Completados dois meses de mandato (no dia 1º de abril), os deputados federais que representam a serra gaúcha em Brasília, Denise Pessôa (PT) e Mauricio Marcon (Podemos), já se sentem adaptados à nova realidade. Os parlamentares, que deixaram a Câmara de Vereadores de Caxias do Sul ao final de janeiro e assumiram as novas funções no dia 1º de fevereiro, já têm, somados, sete projetos protocolados no Congresso, e integram, como titulares ou suplentes, sete comissões diferentes ao todo.
Durante os 60 dias, Marcon já apresentou quatro projetos na Câmara dos Deputados, sendo dois referentes ao direito de voto dos caminhoneiros, um sobre a contribuição sindical e outro sobre os repasses de verbas da saúde para pacientes com plano de saúde atendidos pelo SUS. Além disso, o deputado do Podemos participa como titular de duas comissões permanentes do Congresso: da Comunicação e da Viação e Transportes. Das comissões de Constituição e Justiça e Cidadania e de Indústria, Comércio e Serviços, Marcon é suplente. Segundo ele, sua adaptação ao trabalho legislativo foi "tranquila", e atribui ao fato de ter montado uma equipe muito técnica para lhe auxiliar. O maior desafio da adaptação, até o momento, é conciliar sua vida pessoal entre Caxias do Sul e Brasília.
Já Denise tem três projetos apresentados: um deles diz respeito à garantia do salário de mulheres vítimas de violência através do INSS, e outros dois tratam de causas raciais, sendo um que obriga os condenados por crime de racismo a realizarem um curso sobre miscigenação e questões raciais, e o outro que ajusta a lei para deixar nítido que é considerado racismo o preconceito contra pessoas que venham de outra região, como por exemplo nordestinos ou baianos. A deputada petista atua como titular em três comissões _ de Desenvolvimento Urbano, Comunicação e Cultura. Nas comissões de Administração e Serviço Público, e de Viação e Transportes, Denise é suplente. Ela aponta que o seu grande desafio, até agora, é gerenciar a agenda e se ajustar à realidade diferente entre o trabalho de vereadora e deputada.
Em entrevista ao Pioneiro, os parlamentares destacaram os principais pontos da sua adaptação à nova rotina em Brasília, assim como seus projetos apresentados na Câmara e as pautas de interesse da Serra Gaúcha. Confira as entrevistas:
Adaptação a Brasília
Denise Pessôa (PT): "É diferente o trabalho da Câmara dos Deputados de uma Câmara de Vereadores. Ficam muito evidentes as questões de desigualdade na representatividade das mulheres. Para mim, tem sido uma novidade ser parlamentar como situação, e tem sido muito bom, muito positivo, nunca tinha tido essa experiência. Estamos conseguindo fazer esse elo entre Caxias do Sul e o governo federal. Tenho percebido muita procura pelos representantes da Serra, o que demonstra que havia algo represado, seja porque não tínhamos deputado da região em Brasília ou porque o governo anterior não tinha esse trânsito.
Tem ajustes que tenho que fazer pessoalmente para a adaptação. A Câmara de Vereadores é um espaço menor, tu acaba querendo estar presente em todas as atividades municipais. Como deputada federal, se tem muito mais agendas e a representação é de um Estado inteiro. Estou compreendendo, medindo ainda quais são os lugares, as agendas, porque é muita coisa. O maior compromisso é com a nossa região, com a Serra. O grande desafio é gerenciar a agenda, ainda mais sendo governo."
Mauricio Marcon (Podemos): "Eu montei uma equipe muito técnica em Brasília, então para mim foi bem tranquilo. O Podemos também oferece uma estrutura bem interessante. Minha adaptação está muito boa, confesso que achei que seria mais difícil, mas já me inseri no grupo de pessoas que basicamente têm os mesmos valores e princípios que os meus. Está sendo bem tranquilo e, surpreendentemente, me adaptei mais fácil do que pensava. Tinha muito medo de sair de Caxias e, por gostar muito da cidade, não conseguir uma adaptação muito rápida, mas, como temos um fluxo de vai e volta, está tranquilo. Me dei bem e estou sentindo que vou gostar bastante.
Acho que o que mais pesa na adaptação é a questão da minha esposa, por eu não morar aqui (em Caxias) nem lá (em Brasília). Temos ideia de ter filhos, então tenho que decidir para que lado vamos de fato. Vou a Brasília nas segundas-feiras e fico 10 dias, volto (para Caxias) para passar o final de semana. Acabo sentindo bastante saudade de casa e do meu pai, então é o que falta na adaptação."
Atuação parlamentar
Denise: "Tenho três projetos que já estão tramitando. Um referente à questão das mulheres vítimas de violência, para garantir o salário delas através do INSS. Apresentei mais dois referentes à questão racial. Um deles para garantir um curso para pessoas que praticam o crime de racismo, que sabemos que é uma questão cultural, então, a pessoa teria que participar de um curso para compreender a miscigenação e a questão racial no Brasil. Se não, ela vai ser penalizada hoje, amanhã vai ser de novo, e nada muda. O projeto também garante um atendimento psicossocial para a vítima que sofre o racismo. O terceiro projeto trata de um ajuste da lei do racismo, que não deixa nítido o preconceito contra pessoas que venham de outra região, por exemplo nordestinos ou baianos. Então melhoramos a redação para ajustar esse ponto, que já tem até decisão judicial referendando isso.
Percebemos que a infraestrutura das nossas rodovias ficou parada, temos vários gargalos, mas o principal é o da BR-116
DENISE PESSÔA
Deputada federal pelo PT
Tem um companheiro nosso do partido que já é falecido, o Adão Pretto, que dizia: "Um pé no parlamento e um pé na luta do povo." A gente sempre procura fazer isso, estamos no Parlamento, mas estamos na base conversando com as pessoas para realmente legislar e ajustar os projetos à vida das pessoas."
Marcon: "Apareço em quarto lugar como deputado federal mais influente nas redes sociais, e o segundo da oposição. Para alguém que tem só 60 dias de mandato, considero ser bem legal. Já consegui protocolar quatro projetos. Um deles é sobre caminhoneiros poderem votar em postos da Polícia Rodoviária Federal (PRF) quando estiverem em deslocamento, o que acredito que já vai estar pronto para a próxima eleição. Outro é para fazer a cobrança da contribuição com os sindicatos através de boleto, e não direto na folha de pagamento, o que proíbe ou pelo menos dificulta que essa cobrança seja feita de pessoas que não tenham concordado com esse desconto. O terceiro projeto é referente aos caminhoneiros também, para garantir direito ao voto a quem eventualmente está em hospitais ou em tratamento contínuo, assim como os médicos e enfermeiros. O quarto projeto é para que o recurso do atendimento SUS de quem tem planos de saúde volte ao município onde o paciente foi eventualmente atendido. Hoje, o plano tem que pagar para o governo a diferença, e esse valor entra em um fundo que não volta para o município.
Sou oposição ao governo de esquerda, conservador nos costumes e liberal na economia. Estamos trabalhando para fazer um projeto que determine que as próximas praças a serem construídas no Brasil obrigatoriamente contem com um ponto de descanso para os caminhoneiros."
Pautas da Serra
Denise: "O que mais movimenta a região são problemas na área da saúde. Os hospitais, com a questão da não-atualização da tabela SUS, querem investir em áreas, ampliação de serviços ou demandas que necessitam, e não dão conta. É uma questão bem difícil e bem complexa. O aeroporto de Vila Oliva é um tema extremamente importante como equipamento público para a nossa região. Percebemos que a questão da infraestrutura, das nossas rodovias, também ficou parada. O Ministério da Infraestrutura nos colocou que as regiões Sul e Norte foram as que menos investimentos tiveram na área no último governo. Temos vários gargalos, mas o principal é o da BR-116.
Vamos investir em emendas para a compra de exames, cirurgias e consultas, para diminuir as filas da saúde em Caxias
MAURICIO MARCON
Deputado federal pelo Podemos
Precisamos pensar na valorização da indústria nacional, que neste último período também foi maltratada, e precisamos dar incentivos, assim como a agricultura familiar. Na nossa região, a maioria dos produtores são da agricultura familiar, que são quem de fato produzem os alimentos. Trabalhamos muito na questão da seca, cobramos o governo federal. Temos que pensar em medidas para garantir que o agricultor consiga trabalhar, sobreviver e garantir sua produção."
Marcon: "Temos bastante demandas da Serra, principalmente questão de obras. Vou dedicar para Caxias do Sul metade de todo o dinheiro que vamos ter através da RP2, que são as emendas parlamentares obrigatórias, entre R$ 65 e R$ 70 milhões durante os quatro anos de mandato. Metade desse valor vai obrigatoriamente para a saúde, e em conversas com a secretária Dani (Daniele Meneguzzi, secretária municipal de Saúde), decidimos que vamos investir todo esse dinheiro para a compra de exames, cirurgias e consultas, para diminuir as filas. Ela me passou que, com mais ou menos R$ 50 milhões, se zeraria esse déficit, então ninguém mais estaria na fila, e vou trabalhar para conseguir isso. Trabalho também para que venha no ano que vem uma prefeitura com um governo mais liberal-conservador, como eu acredito."