Eleito deputado federal com 140.631 mil, Mauricio Marcon (Podemos) pretende repetir em Brasília a atuação que tem na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, porém, com uma diferença. Crítico quando se trata em criação de leis no Legislativo caxiense, ele já tem em mente projetos para protocolar na Câmara Federal. Isso porque entende que enquanto a ação do vereador é limitada, a de deputado tem mais poder para legislar.
Em entrevista ao Gaúcha Hoje da Gaúcha Serra nesta segunda-feira (3), Marcon adiantou que planeja criar um projeto mais claro que não obrigue a contribuição sindical e uma proposta de mudança da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) para dar ao trabalhador a possibilidade de abrir mão de férias e 13º salário.
Sobre demandas específicas da Serra, disse que irá se reunir com os segmentos para discutir as necessidades:
— A gente tem que sentar e ver quais são as demandas, a gente tem que ter humildade para dizer que não sabe tudo. Tudo o que tiver e que esteja dentro dos meus valores e princípios, a gente vai trabalhar pelo bem da nossa cidade e da nossa região.
Ouça a entrevista:
O deputado eleito também falou do desejo de um dia concorrer ao Senado e descartou a possibilidade de disputar a prefeitura de Caxias do Sul. Confira a entrevista:
Pioneiro/Gaúcha Serra: os números da eleição ficaram dentro ou acima do esperado?
Maurício Marcon: bem acima. Bom sempre lembrar que minha campanha não usou R$ 0,01 de recurso público. A gente disputou a vaga com pessoas que tinham mais de R$ 1 milhão para fazer campanha, quem ficou na minha frente já era deputado, vereador só eu, então, fazer 140.634 votos num ambiente como esse realmente é sensacional. Eu fiz votos em cidades que nunca nem ouvi falar, então, o poder que a internet tem é grande e eu uso ela muito bem. Eu tento sempre dar maior transparência possível nas minhas colocações. Então, nosso objetivo, quando a gente entra na disputa, sempre é ser eleito, obviamente, mas eu pulei de 11.003 votos em 2018 quando concorri à Câmara Federal também. Isso me deixa muito feliz. Saio na rua de cabeça erguida. Volto a frisar: não foi usado nenhum centavo de recurso público na minha campanha, não tirei dinheiro de ninguém para fazer a campanha, isso para mim é algo que me dá muita tranquilidade.
A representação na Câmara Federal era um desejo e uma necessidade da região. O que o senhor leva de propostas? Irá trabalhar em que sentido para trazer melhorias para a Serra?
Nos próximos 28 dias a gente tem uma eleição nacional que vai decidir muito do nosso futuro: se a gente vai caminhar para frente ou se a gente vai ter que eventualmente trabalhar para barrar retrocessos. Neste momento, nos próximos 28 dias, vou dar a minha vida, meu sangue para que Bolsonaro seja reeleito e, caso de uma desgraça, que o povo brasileiro, por algum motivo, escolha um modelo venezuelano, a gente vai basicamente trabalhar para que o nosso país não vire uma Venezuela. E a proposta é a mesma que tinha aqui em Caxias do Sul: trabalhar pela liberdade, desburocratização, facilidade de negócios, de empreender, tentar copiar o que deu certo no mundo. Os modelos que já foram felizes quando foram implementados e tentar barrar eventualmente modelos que deram errado. Minha posição é muito clara. Caso Bolsonaro seja eleito, devo ser um parlamentar independente, sempre aprovando o que é bom. Se Lula for eleito, muito provavelmente eu seja um parlamentar de oposição feroz ao PT como é aqui em Caxias do Sul. Não vou mudar nunca meus valores e princípios. Eles são muito claros e transparentes, não mudei até hoje e não vou mudar jamais. A gente tem a questão das emendas e eu quero fazer um sistema organizado que não privilegie quem vem mais puxar o saco do deputado para ganhar emenda. A gente vai fazer um modelo matemático para decidir onde é que o dinheiro vai. Quero fazer uma distribuição uniforme nas regiões mais carentes do município e da região. Quero também que o povo decida onde vai o dinheiro, não quero que político decida. A gente tem aí, basicamente, um ano, porque as emendas começam a ser pagas em 2024 só para quem vai assumir em 2023. A gente vai fazer um modelo honesto, bem transparente para as pessoas, onde o dinheiro delas vai estar indo, é isso que importa. O dinheiro é das pessoas, emenda não é favor nenhum para o povo, é só devolver o dinheiro do povo para o povo e é isso que eu vou fazer.
O senhor disse (na Câmara de Vereadores) que seu objetivo era formar uma frente anti-PT e a partir daí tem pautado a sua atuação por essa intervenção ideológica muito forte. O senhor também é um crítico quando se tenta mensurar a atuação legislativa em cima de números de projetos encaminhados. Como será sua atuação? Irá se pautar por essa por esse encaminhamento ideológico ou vai ter também uma preocupação com projetos?
A gente tem que ter ciência que o trabalho de um vereador, o projeto que ele pode fazer, é muito limitado. Muitas vezes tem o dia do samba, tem o dia do não sei o que lá, então o que um vereador basicamente pode fazer de projeto é extremamente limitado. Eu nunca me pautei pelo número de projetos que eu apoiaria ou apresentaria. Na Câmara Federal, a coisa é bem diferente. Um deputado tem um poder muito maior para fazer projetos e a gente já tem alguns na cabeça. Sobre o combate ideológico, certamente vai permanecer. A gente fez 140.634 votos e eu acho que essas pessoas esperam isso de mim. Eu acho que a pior coisa que pode acontecer para um político é mudar. A gente teve alguns exemplos aqui e em todo o Brasil, pessoas que se elegeram pela primeira vez com um discurso e depois mudaram a postura. Isso as urnas acabam punindo. A minha postura vai ser exatamente igual. Eu sou, sim, um vereador hoje e futuro deputado que defende uma ideologia muito clara. Isso a gente vai continuar sendo lá em Brasília. Certamente discursos efusivos, como os vistos aqui em Caxias do Sul, vão se repetir na tribuna da Câmara Federal.
Falando em projetos, tivemos aqui uma mobilização do Mobi Caxias para apontar as principais demandas em diversas áreas. Tem alguma área específica que o senhor pretende dar mais atenção?
Dependendo do governo que for eleito, muita coisa vai ser diferente. Por exemplo, Lula já disse que quer que volte basicamente uma contribuição obrigatória sindical. Isso é uma coisa que eu não posso aprovar: que o cidadão seja obrigado a descontar do seu salário algum valor pra dar para o sindicato a contragosto. A minha ideia é que, o Bolsonaro ganhando, deixar uma lei mais clara. E a gente tem uma proposta também sobre a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), ter a opção do trabalhador optar pelo modelo americano onde ele não tem férias, não tem 13° salário, mas normalmente recebe o dobro. Para o patrão custaria a mesma coisa, mas o trabalhador receberia em dobro. Tem uma série de coisas que a gente pode copiar. Nós precisamos copiar o que dá certo. Sobre o Mobi, certamente a gente vai sentar com o pessoal. Ainda é muito recente, dormi duas horas essa noite. A gente está aqui falando e os neurônios nem concatenam muito bem porque realmente é um misto de sensações. Eu estou em choque ainda porque, querendo ou não, do nada estou deputado. Há dois anos eu não tinha mandato nenhum e agora eu sou deputado federal. A gente está colocando as ideias na cabeça, mas a gente vai sentar. Já recebi também mensagens da CDL, do próprio prefeito (Adiló Didomenico). A gente tem que sentar e ver quais são as demandas porque a gente tem que ter humildade e saber que não sabe tudo. A melhor coisa que um político pode fazer é escutar e levar as demandas. Tudo que esteja dentro dos meus valores e princípios, a gente vai trabalhar pelo bem da nossa cidade e da nossa região.
O senhor tem pretensões executivas ou a sua atuação é basicamente com o perfil legislativo?
O meu perfil é completamente legislador. Sobre a prefeitura de Caxias do Sul não existe a menor possibilidade de eu concorrer a prefeito de Caxias do Sul. O meu objetivo é e sempre foi o Legislativo. Um sonho distante para mim, lá na frente, daqui a pouco, daqui a vinte anos, é concorrer ao Senado. Mas hoje eu estou extremamente feliz como deputado federal. Acho que é uma coisa que eu vou gostar muito de fazer. A prefeitura de Caxias do Sul não é uma ambição minha. Neste momento, como falei, vou trabalhar pela reeleição do Bolsonaro. Ali na frente, a gente já tem nomes que a gente gosta muito e que a gente tem de apoiar para prefeitura. Eu não tenho capacidade, eu acho, de ser prefeito. Eu sou um cara muito do Legislativo. Não sou, digamos, um agregador. Eu sou um cara que defende pautas ideológicas e isso, muitas vezes, desagrada uma parte da população e outra parte acaba agradando. Se tu pegar meus votos em Caxias, cerca de 21% dos votos, o que dá a cada cinco votos válidos, eu fiz um voto. É muito para o Legislativo, mas para a prefeitura, eventualmente, não serve. A gente vai certamente seguir na vida de legislador que é para isso que eu acho que eu nasci e para isso que eu tenho um certo dom.
O senhor já está se preparando para essa mudança para Brasília? Já tem pensado em equipe, o que vem pela frente?
Com certeza, os três assessores do meu gabinete vão estar comigo. São pessoas muito leais a mim e eu gosto de contratar não só qualidade, mas lealdade. Nem sei quantos pode, eu não fui atrás disso porque acho que não era o foco. Sobre a questão de Brasília, também não sei se vou alugar um apartamento, se vou morar em um apartamento, hotel, não sei. Eu sou muito apegado a minha família, então, com certeza, eu vou e volto toda semana porque eu não fico longe deles. A vida vai ter uma mudança muito grande. A gente, querendo ou não, acaba mais uma vez ficando na vitrine porque, da Serra, de longe eu fui o mais votado. Do mesmo ponto que é muito gratificante, a gente tem também o sentimento de ter uma obrigação com as pessoas e com o Rio Grande do Sul. Essa eleição era definitiva. Se eventualmente eu não me elegesse, eu não concorreria novamente a vereador. Como me elegi deputado federal, agora a minha loja em Caxias vai ficar mais para o meu irmão cuidar e eu vou me dedicar à política. Isso que eu vou fazer na minha vida.
Ricardo Zanchin assume com a sua saída da Câmara de Vereadores?
Sim. Isso é uma coisa até curiosa. Eu tive dois brilhantes professores, tive outros, mas dois brilhantes professores na faculdade: professor Zanchin e professor Cláudio. O professor Zanchin eu trouxe para a política. Ele teve um problema no meio da campanha, ele perdeu a mãe uma semana antes da campanha. Foi uma situação bem complicada e mesmo assim ele ficou na primeira suplência. Agora vou ter a graça de poder colocar ele na vereança. E o professor Cláudio, que também foi um brilhante professor, eu tive a força suficiente para ele, claro, junto com a força dele, para elegê-lo deputado estadual. Meu sentimento é de pagar o que eles me deram de conhecimento na faculdade, e é isso que a gente precisa trazer, pessoas boas para política. Frisando, tanto Zanchin quanto Cláudio não usaram R$ 1 de recurso público. O meu voto custou cerca de R$ 0,40, provavelmente seja o voto mais barato da história. Se somar a minha campanha com a do professor Cláudio, não sei se deu R$ 70. Mostrando que sendo honesto, transparente, não precisa usar dinheiro público para fazer campanha. É isso que eu quero fazer na eleição já de 2024. Nós vamos estruturar bem o Podemos e vocês podem ter certeza que só vai concorrer pelo Podemos quem não usar recurso público.