As eleições do último domingo foram duras para vários candidatos que levaram consigo os nomes de famílias influentes na política para buscar votos. Sobrenomes conhecidos no Rio Grande do Sul acabaram ficando de fora da Câmara de Vereadores de Porto Alegre.
Foram os casos de Adriana Collares, filha de Alceu Collares, de Pablo Mendes Ribeiro, filho de Mendes Ribeiro, Pablo Melo, filho do candidato à prefeitura Sebastião Melo, Camila Nunes, filha do deputado estadual Bibo Nunes, e José Vendruscolo, irmão do ex-vereador Bernardino Vendruscolo. Eles acabaram ficando como suplentes.
O fenômeno não é visto apenas no Rio Grande do Sul. Por exemplo, apesar de ter sido eleito como vereador no Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, baixou dos 106 mil votos em 2016 para 71 mil na eleição do último final de semana, um decréscimo de 35 mil votos.
Conforme o cientista político e professor da UFRGS Paulo Peres, esse movimento não é incomum e já vem acontecendo em eleições passadas.
— Em todas eleições, políticos com nomes muito tradicionais na política acabam não se elegendo. Até em algumas vezes, eles se elegem, mas a própria eleição mostra quedas nos números. Pode acontecer que em alguns momentos você tenha políticos com nomes tradicionais perdendo as eleições ou então de uma eleição para a outra se recandidatando para um cargo "menor", de senador para vereador, por exemplo. Em alguns casos, políticos mais tradicionais nesse momento de desgaste maior da política, como estão há mais tempo, são identificados como mais antigos e acabam perdendo votos — explica.
Pablo Melo, filho do candidato à prefeitura Sebastião Melo, diz que não acredita que sua relação com seu pai influencie na votação.
— Diferente da maioria dos filhos dos demais políticos, eu tenho 19 anos de militância, fui presidente do Centro Acadêmico do Direito da PUCRS, fui presidente da juventude do MDB, candidato a vereador duas vezes. Essa eleição foi uma que derrubou a votação, em virtude do momento em que estamos passando. Eu tenho muito orgulho de ser filho do meu pai, mas eu tenho muito orgulho da minha própria caminhada.
Outro fator que pode contribuir para a não eleição de políticos com sobrenomes fortes é a diluição dos votos entre os parentes. É o que Camila Nunes, filha de Bibo Nunes, acredita que aconteceu em sua tentativa de chegar à Câmara de Vereadores.
—Acompanho meu pai na política há anos e quem o acompanha sabe disso. Nossa parceria é grande e temos o mesmo pensamento. Meu pai é um deputado federal e por isso não deu apoio exclusivo à mim. Apoiou vários candidatos, inclusive os que concorriam pelo mesmo partido que eu. Talvez o eleitorado dele tenha se dividido, mas tenho certeza que o apoio dele só me fortaleceu — ressalta.
Analistas consideram que este pode ser um indício de que as "dinastias" poderão ter menos peso na política brasileira. Entretanto, o professor Paulo Peres recomenda cautela.
— Vamos ter que esperar para ver o real impacto disso por dois motivos: como esse pessoal que está chegando agora, que tem conexão, tem vontade, vai se adaptar e jogar o jogo na institucionalidade política, com pessoas mais velhas dentro dos partidos, essas pessoas mais experientes que acabam ocupando alguns cargos mais centrais dentro da estrutura. Não sei até que ponto eles terão condições de implementar de maneira efetiva resultados políticos diferentes — completa Peres.