cujo nome a organização só informou aos interessados perto da hora marcada. A escolha do Pepsi on Stage foi justificada pela necessidade de cumprir a lei eleitoral, que só permite comício a partir do início formal da campanha, em agosto. A questão legal é verdadeira, mas mesmo que fosse possível realizar o ato na Esquina Democrática, não seria viável pelo risco de um atentado.
Lula é um caso de amor e ódio na eleição presidencial deste ano: enquanto os petistas o defendem incondicionalmente, os que a ele só se referem como “presidiário” ou “ex-presidiário” ameaçam não dar trégua durante a campanha.
— Em Santa Catarina é bem pior. Lá ele não vai conseguir fazer campanha na rua — especula uma autoridade gaúcha que atribui ao “fanatismo bolsonarista” a rejeição no Estado vizinho.
A facada no candidato Jair Bolsonaro, em 2018, fez crescer a preocupação com a segurança dos políticos em geral e de Lula em particular. Quando Lula era presidente, dava trabalho aos seguranças, quebrando o protocolo e se misturando aos eleitores. Agora, a ordem é não se expor em hipótese alguma.
ALIÁS
Da série quem te viu, quem te vê: Tarso Genro, que em 1999 pregou a renúncia do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em meio à crise de governabilidade, elogiou o tucano ontem à noite e o chamou de “democrata” e de “modernizador da democracia brasileira”.
Palanque incompleto
A ideia do ex-presidente Lula de se reunir com os três pré-candidatos dos partidos que apoiam sua candidatura tropeçou na decisão do ex-deputado Beto Albuquerque (PSB) de não participar da conversa, apesar de o vice de Lula ser o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB). Beto não só faltou ao encontro do início da tarde, em um hotel de Porto Alegre, como não esteve no ato da noite, na casa de shows Pepsi on Stage.
À coluna, Beto justificou a decisão de não ir:
— Estou conversando faz tempo com o PDT. Com o PT, ficou claro desde sábado, no ato com Dilma (Rousseff), Tarso (Genro) e Paulo Pimenta, deputados e lideranças, que encerrou-se o diálogo sobre possibilidade de o PT nos apoiar.
Beto disse que respeita o PT e o seu pré-candidato, Edegar Pretto, e espera que respeitem a decisão do PSB:
— Não posso ficar parado sem seguir construindo minha candidatura. A decisão de qual candidatura é melhor para Lula deveria ser dele. Aqui não tem como construir consenso.
Mesmo sem qualquer disposição para abrir mão da candidatura a governador, o vereador Pedro Ruas (PSOL) foi ao encontro de Lula e tirou foto abraçado ao ex-presidente. À noite, Ruas e os principais líderes do PSOL estiveram na manifestação de apoio a Lula.
No PSOL, o raciocínio é que, mesmo com as divergências que fizeram um grupo sair do PT e criar o novo partido, o apoio a Lula se justifica diante do “objetivo maior” de tirar o presidente Jair Bolsonaro do poder.