É oficial: Caxias do Sul terá um campus da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O anúncio foi feito na manhã desta segunda-feira (10) pelo ministro da Educação, Camilo Santana, durante encontro do governo federal com reitores de universidades e institutos federais em Brasília. Além de Caxias, outros nove municípios brasileiros vão receber campus, contemplando as cinco regiões brasileiras, a partir de investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Universidades.
Santana, no entanto, não divulgou quais cursos serão oferecidos na Serra, nem a data de implantação do campus. Já o ministro de Apoio à Reconstrução do RS, Paulo Pimenta, informou à reportagem do Grupo RBS que as aulas estão previstas para começar em 2025.
Em Brasília, a deputada federal Denise Pessôa (PT-RS) e o deputado estadual Pepe Vargas (PT) acompanharam o anúncio do governo federal. Ambos lideram o movimento de articulação na Serra gaúcha para a implantação de uma universidade federal na região. De acordo com Denise, a escolha do local e quais cursos estarão disponíveis aos alunos será feita pelo Ministério da Educação, em parceria com a comunidade.
— Nós vamos acompanhar o assunto de perto, realizar audiências públicas para ouvir o que a comunidade quer, e considera melhor para a região e levar esses apontamentos e sugestões ao governo federal. Vamos construir a nossa universidade federal coletivamente. A nova universidade trará mais oportunidades de educação e desenvolvimento para nossa região — detalha a parlamentar.
O total de investimento do governo federal anunciado é de R$ 5,5 bilhões, dos quais R$ 3,17 bilhões serão utilizadas na consolidação de universidades, R$ 600 milhões na expansão das instituições e outros R$ 1,75 bilhão em hospitais universitários.
— Nós estamos falando de R$ 60 milhões em média (para cada campus novo) para a edificação e equipamentos, fora toda a ampliação de pessoal, de professores, de técnicos administrativos, para garantir o funcionamento dessas universidades — explicou o ministro da Educação.
"Queremos interiorizar", diz Lula
No encontro, o ministro da Educação detalhou que a escolha das cidades foi feita com base na comparação entre a quantidade populacional e o número de matrículas públicas na educação superior, buscando pelos locais com a menor cobertura de alunos em universidades federais.
Presente na reunião desde o início, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou que não houve critério político para a escolha dos novos locais, e afirmou que a intenção do governo federal é ampliar a oferta de ensino superior gratuito para mais regiões do país.
— Nós escolhemos os novos campi pelo vazio educacional, não teve critério político-partidário ou eleitoral. Na região que tem menos cursos, é lá que a gente vai fazer. O que nós queremos é interiorizar a possibilidade das pessoas estudarem. Eu acho que é preciso, eu estando na presidência da República, garantir que todas as pessoas tenham o direito de estudar em universidade — enfatizou.
Demanda histórica
Apesar de a necessidade de uma universidade federal ser unanimidade entre as lideranças da Serra, nunca houve um consenso sobre o formato para a implementação. Há quem imaginasse a construção de prédios para abrigar o campus do zero, outros defendiam a federalização da Universidade de Caxias do Sul (UCS), uma tese em pauta desde os anos 1970.
A extensão da UFRGS na Serra é debatida desde 2011, quando um abaixo-assinado reuniu 20 mil assinaturas em torno do pleito. Oito anos se passaram quando, em maio de 2019, prefeitura de Farroupilha e UFRGS assinaram um protocolo de intenções para implementação física de um escritório de inovação, a ser coordenado pelo Parque Zenit, parque científico e tecnológico da UFRGS. As partes chegaram a obter um terreno no município para a construção do escritório, o que, até hoje, nunca aconteceu.
Para a extensão, outra proposta sugerida é uma parceria com a UCS para abrigar os cursos federais na sua estrutura. Integradas e compartilhando espaço, as faculdades poderiam optar por não conflitar os cursos ofertados, o que chegou a sugerido pelo reitor da UFRGS em 2011, Carlos Alexandre Neto:
— Nós não traremos Medicina, não traremos cursos para Direito, Administração, para competir com o que já tem aqui (na UCS) — disse Neto, à época.
Mesmo assim, o prefeito de Caxias, Adiló Didomenico (PSDB), avalia que esta é uma boa oportunidade para que a parceria saia do papel, para que se chegue à "concordância de vários interesses".
— Recebemos com muito entusiasmo esse anúncio do governo federal da instalação de um campus da Universidade Federal e, quem sabe, seja o momento de fazer uma bela parceria com a Universidade de Caxias do Sul, aproveitando a estrutura dessa universidade, aproveitando a questão de laboratório, de pesquisa. Entendemos que traria uma economia e uma agilidade na instalação e, quem sabe, culminando na concordância de vários interesses — aponta Adiló, em vídeo publicado nas redes sociais.
A reportagem tentou contato com a reitoria da UFRGS e com o governo federal para esclarecer os detalhes da implementação da universidade na Serra, mas não obteve retorno até o momento.