A oficialização da candidatura de Fernando Haddad (PT) dá contornos definitivos à nominata à Presidência da República e deflagra uma batalha pelo espólio eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A 25 dias do primeiro turno, Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e o próprio Haddad disputam a simpatia dos eleitores de Lula e tentam se aproximar do líder nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL), numa eleição em que um dos protagonistas está preso e o outro hospitalizado.
Tão logo registrou Haddad como cabeça de chapa, na tarde desta terça-feira (11), o PT tratou de adaptar a campanha. A aglomeração da militância em frente à sede da Polícia Federal em Curitiba, já foi embalada pelo novo jingle. Enquanto o petista deixava a carceragem onde se reuniu com Lula, as caixas de som retumbavam o refrão "chama que o 13 dá jeito", em troca do antigo "chama que o homem dá jeito". A letra da música ainda repetia que "Haddad é Lula lá" e "Haddad é Lula, é o povo". Para o cientista político Marco Antonio Carvalho Teixeira, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o episódio marca uma virada na campanha, com o PT colocando de fato a candidatura nas ruas, e inaugura os testes sobre a capacidade de transferência de votos do ex-presidente.
— A partir de agora, Haddad vai poder usar todos os recursos e o PT pode trabalhar por seu candidato. O potencial de transferência de votos de Lula começa a ser medido — pontua Teixeira.
Quase ao mesmo tempo em que Haddad era festejado em Curitiba, Ciro fazia caminhada por Taboão da Serra, na Região Metropolitana de São Paulo. Em segundo lugar na mais recente pesquisa Datafolha, mas tecnicamente empatado com Haddad, tenta cativar o voto identificado com a esquerda, mas desencantado com o PT. Para tanto, elevou o tom do discurso ao dizer que o adversário perdeu para os votos brancos e nulos na disputa pela prefeitura de São Paulo em 2016 e criticou a manobra petista de lançá-lo como vice numa espécie de suplência de Lula.
—Fui convidado a exercer esse papelão aí, de candidato a vice de araque para amanhã ser escolhido, na frustração do povo, pela não candidatura do Lula. Não é assim que se constrói uma liderança para um país em sofrimento, caos, em dificuldades tão graves — atacou o pedetista.
O crescimento de Haddad e Ciro nas pesquisas coincide com a queda de Marina, que transita no mesmo espectro político e perdeu votos inclusive entre as mulheres, seu maior eleitorado. Para especialistas consultados por GZH, o atual cenário projeta uma desidratação ainda maior da candidata, com seu eleitorado se dividindo entre PT e PDT. Dessa forma, a briga pelo segundo turno se daria dentro dos campos políticos. Na centro-esquerda, entre Haddad e Ciro e, na centro direita, entre Bolsonaro e Geraldo Alckmin (PSDB). O militar da reserva, contudo, já teria lugar praticamente assegurado na próxima etapa da eleição, graças a estabilidade conquistada na casa dos 20% nas pesquisas.
— A candidatura de Bolsonaro está consolidada. Se não surgir fato novo, estará no segundo turno. A outra vaga depende do destino dos votos de Lula. Hoje, a briga está entre Haddad e Ciro. Não vejo Marina no páreo — afirma o cientista político Paulo Baía, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Estagnado, Alckmin padece em dois Estados que sempre foram fortalezas tucanas, São Paulo e Minas Gerais. Em ambos o partido está rachado e enfrenta desgastes por conta de João Dória, que renunciou à prefeitura para tentar o governo do Estado, e Aécio Neves, enrolado em suspeitas de corrupção. Para piorar o quadro, no Paraná o ex-governador e candidato ao Senado Beto Richa foi preso nesta terça-feira (11), suspeito de corrupção. A apatia da campanha também atrapalha.
— Alckmin é o eterno picolé de chuchu. Não empolga o eleitor. Ele cresceu um pouco batendo em Bolsonaro, mas não pode mais fazer isso para não vitimizar o adversário —diagnostica o professor David Fleischer, da Universidade de Brasília.
— Embora tenha mais tempo de TV, Alckmin não mexe com as pessoas como Bolsonaro, Ciro e Haddad conseguem — complementa Paulo Baía.