Foram 45 dias de campanha eleitoral fora o período em que os postulantes ainda se denominavam como pré-candidatos. No último domingo (2), o resultado nas urnas mostrou se os candidatos da Serra gaúcha alcançaram o êxito de conquistar um disputado cargo na Câmara dos Deputados ou na Assembleia gaúcha. Alguns que não conseguiram se eleger culpam o desempenho eleitoral pela polarização exacerbada no país, outros, o pouco contato com as redes sociais e a falta de apoio político.
Em Caxias do Sul, foram cinco deputados eleitos: os vereadores Denise Pessôa (PT) e Maurício Marcon (Podemos) garantiram vaga para o Congresso; Neri, O Carteiro (PSDB) e Pepe Vargas (PT) foram reeleitos para a Assembleia; e Professor Claudio Branchieri (Podemos) assumirá o primeiro mandato no Legislativo gaúcho. Elton Weber (PSB) foi reeleito deputado estadual por Nova Petrópolis e Guilherme Pasin (PP) conquistou a confiança de Bento Gonçalves para assumir na Assembleia. Os atuais deputados estaduais Carlos Búrigo (MDB) e Fran Somensi (Republicanos) não garantiram a reeleição.
Entre os postulantes, estavam outros oito parlamentares do Legislativo caxiense que não se elegeram, mas continuam com seus mandatos ativos no âmbito municipal. Outros dois nomes que também mostravam força pela sua trajetória política não conquistaram uma vaga. Edson Néspolo (PDT) concorria a deputado estadual. O político foi vereador de Caxias do Sul em duas ocasiões, chefe de gabinete e secretário de várias pastas no governo do ex-prefeito José Ivo Sartori (MDB), presidente de duas edições da Festa da Uva, além de ter concorrido duas vezes à prefeitura da cidade.
Já o ex-deputado federal Mauro Pereira (MDB) tentava garantir seu retorno à Brasília, mas não obteve sucesso nesta eleição. Mauro também foi vereador por três mandatos e secretário de Obras e Serviços Públicos durante a gestão de José Ivo Sartori em Caxias.
Os candidatos que ficaram pelo caminho contam à reportagem a sua avaliação do desempenho nas urnas e os planos a partir de agora.
Não se reelegeram à Assembleia
Carlos Búrigo (MDB) - 33.611 votos
"Tinha a expectativa, sim, de fazer uma votação melhor do que a gente fez pelo serviço sério e de responsabilidade. Não sei em qual parte as pessoas não compreenderam o meu trabalho, então democraticamente temos que entender isso. Não tenho nenhum rancor, mas claro que ficamos tristes porque acreditávamos que estávamos fazendo um trabalho de parlamentar mesmo. (Sobre o futuro) Eu sou produtor rural também, tenho propriedade em São José dos Ausentes, mas moro em Caxias porque é a cidade que eu escolhi para morar com a minha família. Talvez agora vou ter mais tempo para a família. Vamos ver o que vou fazer, ainda é cedo."
Fran Somensi (Republicanos) - 23.615 votos
"Nossa campanha foi pautada no trabalho que realizamos nesses três anos e oito meses de mandato e nas propostas que temos principalmente para a área da saúde. Nós levamos a Farmácia Solidária para 42 municípios gaúchos e poderíamos chegar a mais de cem em um segundo mandato. Quanto ao resultado, infelizmente tivemos uma eleição novamente polarizada ao extremo. As pessoas não perguntam mais o que você fez ou fará, querem saber se apoia Lula ou Bolsonaro. Os resultados mostraram isso. Os candidatos que dispararam nos votos são bolsonaristas ou apoiadores de Lula. Mesmo assim, tivemos uma excelente votação diante deste cenário, com uma campanha limpa, leve e propositiva fizemos 23.615 votos. Vou continuar tocando meus negócios. Sou proprietária de duas farmácias, uma em Bento Gonçalves, uma em Farroupilha."
Vereadores que não se elegeram
Marisol Santos (PSDB) - 23.929 votos para a Câmara
"Ainda estamos olhando os números aqui da Serra e do Estado, mas fiquei feliz com a expressiva votação e agradeço a todos os cerca de 24 mil eleitores que confiaram o voto a mim, garantindo uma suplência na Câmara e a terceira maior votação para deputada federal entre os candidatos da Serra. Ainda assim, infelizmente, vimos muitos candidatos de outras cidades e regiões na lista dos mais votados. Fizemos uma campanha limpa e propositiva. Esse período foi de muito aprendizado. Seguimos trabalhando com toda a dedicação!"
Velocino Uez (PTB) - 8.691 votos para a Câmara
"Se tu analisar a minha votação diante de todos os candidatos votados de fora (da cidade), foi uma votação razoável. Era uma campanha que deveria ter iniciado antes. O diretório do partido é que nos escolheu para concorrer. Deveríamos ter buscado antes na região. Buscar votos fora (da cidade) é muito difícil. Quanto a 2026, antes existe um processo eleitoral em 2024. (Sobre concorrer à prefeitura) eu sempre digo que será o partido e as pessoas que me apoiam que decidirão o que devo almejar. Eu sou um soldado do partido e das pessoas. Agora, vou cumprir meu mandato como vereadorl, vou continuar com afinco."
Wagner Petrini (PSB) - 7.094 votos para a Câmara
"Foi uma eleição bastante polarizada. Aqui em Caxias a gente teve o reflexo da questão bolsonarista e petista. Então, os candidatos que não eram da polarização acabaram não conseguindo decolar. Essa onda do (Mauricio) Marcon, do discurso, do populismo, isso fez com que sobrasse pouco voto para quem estava disputando voto mais do centro, do trabalho e do mandato em ação. Mas acredito que essa minha votação de 7.094 votos é uma baita votação, nos dá experiência, abre muitas portas, conheci lideranças novas. Desse total de votos, cinco mil foram só aqui em Caxias do Sul. Isso nos dá um respaldo para seguir trabalhando. No mais, é agradecer o pessoal que confiou no nosso trabalho. A política é isso, temos sempre que fazer o bem que o resultado vem."
Olmir Cadore (PSDB) - 2.851 votos para a Câmara
"Uma eleição difícil, desafiadora e muito polarizada. Entre os extremos de direita e esquerda. Paguei o preço de ser mais ponderado e, independente de resultado, só tenho a agradecer pelo acolhimento da comunidade por onde estive."
Adriano Bressan (PTB) - 8.180 votos para a Assembleia
"Na avaliação da nossa equipe saímos dessa eleição fortalecidos. Primeiro, que nossa situação financeira foi horrível. Segundo que o objetivo era ficar em segundo lugar e conseguimos. A melhor avaliação é que, dentre todos os candidatos que não se elegeram, sou o único que ficou na primeira suplência. Sou o primeiro suplente do PTB. Para 2026, é provável que a gente concorra, mas no caminho ainda temos a eleição de 2024."
Alexandre Bortoluz (PP) - 4.555 votos para a Assembleia
"Eleição em nível estadual é de outra magnitude, mais complexa em questão de área e deslocamento, mas, igual, sempre se tiram lições de cada campanha eleitoral. Não logramos a vaga na Assembleia, mas ficamos em suplência. Extraímos feedback da votação em Caxias do Sul, onde atingimos 3.166 votos dos 4.555. Em 2020, fomos eleitos com 1.316. Logo, entendemos por um ganho político e reconhecimento da atividade desempenhada até aqui. No mais, os planos voltam-se ao foco total na sequência do mandato como vereador."
Zé Dambrós (PSB) - 4.847 votos para a Assembleia
"Não ganhei, mas não fui rebaixado. Procurei combater o bom combate e levar sempre uma boa mensagem por onde andei. Minha campanha foi curta, simples e o mais humana possível. A saúde pública e a defesa do SUS foram minhas principais bandeiras. Sobre 2026, sinceramente, não me preocupo com isso. O que me preocupa e me tira o sono é o descredenciamento iminente do Hospital Pompéia junto ao SUS."
Sandro Fantinel (Patriota) - 7.115 votos para a Assembleia
"Essas eleições me deixaram muito triste. Eu aprendi que o político que trabalha, que traz resultados para a sua cidade, que traz projetos maravilhosos que mudam a vida das pessoas, que se empenha, que faz jus ao salário que ganha, esse político não ganha voto. Trabalhar não dá voto, o que dá voto é mídia, é a gente aparecer, é ser famoso nas redes sociais, na rádio, na televisão. Eu vou continuar trabalhando porque eu jurei para mim mesmo que eu seria esse tipo de político. Eu trouxe a regularização fundiária para Caxias do Sul. Criei o segundo maior projeto da área social, o Agro Fraterno, que não usa um centavo de dinheiro público. Quando eu precisei de voto, ganhei sete mil votos, em Caxias 4.500."
Não se elegeram
Mauro Pereira (MDB) concorreu à Câmara dos Deputados e fez 13.004 votos
"Eu fiquei quatro anos em Brasília trabalhando, trabalhando mesmo. Nesse período eu fiquei fora das redes sociais, fiquei fora do Facebook, do Instagram e do Twitter. A campanha foi baseada praticamente no que eu fiz em Brasília, atendendo prefeitos, vereadores, empresários e a sociedade. Ao mesmo tempo, foi muito decepcionante para mim porque eu só fui autorizado a registrar a minha candidatura no último dia (15 de agosto) porque fiquei esperando autorização para poder concorrer e não recebia. Quando eu fui atrás dos prefeitos da região, já tinham se comprometido com os demais deputados federais. Perdi apoio na região e comecei a campanha aos 45 minutos do segundo tempo. Perdemos uma batalha, mas não perdemos a guerra."
Edson Néspolo (PDT) concorreu à Assembleia gaúcha e fez 16.254 votos
"Eu acho que se houve erros, foram principalmente relacionados a mim, pelas minhas limitações. Eu não tenho outra resposta. Eu esperava fazer um pouco mais (de votos), mas enfim, é da vida. Pouco recurso, uma estrutura pequena. (As limitações que falo) são defeitos que eu devo ter, mas não posso subestimar quase 17 mil votos. Foram 17 mil pessoas que confiaram em nós, também tenho que ficar muito contente com isso, é bastante gente. Na cidade em que a gente vive, ter sido o quarto mais votado para mim é um orgulho. Agora, vou dar uma acalmada. A minha tendência é a iniciativa privada. Mas (para cargo público) a gente nunca diz um não definitivo."