Em gravação entregue pelo dono da empresa JBS, Joesley Batista, à Procuradoria-Geral da República (PGR), o senador Aécio Neves (PSDB-MG) pede R$ 2 milhões ao empresário para pagar despesas com sua defesa na Operação Lava-Jato. As informações são do jornal O Globo.
Leia mais:
Temer é gravado dando aval para compra do silêncio de Cunha, diz jornal
Deputados da oposição fazem protestos contra Temer no plenário da Câmara
Temer nega "reunião de mafiosos" para acertar propina
O encontro entre o executivo e Aécio teria ocorrido em 24 de março, em um hotel em São Paulo. No áudio, de cerca de 30 minutos, o líder tucano afirma que o criminalista Alberto Toron será o seu advogado de defesa. Após o acerto do pagamento, o dono da JBS perguntou quem seria o responsável por pegar as malas com os dinheiros:
– Se for você a pegar em mãos, vou eu mesmo entregar. Mas, se você mandar alguém de sua confiança, mando alguém da minha confiança – propôs Joesley.
Em resposta ao questionamento Aécio faz uma forte afirmação ao indicar seu primo para receber o dinheiro:
– Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação. Vai ser o Fred com um cara seu. Vamos combinar o Fred com um cara seu porque ele sai de lá e vai no cara. E você vai me dar uma ajuda do caralho.
O primo de Aécio recebeu o dinheiro do diretor de Relações Institucionais da JBS, Ricardo Saud, que também firmou acordo de delação.
Um rastreamento feito pela PF mostra que o dinheiro foi depositado em uma empresa do senador Zezé Perrella (PSDB-MG).
Contrapontos
O que diz Aécio Neves:
Por meio de nota, o senador Aécio Neves disse estar "absolutamente tranquilo quanto à correção de todos os seus atos. No que se refere à relação com o senhor Joesley Batista, ela era estritamente pessoal, sem qualquer envolvimento com o setor público. O senador aguarda ter acesso ao conjunto das informações para prestar todos os esclarecimentos necessários".
O que diz o presidente Michel Temer:
Em nota, o Palácio do Planalto afirmou que o presidente "jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha". "Não participou e nem autorizou qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar. O encontro com o empresário Joesley Batista ocorreu no começo de março, no Palácio do Jaburu, mas não houve no diálogo nada que comprometesse a conduta do presidente da República", diz o texto.
"O presidente defende ampla e profunda investigação para apurar todas as denúncias veiculadas pela imprensa, com a responsabilização dos eventuais envolvidos em quaisquer ilícitos que venham a ser comprovados", conclui.
________________
O que pesa contra os citados na delação:
A acusação contra Temer
Em gravação feita por Joesley Batista, Michel Temer indica o deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) para receber R$ 500 mil como propina para resolver um assunto do interesse da JBS. Temer também avalizou o repasse de dinheiro para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do doleiro Lúcio Funaro, ambos presos.
– Tem que manter isso, viu? – incentiva Temer.
A acusação contra Aécio
Em gravação, Joesley Batista registra o senador e presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), pedindo R$ 2 milhões. A entrega do dinheiro a um primo de Aécio, Frederico Pacheco de Medeiros, foi filmada pela Polícia Federal (PF). Rastreamento posterior feito pela PF demonstra que o dinheiro foi depositado em uma empresa do senador Zezé Perrella (PMDB-MG).
A acusação contra Mantega
Joesley Batista relatou ao Ministério Público Federal que seu contato no PT era o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Segundo o empresário, Mantega defendia os interesses da JBS no BNDES e repassava a propina aos petistas e aliados.
A acusação contra Cunha
Joesley afirmou ainda aos procuradores que pagou R$ 5 milhões para Eduardo Cunha. O dinheiro foi entregue após o ex-deputado ser preso. O pagamento seria referente a um saldo de propina. Joesley disse que devia mais R$ 20 milhões a Cunha pela tramitação de lei sobre a desoneração tributária do setor de frango.