Mais de 21 mil alunos voltam ao ambiente escolar na rede estadual de ensino de Caxias do Sul a partir desta segunda-feira (19). Das 56 escolas, há obras em quatro, e alunos de outras instituições ainda enfrentam os transtornos de começar o ano letivo ainda à espera de melhorias. A Escola Estadual Apolinário Alves dos Santos, no bairro Sagrada Família, segue interditada e na Abramo Pezzi, no Rio Branco, os alunos voltaram às aulas sem energia elétrica. A escola está sem luz desde 16 de janeiro, quando um temporal atingiu a rede de energia. Os alunos entraram no colégio que está às escuras, nesta segunda, e vão realizar atividades no pátio.
Com a interdição do Apolinário, o pátio do Evaristo de Antoni, no bairro São José, estava lotado de alunos logo no começo da manhã. Na porta de entrada, os uniformes se misturavam, mostrando a "fusão" entre os colégios.
A secretária Cristiane Brizotto, 48 anos, mãe de Maria Fernanda Brizotto de Souza, 16, afirma que esperava que o colégio já estivesse pronto para receber os alunos. Estudante do 2º ano do ensino médio, a adolescente não escondia o nervosismo:
— É um ambiente diferente do que ela está acostumada, com um entorno diferente na escola, e interfere na nossa rotina e na locomoção. É um transtorno para quase 600 alunos e toda a comunidade escolar de duas escolas. Por outro lado, com a diretora e toda equipe aqui, temos segurança de que ela está em boas mãos e o alívio de que não vai perder o ano letivo — ressalta Cristiane.
A apreensão era a mesma sentida pela almoxarife Daiane Kolcenti Albani, 37. Ela levou a filha Clara Sofie kolcenti, 15, para o primeiro dia de aula. A adolescente estudava na Escola Municipal de Ensino Fundamental Angelina Sassi Comandulli, no bairro Santa Fé e está matriculada no 1º ano do Ensino Médio do Apolinário. Nesta segunda, estava ansiosa pela troca de colégio.
— A Clara também vai começar a iniciação profissional em um empresa que fica perto do Apolinário, então toda a rotina dela estava esquematizada. Agora ela vai ter que se deslocar por mais tempo, ter menos tempo de almoço e ficar mais longe de onde eu trabalho também. Então essa mudança tem um custo de tempo e financeiro maior, além de gerar ansiedade. Estou aqui para tentar deixar ela mais segura e tranquila nesse primeiro dia de novidades.
O adolescente João Victor Duarte da Silva, 15, estava sorridente, mas também admitiu que estava ansioso.
— Quando fizemos a matrícula já sabíamos que o Apolinário estava em obras, mas a gente esperava que estivesse tudo pronto. O que me preocupa um pouco é esse volume de alunos numa escola só — ressalta o impressor gráfico João Abel Alves da Silva, 39, pai do adolescente.
O auxiliar de produção, Pablo Willian dos Santos, 35 anos, acompanhou o filho Bruno Fernandes dos Santos, 15. O adolescente se mudou do Montes Claros para morar com o pai, e o Apolinário era a escola mais próxima.
— Vou trazer eles nos primeiros dias para que ele se sinta mais seguro.
A equipe do Apolinário, acompanhada pela diretora Marili Rigon Zandoná, chegou por volta das 6h40min e colou cartazes para orientar os alunos. Logo depois, por volta das 7h10min, chamaram as turmas para que os estudantes fossem conduzidos para as salas. A vice-diretora Suelen Cristina Boek ressalta que, apesar dos transtornos, o sentimento era de alegria por rever os alunos e receber os novos.
— A gente está feliz de vê-los aqui, de ter essa oportunidade de a gente se reencontrar, mas também estamos apreensivas para ver como será esse retorno. A gente reduziu de cerca de 800 para 590 alunos no turno manhã e tarde devido à interdição da escola. Mas a nossa preocupação maior é com a aprendizagem deles. Vamos dar o nosso melhor — afirma.
Pais do Evaristo também demonstram ansiedade
Por volta das 7h30min foi a vez dos alunos do Evaristo se dirigirem às salas de aula. O metalúrgico Fabiano de Lima Machado, 42, acompanhou o filho Ronaldo Santos Machado, 16. Até o final de 2023, o adolescente estudava na Escola Municipal De Ensino Fundamental José Bonifacio, no bairro Pedancino.
— Soube hoje (segunda-feira) que são duas escolas em uma só. É o primeiro ano dele em uma nova escola e com estudantes de dois colégios. Claro que isso preocupa um pouco, mas tenho certeza que ele vai se dar bem porque é muito inteligente. Eu estudei aqui e ele vai seguir meus passos — conta o pai.
A auxiliar-geral Jussara Silveira, 34, é mãe de Samara dos Santos, 16. Ela também estava surpresa com a quantidade de alunos:
— Ela vem do Caic (EMEF Dolaimes Stédile Angeli) então está bem ansiosa porque não conhece ninguém. Fiquei ansiosa também, mas acredito que tudo dará certo — ressalta Jussara.
A diretora do Evaristo de Antoni, Ingrid Pereira Piccini, também demostra preocupação. Para se ter uma ideia, somando os estudantes da escola com os que estão matriculados no Apolinário, o número de alunos passou de cerca de 540 para 1130:
— Temos um retorno com outra escola, a organização se torna diferente, tivemos que perder vários espaços, como a sala de vídeo e sala de informática, porque eles precisavam de bastante salas. Agora temos duas gestões dentro de uma escola. Vamos ver o gente pode fazer. ao longo do ano.
Canteiro de obras no Cristóvão e manutenções paradas em três escolas
No Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza, na Avenida Júlio de Castilhos, no bairro Cinquentenário, há dois canteiros de obras para garantir a reforma do auditório e do ginásio. As obras eram esperadas há mais de 10 anos. A interdição do auditório, por exemplo, ocorreu pela falta de PPCI, em 2013.
Já o Colégio Imigrante, no bairro Bela Vista, a Escola Estadual Alexandre Zattera, no Desvio Rizzo, e a José Generosi, em Forqueta, também enfrentam problemas na estrutura. No Imigrante é esperada desde 2019 a reconstrução de um muro que cedeu na lateral da instituição. Da queda, a situação evoluiu para desabamentos do piso da quadra poliesportiva, que está interditada. A José Generosi segue interditada parcialmente por problemas elétricos, que ainda necessitam de projetos. As aulas serão realizadas na parte de alvenaria, enquanto o administrativo, a sala dos professores e a biblioteca não poderão ser utilizadas. A reforma do muro também segue à espera da ordem de serviço.
Já na Alexandre Zattera, os entulhos da reforma inacabada ainda estão no pátio, sendo que os trabalhos estão parados desde agosto de 2023. Segundo a Seduc, a obra foi abandonada pela empresa contratada. Assim, o contrato foi rescindido. Uma nova contratação está em andamento para a execução da reforma na cobertura, estrutura, esgoto e rede elétrica do colégio.
O que diz a Seduc
Atualmente estão sendo executadas intervenções no Cristóvão de Mendoza, na Escola Estadual de Ensino Médio Galópolis, na Abramo Randon e no Núcleo Estadual de Educação de Jovens e Adultos (Neeja). De acordo com informações da Secretaria de Obras Públicas do Rio Grande do Sul, há ainda sete instituições com contratos em andamento para as reformas entrarem em execução. Sobre a Apolinário Alves dos Santos, o Estado afirma que a secretaria de Obras Públicas já realizou um levantamento dos elementos técnicos para a contratação da obra, via dispensa de licitação. Esse modelo é previsto na nova Lei de Licitações. Depois de contratados, os serviços têm previsão de um mês para ficarem prontos.
Em relação a Abramo Pezzi, a titular da 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Viviani De Valle, afirma que tanto lá quanto a Matteo Gianella, foi feita uma obra de adequação na rede elétrica:
— A obra está concluída por parte do Estado. Nós já solicitamos a ligação da energia, já inclusive passou o prazo de sete dias, que era o prazo estipulado pela RGE, e a empresa ainda não fez a ligação. Estamos cobrando diariamente. A gente precisa retomar as aulas, que já estão acontecendo de forma organizada, mesmo sem energia.
A reportagem contatou a RGE, mas ainda não obteve retorno sobre o assunto.