Um dos assassinatos mais misteriosos de Caxias do Sul completou seis meses nesta terça-feira (27). O médico Guilherme de Oliveira Lahm, 34 anos, foi executado na frente da casa da mãe dele, no bairro Rio Branco. A Polícia Civil aponta que este é um caso complexo, o que exige mais tempo de investigação. Os indícios apontam que a vítima não conhecia o atirador, por isso, o esforço dos investigadores é para identificar o mandante do homicídio.
— A vítima não tinha nenhuma relação com o mundo do crime, não há reconhecimentos ou relação do atirador com vítima. É preciso outros elementos para chegar a autoria, um raciocínio totalmente inverso do que é o padrão. Embora pareçam longos estes seis meses, é satisfatório o que já avançou nesta investigação. Infelizmente, não temos como divulgar mais informações para não prejudicar a elucidação deste caso — pondera o delegado Rodrigo Duarte, que assumiu a Delegacia de Homicídios em setembro durante as férias do delegado titular Caio Márcio Fernandes.
— Não podemos falar em prazos. Há um caminho que, passo a passo, está sendo feito. Muitos passos (diligências) saem da nossa alçada (da Polícia Civil), mas são essenciais para vislumbrarmos a motivação desta execução. Há uma ideia de que a motivação está muito perto da vítima, como uma dívida, uma questão passional ou brigas anteriores. Mas não podemos fechar nenhuma porta. Como atirador e vítima não tinham relação, a grande questão é quem teria interesse em matar a vítima — explica o delegado Duarte, que chefiou por seis anos as investigações de homicídios em Caxias antes de assumir a delegacia de Flores da Cunha.
"Cada mês que passa, pior fica"
A mãe do médico, Tânia Mara de Oliveira Lahm, 66 anos, aceitou se manifestar publicamente pela primeira vez. A perda de um filho sempre é dolorosa, mas a forma que o crime foi cometido, na frente da família, é um fardo a mais.
— A gente não pretende ficar quieto. Cada mês que passa, pior fica. Para nós, para as crianças (Guilherme tinha dois filhos, de um e três anos), a saudade vai aumentando. É um medo constante de sair sozinha numa rua e poder acontecer... Não existe explicação, não existe raiva que justifique para chegar num ponto desse. Nos sentimos ameaçados pela situação. Como aconteceu com ele, pode acontecer com qualquer um de nós — lamenta.
Tânia conta que o filho era batalhador e tinha alcançado os seus principais sonhos: trabalhar como médico e ter filhos.
— Trabalhava feito um doido para não deixar faltar nada para os filhos, para a esposa e para nós. Estava um pouco endividado porque recém tinha adquirido e mobiliado o apartamento, mas trabalhava muito para pagar. Era o sonho dele. Sempre que arrumava uma namorada, ele perguntava se ela topava ter filhos. Se dissesse que não, ele já descartava — lembra a mãe.
— Ele era muito devoto do trabalho, estava fazendo o que sempre quis. Às vezes, estávamos no domingo almoçando e ele saía mais cedo para ir visitar os pacientes. Ele era uma pessoa do bem, não tinha porque alguém fazer isso. Nestes seis meses, passaram o aniversário dele, ia completar 35 anos, e fez cinco anos da formatura dele. É muito difícil — lembra a irmã Iolanda Oliveira Lahm Seidel.
A família de Guilherme continua mobilizada aguardando por respostas. Para não deixar a história ser esquecida, duas manifestações já foram realizadas: na Rua General Mallet, onde aconteceu o crime, e na Praça Dante Alighieri. Advogados também foram contratados para ajudar na comunicação com a Polícia Civil.
— O que nos dizem é que estão investigando. Que é um grande quebra-cabeça, que já montaram quase todo, mas falta algumas peças que são as peças-chaves. Prefiro confiar no trabalho da polícia do que desacreditar. Mas, continuamos mobilizados. Não deixaremos esquecer — afirma a mãe Tânia.
Relembre o assassinato
:: O médico Guilherme de Oliveira Lahm foi assassinado na Rua General Mallet, no bairro Rio Branco, na noite de 27 de março. Na ocasião, ele, a esposa Suelen e a irmã dele, Iolanda, foram até os pavilhões da Festa da Uva para curtir um show sertanejo. Após, retornaram para casa da mãe dele para buscar os dois filhos, de um e três anos. Com ajuda da irmã, Guilherme carregou as mochilas e colocou os dois meninos nas cadeirinhas dentro da caminhonete. Foi neste momento que o assassino apareceu.
:: Um homem armado chegou a pé da Rua Germano Parolini, via para onde estava virada a traseira da Ranger. O homem passou pela irmã do médico e efetuou dois disparos para cima. Depois, atirou contra Guilherme — que foi atingido no peito e no ombro esquerdo. O médico tentou correr para dar a volta na caminhonete, em direção à porta do motorista, mas caiu em frente ao veículo e morreu no local.
:: As características sugerem que o assassino tinha informações da rotina da vítima e, possivelmente, foi contratado para cometer o assassinato. Imagens recolhidas de câmeras do bairro Rio Branco apontaram que mais dois homens participaram do assassinato. Contudo, as gravações não ajudaram a identificar os autores ou o veículo utilizado. A suspeita inicial era que o trio não fosse da Serra.
:: O assassinato do médico foi seguido de muitos boatos, justamente por ser uma pessoa conhecida e sem relação com o mundo criminoso. Uma das preocupações dos investigadores foi evitar este excesso de informações em apenas um sentido, o que poderia esconder outras hipóteses e beneficiar os autores.