Uma semana após o temporal que causou diversos transtornos na Serra Gaúcha, a prefeitura de Caxias do Sul mantém a confiança no plano de contingência atual para atuação em eventos adversos. Segundo a assessoria de comunicação da Secretaria de Segurança Pública e Proteção Social, a chuva forte que atingiu Caxias entre sexta-feira (17) e sábado (18) – que ocasionou deslizamentos em rodovias que bloquearam os acessos da Serra, além de quedas de árvores, deslizamento de terra, destelhamentos e enxurradas – “não interfere em nada na atuação da Defesa Civil”, e o Executivo “segue o plano de contingência tal qual”.
Um dos fatores que explicam a forte chuva que atingiu o Estado desde setembro é o El Niño. O ápice do fenômeno, no entanto, será o mês de dezembro, segundo os meteorologistas, que alertam para novas possibilidades de temporal e danos decorrentes nas próximas semanas em solo gaúcho. Quando ocorrem situações nas quais é necessária a atuação do poder público, a Defesa Civil atua como um articulador da situação, conforme explica o secretário de Segurança Pública de Caxias, Paulo Roberto Rosa da Silva.
– O plano de contingência é a maneira de como agir e quem são as pessoas que auxiliam em um contexto de acontecer um evento. A Defesa Civil é um articulador da situação. Ela já faz os contatos com as diversas secretarias e o corpo de bombeiros, e faz a divisão de tarefas. Faz essa interligação entre os órgãos estatais e não-estatais.
No último sábado, a Defesa Civil de Caxias atuou na articulação no gabinete de crise instalado pela prefeitura. A desobstrução de cerca de 100 trechos de estradas, segundo a prefeitura, foi realizada por equipes da Secretaria de Obras e Serviços Públicos e das subprefeituras. Em caso de famílias desabrigadas, a atuação seria de equipes da Secretaria de Habitação. É desta forma que funciona a atuação do Executivo em eventos climáticos que geram situações de risco em pontos da cidade.
Atualmente, a Defesa Civil de Caxias conta com três integrantes no seu quadro: um coordenador, um agente e um auxiliar administrativo, além de uma única viatura para atuar nas operações.
Investimentos em estrutura
Além da atuação para solucionar os problemas das pessoas atingidas pelas enchentes, deslizamentos e rachaduras no solo observados no Estado após a forte chuva das últimas semanas, se faz necessária uma reflexão dos membros do poder público em relação ao que pode ser feito para prevenir ou mitigar os efeitos provocados pelos eventos climáticos.
Para o vereador Alexandre Bortoluz (PP), que preside a Frente Parlamentar de Proteção e Defesa Civil no Legislativo (instalada em 19 de setembro de 2023 na Câmara de Vereadores), é preciso ampliar os investimentos em Defesa Civil no município, aumentando o efetivo de servidores e melhorando a estrutura do órgão.
– Já passou do tempo de se fazer um investimento considerável na Defesa Civil municipal. Temos que equipar a Defesa Civil e dar condições de trabalho para eles, que fazem muito com o pouco que têm. Mas só estruturar não adianta, se não tem um efetivo apropriado para isso. Tem que preparar uma equipe, tem que aumentar consideravelmente o número de pessoas que trabalham na Defesa Civil. A maioria das pessoas atingidas em um evento adverso depende de um respaldo do poder público – avalia Bortoluz.
Em coletiva de imprensa na manhã de sexta-feira (24/11), um dia após um prédio residencial desabar em Gramado, o prefeito da cidade, Nestor Tissot (PP) decretou situação de calamidade e anunciou medidas, como a contratação de mais 10 técnicos para Defesa Civil, para auxiliar na segurança e nos trabalhos de área nos locais atingidos pela chuva no município. Em entrevista ao Pioneiro no mês de outubro, o secretário Paulo Silva afirmou que considera bom o atendimento da Defesa Civil nas situações recentes.
– (A atuação da Defesa Civil) É conforme a demanda e o problema. Nada a gente fala que é suficiente, sempre necessita mais pessoas, mas pelo trabalho e empenho muito eficaz que tem sido feito, estamos atendendo bem.
Propostas para áreas de risco e bloqueios em rodovias
O vereador Bortoluz enfatiza a importância da criação do plano de contingência, assinado pelo prefeito Adiló Didomenico (PSDB) em 6 de abril deste ano. Mesmo assim, na avaliação do vereador, ainda faltam medidas para aprimorar o trabalho da Defesa Civil em Caxias.
– Outros municípios têm avisos sonoros, comunicados, canais de comunicação específicos para a população ou se abrigar ou sair de suas residências por estar em uma área de risco. Nós propomos a criação do Fundo Municipal de Proteção e Defesa Civil. O dinheiro seria proveniente dos governos estadual e federal. Muitas vezes, a Defesa Civil tem que pedir material para os bombeiros ou para a Secretaria de Habitação para fornecer para as residências. A Defesa Civil tem que ter essa estrutura, essa autonomia, para poder contemplar a população.
O plano de contingência não é fechado. É em cada evento que vamos moldar, ver o que funcionou ou não, o que pode ser melhorado.
SUELY RECH
Diretora-geral de Segurança Pública e Proteção Social de Caxias do Sul
Para a diretora-geral de Segurança Pública e Proteção Social de Caxias, Suely Rech, conforme entrevista concedida ao Pioneiro no mês de outubro, o plano de contingência pode ser alterado a partir de cada caso, com as melhorias que eventualmente precisem ser realizadas.
– O plano de contingência não é fechado. É em cada evento que vamos moldar, ver o que funcionou ou não, o que pode ser melhorado. Mas a Defesa Civil precisa prever algumas coisas. Nós já possuímos a estrutura do município, o que precisamos nesses eventos é estar articulados. Nosso plano de contingência prevê, numa situação de crise, a instalação de um comitê, liderado pelo prefeito.
Sobre os deslizamentos de encostas que bloqueiam o trânsito em rodovias quando há chuvas – como ocorreu no km 181 da BR-116 em Nova Petrópolis no mês de junho, que atualmente encontra-se totalmente bloqueada, ou entre os kms 41 e 44 da RS-122, onde a queda de barreira bloqueou todo o trecho desde sábado (18/11) –, Alexandre Bortoluz diz que somente um “investimento bilionário” solucionaria as interrupções do fluxo entre a Serra e a Região Metropolitana de Porto Alegre: ou uma rota alternativa, ou muros de contenção ao longo das rodovias.
– Uma solução mais rápida e sem tanto gasto seria mobilizar uma grande equipe para fazer a desobstrução das vias em tempo recorde, trabalhando dia e noite. Entendemos que o Estado não estava tão preparado para atender essas situações em praticamente todas as regiões. A malha ferroviária é uma maneira muito mais rápida, seja para carga, seja para as pessoas. Estamos numa região turística e num polo metalmecânico. É um sonho. O investimento (para construir) acaba sendo menor, e para os próprios empresários se torna um meio muito prático, por vezes mais rápido que o caminhão e é uma maneira de se desobstruir o trânsito das rodovias – projeta Bortoluz.