Após dois dias, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) finalizou a auditoria na urna utilizada na seção 282, localizada no Colégio João Paulo I, pertencente a 2ª Zona Eleitoral de Porto Alegre. O procedimento foi realizado após um eleitor denunciar ao Ministério Público Eleitoral (MPE) uma possível falha no equipamento, que teria finalizado a votação antes de ele clicar no botão "confirma".
Segundo a vice-presidente do TRE, corregedora Marilene Bonzanini, nenhuma falha foi encontrada no equipamento.
— Não houve falha, ou qualquer dúvida quanto a computação dos votos. A população pode ficar tranquila — afirmou a vice-presidente.
Na quinta-feira (18), a urna que teria apresentado o problema foi religada e teve todos os seus relatórios impressos. Também foram apresentados ao MPE, e ao eleitor que reclamou o defeito, os registros de voto, na tentativa de provar que todos haviam sido computados.
A urna embaralha os resultados, tirando-os da ordem de votação, para evitar a exposição e quebra do sigilo de algum eleitor. Os dados, como título de eleitor, também são sigilosos. A etapa de hoje foi uma espécie de teste de eleição, uma votação paralela com os votos anunciados em voz alta, repetindo o processo que ocorreu em 7 de outubro no Colégio João Paulo I. 292 votos foram computados no dia da eleição geral e o mesmo foi inserido na máquina hoje.
Durante a auditoria, acompanhada por poucas pessoas no plenário do TRE e transmitida ao vivo pelo YouTube, o secretário de Tecnologia da Informação do tribunal, Daniel Wobeto forçou, por diversas vezes, os botões da urna, na tentativa de que ela apresentasse alguma anomalia. Qualquer alteração seria apontada posteriormente no relatório final de votação, impresso após o final dos testes. Nada foi constatado.
— Chegamos à conclusão que o que houve foram erros humanos. Pessoas que acreditaram ter tido algum erro da máquina, mas que na verdade foram percepções enganadas —defendeu o secretário.
As desconfianças do eleitor se concentraram em três, segundo Wobeto: falta de sinal sonoro, que avisa que eleitor pode digitar no campo do próximo cargo em disputa; não visualização da foto do político escolhido e encerramento de votação sem a computação do voto. O secretário afirmou que os sinais sonoros não são confirmações de que o voto foi computado, e sim um dispositivo para alertar o eleitor de que deve votar no próximo candidato.
— Quando ele vota nos cargos, cada etapa emite um bipe, que foi criado para deficientes visuais saberem que tem que votar no próximo candidato.
Os eleitores que afirmaram não terem seus votos computados para presidente podem ter se confundido, pois após teclar "confirma", não há mais um novo campo a digitar, e o sinal sonoro é diferente, segundo Wobeto.
— No final, para presidente, o bipe de "próximo candidato" não existe. É apenas o bipe de "FIM", que é mais longo. Assim, o eleitor pode ter pensado que seu candidato não teve o voto computado.
Foto do candidato não apareceu
Wobeto explicou também possíveis motivos para o eleitor não ter visto a foto do seu candidato na urna, acreditando assim haver alguma falha no sistema.
— São duas situações: ou ela votou para um candidato que não concorre naquele cargo, anulando o seu voto, ou ela baixou a cabeça e digitou muito rapidamente a sigla e em seguida o botão "confirma". Quando levantou a cabeça, a foto já não estava mais na tela.
A situação descrita pelo secretário, de eleitores que votaram em um candidato que não concorria àquele cargo, é exemplificada pelos números divulgados pelo tribunal. Um relatório dos votos nulos para governador apontou que 115 mil gaúchos digitaram a sigla de um candidato que concorria apenas para Presidente.
Os procedimentos na urna eletrônica são os mesmos da última eleição, mas as reclamações de possíveis fraudes foram maiores neste ano, segundo a vice-presidente do TRE. O motivo pode ser o momento político no Brasil.
— A falha humana ocorre com qualquer pessoa. Estamos vivendo um ambiente de instabilidade emocional, um ambiente de desconfianças. E muitos eleitores foram às urnas com esse sentimento, o que propiciou ao entendimento que haveriam irregularidades —, afirmou a corregedora, ao final da auditoria.
Aliviado com o resultado apresentado ao Ministério Público Eleitoral, Daniel Wobeto não esqueceu de agradecer à urna, com um tapinha:
— Obrigado, amiguinha.
O Ministério Público Eleitoral afirmou que só vai se pronunciar após a finalização de todas as auditorias do Estado, que ocorrem em mais de 100 urnas de todas as zonas eleitorais.