O senador Tasso Jereissati, ex-presidente nacional do PSDB e presidente do Instituto Teotônio Vilela, braço teórico do partido, disse ao jornal O Estado de S. Paulo que os tucanos cometeram um "conjunto de erros memoráveis" após a eleição de Dilma Rousseff, com reflexos para o próprio PSDB nas eleições deste ano. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Como o sr. avalia a trajetória recente do PSDB?
O partido cometeu um conjunto de erros memoráveis. O primeiro foi questionar o resultado eleitoral. Começou no dia seguinte (à eleição). Não é da nossa história e do nosso perfil. Não questionamos as instituições, respeitamos a democracia. O segundo erro foi votar contra princípios básicos nossos, sobretudo na economia, só para ser contra o PT. Mas o grande erro, e boa parte do PSDB se opôs a isso, foi entrar no governo Temer. Foi a gota d'água, junto com os problemas do Aécio (Neves). Fomos engolidos pela tentação do poder.
Qual o impacto da gravação da conversa entre Aécio e Joesley Batista (dono da JBS, em que acertam repasse de R$ 2 milhões para pagar advogados do tucano)?
Altíssimo. Esse episódio simboliza todo esse desgaste que tivemos. Desde o dia seguinte à eleição da Dilma, quando fomos questionar o resultado, o símbolo mais eloquente para a população foi o episódio do Aécio. Ele deveria ter se afastado logo da presidência do PSDB.
O ex-governador Geraldo Alckmin ainda não decolou nas pesquisas, apesar de ter mais tempo de TV. Qual sua avaliação?
Até a última pesquisa ninguém se deslocou muito. O próprio (Jair) Bolsonaro subiu um pouco depois do atentado em Juiz de Fora, mas não muito. Com a saída do Lula, parte dos votos dele migraram para outros candidatos, mas principalmente para o (Fernando) Haddad, que foi quem mais cresceu olhando em média as duas pesquisas mais recentes. A partir de agora, com a saída definitiva do Lula do cenário eleitoral, vamos ter, realmente, uma mudança mais consistente no comportamento do eleitorado.
Acredita que o PSDB já deve apelar ao voto útil para levar Geraldo Alckmin ao segundo turno?
O partido cometeu um conjunto de erros memoráveis. O primeiro foi questionar o resultado eleitoral. Começou no dia seguinte (à eleição). Não é da nossa história e do nosso perfil. Não questionamos as instituições, respeitamos a democracia. O segundo erro foi votar contra princípios básicos nossos, sobretudo na economia, só para ser contra o PT. Mas o grande erro, e boa parte do PSDB se opôs a isso, foi entrar no governo Temer
Acredito que sim. E agora. Tem muito antipetista votando no Bolsonaro porque não quer a volta do PT.
Como a prisão do ex-governador Beto Richa e a operação da Polícia Federal de busca contra o governador Reinaldo Azambuja, ambos tucanos, também prejudicam a campanha do Alckmin?
Prejudica, sem dúvida. Mas boa parte disso está no preço. O desgaste do PSDB começa a partir dos episódios da gravação do Aécio. Começou ali e continuou. Como nós não tomamos as medidas necessárias naquele cenário, era previsível que o desgaste do PSDB iria perdurar e teria consequências graves nas eleições. O desgaste do PSDB vem dali. As pessoas estão vendo mal o PSDB.
Qual o tratamento que o PSDB deve dar a Beto Richa?
Não confrontamos nem questionamos decisões judiciais. Nem passamos a mão na cabeça de quem a Justiça considera culpado. Tendo culpa, tem que pagar.
Com tudo isso, quais as chances de Alckmin no Nordeste?
Aqui no Ceará é mais difícil que no Nordeste de uma maneira geral. Além do Lula, que inegavelmente é muito popular, temos o Ciro (Gomes, do PDT), que é cearense. Mas ele (Geraldo) tem possibilidade de crescer. Não será um crescimento que supere o Lula ou Ciro, mas deve ter um porcentual maior.
O sr. lançou o Ciro na política. Como avalia o papel do pedetista nessa campanha?
O Ciro de hoje é muito diferente do Ciro de ontem. Ele traçou o caminho dele, que eu discordo. Aqui no Ceará ele está sendo profundamente inconsistente e incoerente com sua trajetória política. A mais feroz das críticas dele é dirigida do MDB. Aqui, no Ceará, ele e o presidente do Senado (Eunício Oliveira) estão unidos.
Acredita em uma transferência forte de votos do Lula para o Haddad no Ceará?
Essa é a grande questão. Aqui você tem no mesmo palanque do governador do PT (Camilo Santana) 99% dos prefeitos, a máquina e o apoio do governo federal. Eunício é o homem do Temer aqui, e ele está ajudando o Camilo. Qualquer nomeação federal aqui passa por ele. Tem político ligado a nós que, de repente, foi para o lado de lá. O candidato majoritário é PT. Como ele vai fazer? Essa é a pergunta que fica no ar. Com Lula era fácil. Mas, e agora que o Haddad é o candidato oficial? O PT não tem estrutura forte aqui. Quem tem é o grupo dos irmãos Ferreira Gomes. Camilo vai fazer campanha para o Haddad? Fica essa hipocrisia e os petistas fazem vista grossa.