Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira, o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL-RJ) voltou a criticar acusações contra a ditadura militar. O deputado federal diz que abomina a tortura, mas que apenas os militares saíram como vilões do período, enquanto a maioria dos que denunciaram excessos agiram por "indenizações e piedade":
— E esse pessoal que se diz torturado, alguns, eu acho até que foram, aconteceu alguma maldade com eles, mas em grande parte não. É uma política, uma forma que eles usavam de dizer que foram torturados exatamente para conseguir indenizações, conseguir piedade por parte da população, conseguir votos e poder.
— Não houve golpe militar em 1964. Quem declarou vago o cargo do presidente na época foi o Parlamento. Era a regra em vigor — disse Bolsonaro.
O presidenciável defendeu ainda as atuações dos militares em casos de tortura e também a figura do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (1932-2015), a quem homenageou em seu voto durante o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Bolsonaro ainda reclamou que a imprensa escolhe apenas os casos que afetaram militantes da esquerda para comentar.
— Vocês só falam sobre casos da esquerda. Por que não falam sobre o atentado do aeroporto de Guararapes, em que morreu o Edson Regis? —, questionou, fazendo referência a um atentado a bomba ocorrido em Recife em 1966.
— Um dos militantes da AP, não digo que estava lá, era o José Serra. Vamos botar o Serra nos banco dos réus então.
Questionado sobre a possibilidade de abrir os documentos sobre o período do regime militar, Bolsonaro, mais de uma vez falou que esse assunto tem de ficar no passado e que já foi debatido:
— Não vou abrir nada. É daqui para frente. Não temos nada a esconder. (...) Eu desconheço os arquivos. Os papéis já foram... com toda a certeza já sumiram. Não está guardado por aí não.
Outro ponto que rendeu debate acalorado no programa foi o sobre a opinião do candidato em relação a cotas raciais. Bolsonaro disse que não pode acabar com esse benefício, pois isso depende do Congresso, mas não descarta discutir eventual redução dos percentuais. Ao ser questionado sobre propostas para resgatar a dívida da escravidão, o candidato disse que "nunca escravizou ninguém" e que a história mostra os negros como um dos culpados pela escravidão:
— Se for ver a história realmente, o português nem pisava na África. Foram os próprios negros que entregaram os escravos.
Relação com Eduardo Cunha
Durante o programa, Bolsonaro falou que, quando foi aliado de Eduardo Cunha, não sabia que ele "tinha problemas"
— Eu não sabia que ele tinha problemas, ora. O Maluf era acusado de corrupção o tempo todo, mas o (Alberto) Youssef disse que três deputados do PP não receberam dinheiro da Petrobras: Ana Amélia (Lemos), Bolsonaro e (Paulo) Maluf — afirmou o capitão da reserva do Exército. Na sequência, ele foi corrigido pelo jornalista Bernardo Mello Franco, do jornal O Globo, que afirmou ser Ana Amélia senadora.
Bolsonaro também afirmou que José Gregori — ex-ministro da Justiça e secretário dos direitos humanos no governo FHC — era guerrilheiro, quando o advogado perguntou se o pré-candidato gostaria de "fuzilá-lo" como disse em uma entrevista nos anos 90, assim como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
—O FHC, eu falei sim. Quanto ao seu nome, eu acho que você não merecia. Um guerrilheiro do seu biotipo é guerrilheiro de garganta.
O ex-ministro, entretanto, jamais participou da luta armada.
Durante a entrevista, o Roda Viva ficou no topo dos trending topics nacionais no Twitter, assim como os termos Carlos Alberto Brilhante Ustra (citado por ele como autor do seu livro de cabeceira), Vladimir Herzog, Eduardo Cunha e Jesus Cristo (quando questionado a ele se sabia que Jesus era um refugiado).