A entrada do ex-governador Olívio Dutra (PT) na corrida eleitoral altera o cenário projetado pelos demais candidatos ao Senado. Vislumbrando uma polarização entre Olívio e Hamilton Mourão (Republicanos), dirigentes partidários refazem pesquisas e cogitam mudanças na estratégia de campanha, sem descartar até mesmo renúncia de candidaturas.
Olívio teve o nome confirmado na segunda-feira (25), após sucessivas investidas da cúpula do PT. Aos 81 anos, ele não planejava mais disputar cargos eletivos, mas acabou convencido sob o argumento de que a esquerda precisava de um candidato popular para antagonizar Mourão, considerado principal representante do bolsonarismo na disputa ao Senado.
Após a recusa de Tarso Genro em concorrer, Olívio deixou uma porta aberta, salientando desejo de que a coligação apresentasse uma candidatura coletiva. A brecha levou o presidente do PT no Estado, Paulo Pimenta, a pedir ajuda a Lula. Durante passagem do presidenciável petista pelo RS, em junho, a popularidade de Olívio junto à militância já havia surpreendido o vice de Lula, Geraldo Alckmin (PSB), e dirigentes nacionais do PT, como Gleisi Hoffmann e Aloizio Mercadante.
Empolgado com a possibilidade de contar com Olívio na chapa gaúcha, Lula telefonou para o ex-governador, que havia sido ministro das Cidades no seu primeiro mandato presidencial e com quem havia dividido apartamento em Brasília durante a Constituinte. O telefonema convenceu Olívio, mas o sim definitivo só veio após uma consulta aos filhos, Espártaco e Laura.
Nos próximos dias, Olívio irá definir a escolha dos dois suplentes. Nos bastidores, cogita-se os nomes da vereadora da Capital Daiana Santos (PCdoB) e do ex-vereador Marcelo Sgarbossa (PV). A chapa, dessa forma, contemplaria os dois partidos que formam a federação com o PT. No mesmo campo político, não se descarta ainda a retirada da candidatura do vereador Roberto Robaina (PSOL).
Em reunião com Pimenta na tarde desta quarta-feira (27), Robaina discutiu a união das forças contra Mourão e admitiu abandonar a disputa. A convenção do PSOL chancelou o nome do vereador ao Senado no domingo, mas ele afirma que Olívio tem maior capacidade de mobilizar a militância de esquerda.
Agora, pretende levar o tema para discussão interna no partido, porém de antemão condiciona o acordo à ausência do PSB na aliança. O PSOL rejeita coligação o PSB em função do apoio dos socialistas aos governos José Ivo Sartori (MDB) e Eduardo Leite (PSDB). "A unidade PSOL e PT é o único caminho", escreveu Robaina no Twitter ao final da reunião.
Entre os adversários, a chegada de Olívio fez disparar um alerta. No Podemos, o senador Lasier Martins, titular do único mandato em disputa, pode desistir da candidatura e concorrer a deputado estadual. Até então, havia um movimento interno para que Lasier, mal posicionado nas pesquisas, tentasse uma cadeira na Câmara. A disputa da reeleição foi reafirmada na convenção do partido, domingo passado, mas Lasier ficou de fora dos pedidos de registro de candidatura enviados pelo Podemos à Justiça Eleitoral nesta semana. Na lista constam apenas 52 candidatos à Câmara e 29 à Assembleia.
— Vamos manter a defesa da candidatura ao Senado, mas não se descarta que ele concorra a deputado federal e a estadual. Há uma insegurança e falta uma correta leitura das pesquisas. Temos até 15 de agosto para decidir. Ele pode nos ajudar a fazer bancada na Câmara ou na Assembleia — afirma o único deputado federal da legenda, Maurício Dziedricki.
A principal fragilidade de Lasier é ainda não ter garantia de um palanque aliado ao governo do Estado. Embora Eduardo Leite tenha dito na convenção do Podemos que estarão juntos na eleição, há uma preferência explícita do tucano pela candidatura de Ana Amélia Lemos (PSD). Ex-secretária de Leite, Ana Amélia nega qualquer veto a Lasier, mas em conversas reservadas deixa claro que não está disposta a dividir o palanque com outro postulante ao Senado.
Boa parte da resistência é por causa das regras para uso do tempo de propaganda no rádio e na TV. Como candidata única, Ana Amélia pode utilizar sozinha o espaço de toda a coligação — o que chegaria, numa estimativa extraoficial, a 1min50s numa aliança que envolvesse PSDB, União Brasil, Cidadania, MDB, Podemos e PSD. Essa construção daria à ex-senadora quase 40% do tempo de toda a propaganda ao Senado.
Já na hipótese de divisão do palanque com outras candidaturas ao Senado, a Justiça Eleitoral determina que cada um use apenas o tempo do próprio partido — o PSD tem cerca de 30 segundos e o Podemos, em torno de 20 segundos. Uma divisão igualitária das sobras dos demais partidos entre todos os candidatos equilibraria o jogo, mas nesse caso também fortaleceria a concorrência.
Para o deputado federal Nereu Crispim (PSD), a chegada de Olívio à disputa deve reforçar no partido a exigência por Ana Amélia ser a única candidata de Leite ao Senado. O PSD está com uma pesquisa nas ruas, mas não havia incluído o nome de Olívio nas sondagens. Ainda assim, a presença do petista impõe um reposicionamento da candidatura da ex-senadora. O objetivo é fugir da polarização entre petismo e bolsonarismo e apresentá-la como uma candidata de centro, com experiência no Senado, moderada e disposta ao diálogo.
— Tem um miolo da população que não está nesse Gre-Nal, não quer um lado nem o outro — diz Crispim.
No Republicanos, a ideia é explorar a polarização, inclusive cobrando atitude dos demais candidatos. De acordo com o presidente estadual, deputado Carlos Gomes, o partido não vai mudar a estratégia para a campanha. Todavia, pretende reforçar a presença de Mourão no Estado, cuja agenda tem se restringido a eventos aos finais de semana.
— Não vamos mudar o discurso. A polarização já está dada. Os demais candidatos é que terão de dizer de que lado estão e qual candidato à Presidência apoiam. Quem tem de definir estratégia é o PT, que nem candidato tinha. Nós sempre tivemos candidato, e o general Mourão sempre disse de que lado estava — afirma Gomes.
No PP, o temor é de que o antagonismo entre Olívio e Mourão leve o eleitor de direita a optar por um voto útil, deixando de lado a candidatura de Nádia Gerhard. Há quem lembre da eleição de 2014, quando a liderança do ex-governador nas pesquisas levou o eleitorado antipetista a despejar votos em Lasier na reta final da campanha. Encerrada a eleição, a sondagem de boca de urna apontou vitória de Olívio com seis pontos percentuais de diferença, mas no escrutínio das urnas Lasier sagrou-se vencedor com vantagem de apenas dois pontos.
Para evitar uma repetição desse movimento, a campanha deve apresentar Nádia como a verdadeira representante do bolsonarismo no Estado. Por enquanto, ninguém admite a possibilidade de a propaganda do partido atacar Mourão, mas nos bastidores muitos questionam abertamente a lealdade do general ao presidente da República e afirmam que, se ele fosse confiável, estaria reprisando a chapa com Bolsonaro e não disputando uma cadeira no Senado.