Pela primeira vez desde 1994, o PSDB não figura entre os protagonistas da corrida presidencial. Em quarto lugar na disputa, Geraldo Alckmin não reverteu o amplo arco de alianças e o maior tempo de TV em credencial para chegar ao segundo turno. Para analistas, a falta de carisma do candidato seria a ponta de um iceberg, que traz na base casos de corrupção, falta de renovação, escolhas equivocadas e democracia interna vacilante.
A figura de Aécio Neves é tida como central na queda de relevância no cenário nacional. Após receber 48% dos votos no último pleito, não aceitar a derrota e ajudou a articular o impeachment de Dilma Rousseff (PT), a aproximação com Michel Temer e a defesa da agenda de reformas do novo governo foram automáticas.
O crescimento do antipetismo beneficiava o mineiro, que apostava na pavimentação natural de seu caminho à Presidência em 2018. O revés surgiu com a divulgação de uma conversa gravada em que ele pede R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista para pagar advogados.
Cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Sérgio Praça acredita que a cúpula tucana poderia ter evitado prejuízo maior à imagem do partido. Em vez disso, a sigla apostou em uma aliança pragmática para tentar voltar ao poder.
– O desgaste começou quando os áudios foram revelados, e o partido não expulsou Aécio. Que credibilidade Alckmin teria para dizer que no governo dele, que também teria o centrão (PP, PR, PRB, DEM e Solidariedade), não iria deixar roubar? – pergunta.
Eleito deputado federal, Aécio não é o único tucano a ter problemas com a Justiça. Eduardo Azeredo, ex-governador mineiro, foi condenado a mais de 20 anos de prisão por participação no mensalão tucano. O ex-governador do Paraná Beto Richa chegou a ser preso no mês passado, suspeito de corrupção.
Apesar do desgaste, a cúpula da campanha apostou na potencial capilaridade que a coligação de nove partidos oferecia, o que não se concretizou. O latifúndio no horário eleitoral em rádio e TV também não ajudou.
A artilharia foi centrada em Jair Bolsonaro (PSL), com efeito inverso ao que se esperava. Em vez de atrair os antipetistas, a estratégia empurrou esses eleitores para o capitão reformado do Exército.
– O PSDB sempre encarou o PT como adversário e não como inimigo, fazia um discurso de oposição responsável. Já Bolsonaro radicalizou esse discurso e acabou atraindo os eleitores antipetistas – opina o sociólogo e professor da Universidade Mackenzie (SP) Rodrigo Augusto Prando, destacando que a criação do Partido Novo ajudou a desidratar o PSDB.
Uma entrevista concedida pelo senador Tasso Jereissati (CE) ao jornal O Estado de S. Paulo, em setembro, não ajudou as pretensões do partido de manter sua imagem afastada do governo Temer. Em uma crise de sincericídio, o ex-presidente tucano afirmou que “o partido cometeu erros memoráveis” em questionar o resultado das eleições de 2014, de entrar para o governo do MDB e de não afastar Aécio após as suspeitas de corrupção.
Apesar de assumir o papel de coadjuvante na disputa presidencial, o PSDB consegue manter a relevância em cenários regionais. Em 2016, a legenda ampliou o número de prefeituras em 14%, na esteira da grande votação de Aécio dois anos antes.
Nos Estados, poderá eleger até seis governadores. Entre eles, está João Doria, que irá disputar o Palácio dos Bandeirantes no segundo turno. Lançado na política por Alckmin, chegou próximo a conquistar a vaga do padrinho na disputa presidencial. A manobra, apesar de ser classificada como sabotagem interna por correligionários, poderia mudar os rumos da eleição.
– Doria bate mais forte no Lula e no PT, então poderia estar em melhores condições – destaca Prando.
Neste sentido, há críticas sobre a organização interna do partido. O processo de escolha dos candidatos à Presidência e, até mesmo, a cargos majoritários em São Paulo – berço do PSDB – é visto como pouco democrático. Desde 1994, quando Fernando Henrique Cardoso venceu a disputa pela Presidência, apenas José Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves despontaram como lideranças nacionais.
Tucanos históricos criticam rumos do partido
Nascido de uma dissidência do MDB, na esteira da redemocratização, o PSDB completou 30 anos em junho, sem festa ou otimismo. Líderes históricos criticam o abandono das principais bandeiras elencadas no manifesto de fundação da legenda. Entre as principais bandeiras, estavam a defesa do parlamentarismo, da democracia, da auditoria da dívida externa e da reforma agrária.
– Não estou vendo futuro. O partido tem de fazer uma limpeza nos seus quadros, retomar nossos ideais, intransigência contra a corrupção. Se não for assim, estou fora – ameaça Arthur Virgílio Neto, prefeito de Manaus.
O tucano chegou a lançar seu nome para a corrida presidencial, mas desistiu de disputar prévias partidárias com Geraldo Alckmin. À época, questionou a lisura do processo interno, já que o ex-governador de São Paulo também responde pelo comando do partido.
Pessimista quanto ao futuro da legenda, Virgílio critica correligionários que, mesmo antes do primeiro turno, pediram votos para Jair Bolsonaro.
FIGURÕES DO PSDB
Geraldo Alckmin
Após renunciar durante o quarto mandato como governador para se lançar à Presidência da República, ficará sem mandato, pelo menos, pelos próximos dois anos. Ainda não relatou os planos para o futuro.
José Serra
Ex-governador de São Paulo, perdeu duas eleições: para Lula em 2002 e para Dilma em 2010. Chegou a assumir o Ministério das Relações Exteriores no governo de Michel Temer, mas deixou o posto para voltar ao Senado, onde tem mandato até 2022
Aécio Neves
Pressionado pelo partido após a divulgação de uma conversa em que pede R$ 2 milhões a Joesley Batista, o mineiro desistiu da disputa ao Senado. Foi eleito como deputado federal.
Fernando Henrique Cardoso
Mentor do PSDB, chegou a sugerir união entre os candidatos de centro em torno da candidatura de Alckmin. A ideia foi rechaçada pelos concorrentes. Após deixar a Presidência da República em 2002, não se candidatou a outros cargos.